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Fabien Frankel Peter Fisher - 11.out.22/The New York Times

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Sean T. Collins
The New York Times

Este texto inclui spoiler dos nove primeiros episódios da série.

Até hoje, Fabien Frankel não sabe exatamente como ele terminou escolhido para o elenco de "A Casa do Dragão". "Recebi um e-mail de meu agente que mencionava uma ‘série de TV sem título na HBO’", disse o ator. Ele foi convidado a fazer uma audição para o papel de um personagem chamado "Clint".

O ator inglês, absurdamente fotogênico, estava todo de preto e se recostou confortavelmente em um sofá na sede da HBO em Nova York, antes de continuar falando sobre seu personagem, Ser Criston Cole, um letal cavaleiro da guarda real. "Fiz a audição e não tive retorno, a não ser a informação de que eles estavam procurando alguém mais do tipo Jason Momoa para o papel. Isso certamente não me descreve, e eu não pensei mais sobre o assunto, na verdade".

Seis meses mais tarde, surgiu a informação de que uma prequela de "Game of Thrones" estava sendo preparada, e o papel lhe foi oferecido. "O que ainda não sei, e seria fascinante descobrir, é se eles não conseguiram encontrar alguém do tipo Jason Momoa, ou se decidiram mudar as instruções de seleção de elenco. Quando surgir uma oportunidade, eu talvez pergunte a eles".

A julgar pela maneira como as coisas vêm acontecendo em Westeros, Frankel terá tempo de sobra. No episódio mais recente da série, seu personagem, Ser Criston, deu o primeiro golpe no conflito interno da dinastia pelo controle de Westeros —conhecido como a Dança dos Dragões, em "Fogo e Sangue", o romance de George R.R. Martin que serve de fonte à história—, e em seguida colocou a coroa na cabeça do novo rei, o assustador Aegon 2º (Tom Glynn-Carney).

No livro, isso vale a Cole o apelido de "o fazedor de reis". Mas do ponto de vista de Frankel, no entanto, essa aclamação toda ainda não se fez sentir. Abaixo, trechos editados da conversa.

"A Casa do Dragão" é um enorme sucesso. Isso mudou alguma coisa em sua vida?
Minha vida em Londres é mais ou menos a mesma. Talvez eu esteja recebendo um pouco mais de telefonemas de meus agentes, e uma ligação semanal de meu irmão e amigos para conversar sobre os episódios. Mas meu dia a dia não mudou em praticamente nada.

Londres é uma boa cidade para você manter o ego sob controle, porque as pessoas tendem a ser bastante reservadas e pouco invasivas. Você ouve aquelas histórias todas de "eu nem consigo andar na rua", mas comigo nada disso acontece. Consigo contar nos dedos das mãos o número de vezes que pessoas na rua perceberam quem eu sou.

Ouvir isso me surpreende um pouco. Não sei se você reparou, mas você se tornou uma espécie de símbolo sexual, entre os fãs da série.
Não reparei. Quero dizer, suponho que fosse inevitável que quem quer que tivesse um romance com Rhaenyra [a princesa que seduz Cole, interpretada por Milly Alcock e, mais tarde, Emma D'Arcy], passasse por isso, mas posso lhe afirmar que, entre as pessoas que eu conheço, ninguém ficou deslumbrado.

Vamos falar sobre a jornada de Ser Criston de um lado do conflito para o outro. Quando ele se envolve romanticamente pela primeira vez com Rhaenyra, parece ser um sujeito um pouco idealista, um pouco ingênuo.
Eu nunca senti que ele fosse ingênuo. Senti que ele foi tirado de uma vida que compreendia e arremessado a uma vida que não compreende.

Ele é um soldado. No Exército, você não se torna um sargento ou capitão, simplesmente; é preciso trabalhar para se tornar sargento ou capitão. Em King’s Landing, tudo gira em torno de nomes hereditários, títulos, pessoas que não conquistaram o direito de estar em qualquer lugar. E aí você apanha aquele personagem, que nada tem em comum com todo esse mundo, e o coloca no círculo central [da corte]. Ele precisa de algum tempo para descobrir como as coisas funcionam.

E além disso, obviamente, existe uma escuridão dentro dele que um certo momento desencadeia, e depois disso Cole se torna o que ele é.

Por que ele reage tão fanaticamente quando Rhaenyra rejeita seu pedido de casamento e rebate com uma proposta indecente própria?
Não há nada de extraordinário nisso. Ele pediu a uma garota que fugisse com ele, e ouviu um não. Essa é a base. Não importa quem ela seja —os dois são praticamente crianças, muito jovens, e ele tem sentimentos muito fortes por ela. E ela responde que "não, mas vou mantê-lo por perto em surdina, para fazer o que preciso fazer", o que em si é um desrespeito.

Minha justificativa, e ela provavelmente tem muito de controverso, é que Rhaenyra poderia tê-lo deixado partir no final daquela conversa, ou em algum momento antes de seu casamento. Em lugar disso, ela o obriga a ficar com ela até o final. E isso o leva a mudar de lado. Fica muito evidente que ele tem um temperamento forte, que nós ainda não tínhamos visto. E é esse temperamento, por razões que ele acredita serem profundas, que faz com que ele mude de lado.

Gosto da maneira pela qual você expressou a situação antes, dizendo que existe uma escuridão dentro dele. E agora ela está muito mais perto da superfície do que costumava estar.
Sim. O amargor e a acidez daquele mundo se arremessam sobre ele. Você é aquilo que o cerca, você é as pessoas que o cercam. Ser Criston está rodeado por um grupo incrivelmente ambicioso de seres humanos muito maquiavélicos, cuja única ambição é o poder. E por fim chega o momento em que você diz a você mesmo que "bem, é essa a vida que eu vivo. É isso que sou agora. Afundei-me demais nisso tudo".

E você se torna o fazedor de leis, e é o primeiro a derramar sangue no conflito entre os chamados "verdes" e "negros", esmagando a cabeça do pobre lorde Beesbury (Bill Paterson). Foi um acidente, ou Cole o matou de propósito?
Não quero dizer. Se vier de mim, então a questão estará decidida, e eu prefiro que os fãs de "A Casa do Dragão", que são muito astutos, assistam e decidam por si mesmos.

Em seguida ele coloca a coroa na cabeça do Rei Aegon 2º, à vista do público. Cole é famoso, agora. Essa é uma situação que ele aprecia?
Eu acho que ele vê o que faz como seu dever, se levarmos em conta que jurou proteger Alicent, proteger aqueles meninos. Ele é quase uma figura paterna para eles. Criston Cole ensinou os meninos a lutar, e lhes ensinou respeito. Há aquele momento em que Aemond [irmão mais novo de Aegon, interpretado por Ewan Mitchell] está falando, e Criston não gosta da maneira que ele está falando, e diz algo como —não me lembro...

"Toda mulher é uma imagem da Mãe, e se deve falar dela com reverência".
Sim. Portanto, acho que esse é o seu dever, agora. Ele não quer ser um grande astro ou um homem muito famoso. Não é de sua natureza. Mas as coisas aconteceram como aconteceram.

É uma frase muito engraçada, se considerarmos aquilo que vimos e ouvimos de Criston.
Fico feliz por você ter achado graça, porque me lembro de pensar que era hilariante. Houve uma conversa entre Sara [Hess, a roteirista do episódio]; Clare [Kilner], nossa diretora; e eu, quando estávamos na Espanha filmando aquela cena, sobre como a linha deveria ser dita. Eu disse que a única maneira de dizê-la era como se fosse um gracejo. Quero dizer, ele não exatamente provou com suas ações que toda mulher é uma imagem da Mãe.

Aquela sequência serviu para construir a relação entre Criston e o irmão mais novo de Aegon, Aemond One-Eye. Há entre eles um respeito mútuo, mesmo entre personagens tão pouco confiáveis.
Criston vê Aemond em si mesmo, e a si mesmo em Aemond. Ewan e eu conversamos muito sobre isso. Nós passamos muito tempo juntos, circulando pela Espanha, discutindo a relação entre os personagens. Há uma verdadeira proximidade entre eles.

Eles também são os dois personagens mais bacanas do lado verde, para ser honesto.
Oh, companheiro, amo que você diga isso. Sou muito fã do time verde, e tenho muito orgulho dele. É mais ou menos assim que estou programado para pensar agora. Fico feliz por saber que há um pouco de amor pelos verdes, aí fora. Acho que somos uma força a ser considerada. É uma equipe boa e sólida. Eu apostaria na gente, em uma briga de rua.

Talvez a esta altura seja tarde demais para perguntar, mas será que alguma parte do Ser Criston ainda ama Rhaenyra?
[Sorriso melancólico.] O primeiro amor é o primeiro amor. Acho que todos sempre vão amar a pessoa pela qual se apaixonaram pela primeira vez. Você ama uma bela música desde a primeira vez que a ouve, e sempre a amará, mesmo que a tenha ouvido 100 vezes, porque você se lembra daquela primeira vez que a ouviu. Portanto, sim, ele sempre vai amar Rhaenyra.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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