'A Casa do Dragão': Novas protagonistas falam de luxúria, perdão e drinques
Emma D'Arcy e Olivia Cooke assumiram papéis de Rhaenyra e Alicent na série
Emma D'Arcy e Olivia Cooke assumiram papéis de Rhaenyra e Alicent na série
Inclui spoilers dos oito primeiros episódios de "A Casa do Dragão".
No momento em que Emma D'Arcy e Olivia Cooke estrearam, no sexto episódio de "A Casa do Dragão", série de estrondoso sucesso na HBO, os espectadores já as tinham visto. Bem, pelo menos tinham visto suas personagens.
D'Arcy e Cooke interpretam a princesa Rhaenyra Targaryen e a rainha Alicent Hightower, amigas de infância separadas por conta de uma disputa pelo poder e sobre quem herdará o Trono de Ferro do rei Viserys (Paddy Considine), pai de Rhaenyra e marido de Alicent.
Mas devido à estrutura incomum da história –a série cobre um período de décadas em sua primeira temporada, durante o qual Rhaenyra e Alicent crescem, se casam e têm filhos–, seus papéis foram interpretados primeiro por atrizes mais jovens, Milly Alcock e Emily Carey, nos cinco episódios iniciais. E à medida que se aproximava o momento da troca de elenco, D'Arcy foi ficando mais e mais nervosa.
"Acho que esse foi o aspecto de maior pressão em todo o trabalho que fizemos, até agora", disse D'Arcy, de Londres, em uma entrevista por telefone no começo desta semana. "O público vai receber você no papel em estado de luto, tendo acabado de perder a pessoa com quem passou cinco horas. Quanto mais nos aproximávamos de infligir esse sofrimento às pessoas, mais estressada eu me sentia".
Cooke encara as coisas de maneira um pouco diferente. "Aqueles foram os bons dias", ela disse. "Não estávamos diante de milhões e milhões de pessoas que assistem ao nosso trabalho semana após semana. Normalmente, quando você faz um filme, ele fica em cartaz por algum tempo e logo se vai".
"Mas ninguém assiste à série", interferiu D'Arcy, causando riso ruidoso nas duas atrizes –algo que aconteceu com frequência durante a conversa.
"Ninguém assiste" com certeza não é um problema enfrentado por "A Casa do Dragão", uma prequela de "Game of Thrones" que até agora vem fazendo sucesso digno de sua predecessora. A complicada relação entre as personagens de D'Arcy e Cooke é o principal motor da história, e esse aspecto central, somado a uma série de vídeos e de apresentações promocionais encantadoras, fez delas duas das pessoas mais populares do elenco. Até mesmo o drinque favorito de D'Arcy –"um Negroni Sbagliato com prosecco dentro"– tem um fã-clube online, agora.
Ao ver o quanto as duas atrizes se dão bem, é fácil esquecer que interpretam amargas inimigas. No final do episódio mais recente da série, houve uma indicação de que a guerra fria entre as personagens poderia enfim passar por um degelo. Mas, levando em conta a profecia incompreensível do rei moribundo e o sistema patriarcal que parece determinado a manter Rhaenyra e Alicent separadas, a paz renovada entre as duas parece estar em perigo. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
Rhaenyra e Alicent estão distanciadas desde o momento em que vocês duas começaram na série, mas há um momento, perto do final do episódio desta semana, em que a proximidade que existiu entre elas no passado parece ter sido retomada.
Cooke: Mesmo em fúria, ainda existe nelas um desejo de estarem o mais perto possível uma da outra. Eles não se viam há muito tempo, desde que Alicent atacou Rhaenyra [durante o episódio 7]. Alicent vive sozinha naquele castelo com todos aqueles homens, e provavelmente vem guardando aquilo dentro de si, e pensando a respeito há muito, muito tempo.
D’Arcy: Tivemos uma conversa maravilhosa, antes de gravar o episódio, sobre o fato de ele mais ou menos se passar em uma casa para pacientes terminais [que abriga o moribundo rei Viserys]. A proximidade da morte pode alterar as prioridades de uma pessoa; ela oferece um espaço para o perdão onde antes este não existia. Ao começar as gravações, queríamos realmente garantir que aquele momento no final do episódio fosse honesto, que os espectadores conseguissem comprar a ideia de que aquelas duas pessoas tivessem chegado àquele ponto. Não é um momento de "tudo está perdoado", mas é um gesto de perdão.
Cooke: Elas na verdade estão se vendo pela primeira vez desde que eram crianças —provavelmente pela primeira vez desde que Rhaenyra descobriu que Alicent se casaria com seu pai. É a união no luto, e o reconhecimento mútuo, por parte delas, da criança interior da interlocutora.
Parece um pequeno momento de liberdade para duas personagens que foram forçadas pelos homens a assumir determinados papéis em suas vidas.
Cooke: Estamos falando de personagens que estão sob vigilância o tempo todo. Elas estão sempre operando sob as restrições daquela camisa de força, e precisam aprender a manobrar dentro dela. No episódio mais recente, a questão é a disposição de correr riscos e aproveitar uma oportunidade que Alicent talvez nunca mais tenha –um desejo desesperado da parte dela de contar com uma amiga e aliada.
D’Arcy: Não é coincidência que as figuras masculinas com poder dentro da corte tenham criado condições nas quais a relação de Alicent e Rhaenyra se torna insustentável. Não é coincidência que as estruturas patriarcais busquem dividir e quebrar relacionamentos femininos fortes. Elas seriam as aliadas perfeitas, porque ninguém mais é capaz de realmente compreender o que é ser a parte oprimida. A opressão estrutural do patriarcado opera de uma forma muito multiforme e viscosa. Esse entendimento não pode ser conjurado em alguém que não vive aquela situação.
Milly e Emily falaram sobre a possível presença de uma centelha romântica ou sexual sublimada entre Rhaenyra e Alicent. Será que isso motiva as personagens, mesmo quando adultas?
Cooke: Eu não sei se Alicent sabe como é sentir esse tipo de coisa, agora. Há camadas e camadas de repressão; sexualidade e luxúria provavelmente se tornaram uma camada pré-histórica, sedimentar, a essa altura. Do ponto de vista de Alicent, não acho que ela seja muito consciente daquilo que sente, e ela não sabe o que a leva a buscar se aproximar de Rhaenyra novamente.
D’Arcy: Esse tipo de energia erótica estava muito presente no relacionamento inicial entre as duas. Acho que Rhaenyra é motivada principalmente por um profundo desejo de ser conhecida e vista. A dor e o sofrimento são tão dominantes que eu não sei se há espaço, neste momento da história, para uma interação consciente com a luxúria sexual, mas ela definitivamente anseia pela velha intimidade física de que as duas compartilhavam. É diferente daquilo que ela compartilha com seu atual marido e filhos. Uma forma diferente de contato.
Olivia, vi muita discussão quanto ao final do episódio mais recente, quando Viserys confunde Alicent com Rhaenyra e lhe conta sobre a profecia de seu ancestral Aegon, o Conquistador, quanto a um messiânico "príncipe prometido". Ela acredita erroneamente que Viserys está se referindo a seu filho, Aegon. Alicent acredita nisso de verdade ou está apenas tentando ouvir aquilo que gostaria de ouvir?
Cooke: Conversamos muito sobre isso. Surge um enorme alívio quando Alicent disse a Rhaenyra que "você será uma grande rainha". Ela está muito cansada da luta e de carregar dentro de si aquele nó de amargura e ansiedade. E ela decide simplesmente abrir mão, reconhecer que Rhaenyra é a herdeira. E isso é bom.
Quando Viserys diz aquilo, eu acho que ela realmente pensa que o rei está falando de Aegon, o filho dela. E acho que isso a deixa furiosa, como se pensasse, "mas depois de tudo que aconteceu?" No entanto, Viserys está em seu leito de morte; aquele foi seu pedido, e por isso ela deve seguir adiante. Não sei se isso é uma maneira inconsciente de tentar encontrar a melhor interpretação para o acontecido, mas foi essa minha intenção na cena.
Emma, para mudar radicalmente de assunto, há um vídeo em que você diz a Olivia que sua bebida favorita é "um Negroni Sbagliato com um prosecco dentro", e ele se tornou sucesso viral no TikTok e no Twitter, e inspirou diversas reportagens. Você sabia disso?
D’Arcy: A primeira coisa que pensei foi que seria engraçado estar bebendo um deles agora, mas não estou. [Risos] Fico pensando comigo mesma que preciso contar para minha mãe que me transformei em meme, para ver se ela fica feliz por mim, mas primeiro eu teria que explicar o que é um meme, e decidi que isso é esforço demais.
Fico bem envergonhada. Porque, naquelas entrevistas, quando a gente passa seis horas sem parar falando com jornalistas, eu sinceramente só estou tentando fazer Olivia dar risada.
Cooke: [Risos.] Sério?
D’Arcy: Não; é claro que estou tentando fazer a próxima campanha da Campari.
Cooke: Eu logo pediria "dez milhões de libras, por favor".
Falando não como seus personagens, mas como vocês mesmas: Quem, você preferiria ter do seu lado, Alicent ou Rhaenyra?
Cooke: É engraçado: O ponto da história toda é que aquelas duas mulheres foram forçadas a se afastar, e as pessoas foram forçadas a tomar partido. Agora a internet toda está fazendo exatamente a mesma coisa, mesmo que a "A Casa do Dragão" seja essencialmente uma história cautelar. Eu prefiro pensar que eu não as colocaria uma contra a outra. [Pausa.] Mas, sim, provavelmente Rhaenyra. [As duas atrizes riem.]
D’Arcy: Não sei a resposta a essa pergunta. Sou casada com meu tio. Quem sou eu para dizer alguma coisa?
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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