Criadora da série 'Minx', da HBO, recorda seleção de pênis: 'Queria todos'

Um ano e meio atrás, quando chegou a hora de selecionar o elenco para o episódio piloto da série "Minx: Uma Para Elas", Ellen Rapoport, a showrunner, avaliou centenas de fotos de figurantes, que já tinham sido separadas em pilhas divididas por categoria.

"Por exemplo: pequenos, grandes, tortos, prepúcios", recordou Rapoport. "Eu queria todos eles". As fotos não eram dos rostos dos atores. "Minx: Uma Para Elas", uma comédia ousada passada no sul da Califórnia na década de 1970, estreou na HBO Max no início do mês.

Ophelia Lovibond estrela como Joyce, uma feminista linha dura que se envolve com Doug (Jake Johnson), que edita revistas eróticas leves como Secretary Secrets e Feet Feet Feet. Doug convence Joyce de que eles deveriam colaborar em uma nova revista, Minx, uma publicação erótica para mulheres modelada em títulos reais dos anos 70, como Viva e Playgirl.

Uma revista erótica precisa de alguém no pôster central, claro. "Não estou falando de uma benga esfregada na cara", diz Doug. "Algo com mais classe". Por isso o piloto inclui uma cena de alguns minutos de duração na qual 18 homens disputam o privilégio de posar para o pôster, nus da cintura para baixo.

Ao som de "Mr. Big Stuff", de Jean Knight, eles tiram a roupa. Desfilam. Dançam. Mostram posições de caratê. A montagem é charmosa. É divertida. E é tão sofisticada quanto qualquer cena que inclua aquilo que Luke Persiani, um dos atores participantes, define como "a manobra do helicóptero".

Mas mesmo em um momento no qual a genitália masculina se tornou uma imagem mais comum em programas de TV prestigiosos, a cena se destaca pela ampla variedade em exibição, bem como pelo grau incomum de realismo. "Se alguém precisar entrar em contato, vou estar me recuperando dos 18 pênis que encontrei esta semana", escreveu Rapoport no Instagram depois que a filmagem terminou.

Embora as redes de TV aberta americanas tenham regras severas sobre o que pode e o que não pode ser mostrado, seios e traseiros nus há muito tempo são presença frequente nos canais premium de TV a cabo.

Mas até recentemente, nudez frontal masculina era bastante rara, especialmente se comparada à preponderância de seios em séries como "Game of Thrones" e "Boardwalk Empire", o que inspirou um sketch intitulado "A HBO Deveria Mostrar Pintos", no canal College Humor em 2013.

A HBO atendeu ao pedido, assim como outros serviços de streaming e canais. "Acho que o ponto alto do pênis foi 2014, porque vi tantos exemplos deles naquele ano", disse Maria San Filippo, autora de "Provocateurs and Provocations: Screening Sex in 21st Century Media". "A tendência não parava de se acelerar e expandir, em número e ampla variedade".

Tanya Horeck, professora universitária que pesquisa sobre gênero e sexualidade na mídia contemporânea, fez uma lista sumária de séries recentes que mostraram nus frontais completos: "Sense8", "Euphoria", "Scenes From a Marriage", "Sex/Life", "Succession", "Pam & Tommy", "The White Lotus". Ela também poderia ter acrescentado "The Leftovers", "Looking", "Outlander", "Shameless", "Togetherness", "Easy" e "The Affair".

Como explicar essa onda? Em entrevistas, acadêmicos e coordenadores de intimidade mencionaram motivos, entre os quais a onipresença da pornografia; a presença mais forte de showrunners mulheres, queer ou não binários; o impacto do movimento #MeToo; a presença de coordenadores de intimidade nas filmagens; e a necessidade de capturar a atenção do público em uma paisagem de mídia saturada.

Mas nem toda nudez é igual. Enquanto seios são um ponto focal de desejo, um pênis flácido pode ter um aspecto mais cômico ou patético. "Eles são meio engraçados", disse Rapoport. E os padrões atuais só permitem que pênis flácidos sejam mostrados, em situações sexuais.

O que significa que, enquanto mulheres nuas sempre costumaram ser usadas para fins decorativos ou para provocar excitação, homens nus em geral aparecem para aprofundar o retrato de um personagem ou para levar adiante a narrativa. Ou pelo menos para ajudar a fazer humor.

Pedir a uma atriz que faça uma cena topless pode parecer uma demanda mais amena do que pedir a um ator que apareça nu da cintura para baixo. Mas embora quase todos os seios mostrados em cenas como essas sejam reais –ainda que artificialmente ampliados em certos casos–, os pênis não são.

A maioria dos que aparecem em cenas de produções comerciais de TV ou cinema são próteses de silicone, e muitas vezes são estranhamente grandes. "É muito raro ver um pênis normal e só", disse Horeck. E é aí que entra "Minx: Uma Para Elas".

Parte do trabalho do episódio piloto era mostrar a Joyce o mundo da Bottom Dollar Publications, a editora de Doug, e o conteúdo que a empresa produz. E parte dessa revelação acontece quando Joyce entra no escritório pela primeira vez e vê uma mulher vestindo apenas perneiras de couro. E uma peruca de pelos púbicos.

Mas boa parte da história é contada por meio da montagem de imagens de teste de modelos masculinos. "Ela é necessária", disse Rapoport. "Ajuda o espectador a entrar na cabeça de Joyce e quase o leva em uma viagem pelo mundo do pênis em companhia dela". A cena permite que a personagem compreenda a variedade e mesmo os atrativos da genitália masculina. Será que teria sido possível realizá-la sem nudez?

"Com certeza", disse Rapoport. "Mas certamente não seria tão boa". Para criar a cena, os produtores contataram agências que se especializam em figurantes, e pediram que enviassem homens que se sentem confortáveis em cenas de nudez. Stephen Conte escolheu participar.

"Vi a cena como oportunidade de me expressar de forma artística", ele disse. Conte e os demais candidatos subiram fotos explícitas para um portal seguro. As fotos eram uma maneira de garantir que a genitália masculina parecesse apropriada para o período –os padrões de cuidados pessoais mudaram ao longo dos anos. E também ajudaram os produtores a garantir uma variedade de formas, idade e colorações. O objetivo nunca foi a perfeição.

"Eu queria que toda a série tivesse uma fundação sólida, real", disse Rapoport. "Tentei fazer o mesmo com relação aos pênis". E eles são reais, ainda que "Minx: Uma Para Elas" use próteses em outros momentos da série. "Os pênis são delicados e irritantes", explicou Rapoport.

"É preciso manter continuidade de uma tomada a outra". Mas porque cada um dos pênis na grande sequência inicial ficava menos de um segundo na tela, não houve necessidade de próteses desproporcionais e dispendiosas.

Depois de contratados, os atores receberam um telefonema da coordenadora de intimidade do piloto, Liz LaMura, que explicou a eles o que seria necessário. Quando chegou a hora de filmar a cena, em dezembro de 2020, eles chegaram ao set do sul da Califórnia e receberam roupas vistosas da década de 1970. Em seguida, veio a maquiagem, quando necessária.

"Tive de ficar de joelhos para empoar pênis", disse Carleigh Herbert, que comanda o departamento de maquiagem da série. "Tudo é parte do processo". Quando chegou a hora de gravar a cena, no final de um dia de 16 horas de trabalho, o set entrou em regime reservado, o que significa que todo pessoal não essencial foi convidado a se retirar e os monitores externos foram desligados. "Todo mundo foi muito respeitoso", disse LaMura.

Os homens se alinharam. Alguns pediram um minuto para aquecimento. (Estava frio no set.) Conte foi voluntário para ser o primeiro. "Sou o primeiro a mostrar o cannoli", ele me disse, com orgulho, esclarecendo que é italiano. "Meu coração estava batendo mais rápido do que o normal", ele acrescentou. Com certeza tive um pouco de medo de filmar a cena. Mas hesitei? Claro que não. Sou profissional".

Lovibond, Johnson e três outros atores estavam no set para a cena de Conte, mais longa que a de alguns outros figurantes e envolvendo algum diálogo. Depois eles saíram. As reações deles aos outros figurantes foram acrescentadas mais tarde na edição.

Àquela altura, a equipe de produção só tinha meia hora de tempo restante na locação. Os homens foram instruídos a entrar rapidamente e tirar a roupa. Persiani diz que isso foi um alívio. Ele estava usando roupas de baixo dos anos 70, muito apertadas. "Foi uma libertação", ele disse.

LaMura e a diretora do episódio, Rachel Lee Goldenberg, encorajaram os homens a se manterem em seus personagens e os ajudaram a relaxar. "Nós nos divertimos com eles, pedindo que balançassem a coisa ou a girassem, perguntando se eram capazes de dançar", disse LaMura.

O cronograma era tão apertado que os três últimos figurantes entraram juntos, usando máscaras KN95, e só foram filmados da cintura para baixo. Nudez pela nudez nunca foi o objetivo, disse Rapoport. "Jamais pensei que faltavam pênis na televisão", ela disse. Mas já que a história pedia por eles, ela está contente por tê-los conseguido.

Persiani também está contente. Ele já tinha reparado na disparidade entre nudez feminina e masculina. "Por isso, se eu puder fazer alguma coisa, pequena ou grande –espero que a maioria das pessoas considere grande– para equilibrar um pouco a situação, fico feliz por fazê-lo", ele disse.