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A atriz Roselyn Sánchez NYT

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Max Gao
The New York Times

Mais de 37 anos depois que Ricardo Montalbán concluiu sua atuação como o senhor Roarke, cortês anfitrião de um resort enigmático em que os desejos dos visitantes eram realizados, “Ilha da Fantasia” está retornando uma vez mais às redes de televisão.

Mas desta vez a versão nova, que surge um ano depois que a história foi adaptada para o cinema como filme de terror e demolida pelos críticos, chega à rede Fox de TV com mulheres dos dois lados da câmera.

Criada por Elizabeth Craft e Sarah Fain, a nova “Ilha da Fantasia” estreou na semana passada nos Estados Unidos —e não há previsão de chegada ao Brasil. Ela traz Elena Roarke (interpretada por Roselyn Sánchez), uma sobrinha-neta do Roarke de Montalbán como uma mulher que deixa para trás a vida em Nova York e se torna a sofisticada supervisora da ilha, na qual ela faz realizar os maiores desejos de seus hóspedes, mas também os ensina que aquilo talvez não seja o que eles precisam.

“Elena era uma mulher comum, estudante de neurobiologia, estava muito apaixonada, noiva, à espera do casamento. Ela não queria aquela responsabilidade, só queria ter uma vida normal”, disse Sánchez em uma entrevista recente. “Mas carrega um sobrenome e um legado maiores do que ela”.

O original de “Ilha da Fantasia” durou sete temporadas, de 1978 a 1984, na rede ABC de televisão, e nas palavras de Sánchez “fez da realização de desejos um fenômeno cultural”. Uma retomada em 1989, com Malcolm McDowell no papel de Roarke, durou só uma temporada. Outra tentativa de repaginar a ideia, em 2018, não passou do estágio de desenvolvimento.

Mas na metade do ano passado, executivos da Sony Pictures Television procuraram a Fox com a intenção de buscar uma nova abordagem para a série. Eles terminaram aceitando a proposta de Craft e Fain, veteranas parceiras como produtoras de TV e roteiristas, conhecidas por seu trabalho nas séries “Angel”, “The Shield” e “Lie to Me”.

“Era com certeza uma ideia intimidante porque nós assistíamos a ‘Ilha da Fantasia’ quando meninas e tínhamos fortes lembranças de ficar em casa para ver o senhor Roarke e seu fiel escudeiro, Tattoo [interpretado por Hervé Villechaize]”, disse Fain, que é showrunner da nova versão com Craft. “Mas amávamos tanto a série que não demoramos a nos convencer de que aquela era uma oportunidade realmente incrível”.

Craft disse que, em Sánchez, a equipe de produção encontrou uma pessoa com a combinação perfeita de “humor, calor humano, compaixão e autoridade natural”. Para a atriz porto-riquenha, a série, filmada em sua terra de origem, oferecia uma chance de rever parentes e muitos dos membros de equipes de filmagem com quem trabalhou no começo de sua carreira.

A produção deu uma injeção financeira de ânimo a Porto Rico, que continua a se recuperar de uma sucessão de desastres naturais e da pandemia da Covid-19, contribuindo com mais de US$ 54 milhões (R$ 288 mi) para a economia local nos três últimos meses.

“É realmente importante para a ilha, para eles e para mim”, disse Sánchez, que optou por adiar sua estreia como diretora em favor de gravar os dez episódios da primeira temporada da nova “Ilha da Fantasia” em sua terra natal.

Em uma entrevista por telefone, de Porto Rico, Sánchez, mais conhecida por seu trabalho nas séries “Without a Trace” e “Devious Maids”, falou sobre a pressão que surge quando você toma o lugar –e calça os emblemáticos sapatos brancos— de Montalbán e sobre a representação dos latinos em Hollywood. Abaixo, trechos editados da conversa.

Nos vídeos promocionais da série, você menciona que era fã do original. Quais são suas memórias mais vívidas de assistir à série, quando menina em Porto Rico?
Aqui, a série passava dublada em espanhol. Nasci em 1973 e a série surgiu na década de 1970, e por isso eu era bem jovem. Mas aquele momento em que o personagem Tattoo soava o sino e dizia “el avión, el avión” está muito vivo em minha memória. Você precisa levar em conta que, para os latinos, Ricardo Montalbán era como que parte da realeza —o fato de que ele fosse o ator principal que carregasse uma série inteira e o fizesse tão bem, e com tanto sucesso. Ter a oportunidade de interpretar basicamente o mesmo personagem e levar adiante o legado de Roarke é um sonho e também reconheço a tarefa como uma responsabilidade. Mas é algo que abraçarei com todo meu coração e espero que as pessoas gostem de mim no papel tanto quanto gostavam dele.

Como é que a nova versão homenageia o original, mas ao mesmo tempo estabelece uma identidade própria?
A premissa é essencialmente a mesma. É sobre a realização de desejos; sobre crescer como ser humano; sobre realizar os sonhos das pessoas. Os hóspedes vêm à ilha –eles têm desejos, têm sonhos, o que quer que seja—, e a ilha os ajuda a realizar uma jornada que tem magia e que pode realizar esses desejos.
Mas o fato de que o papel principal é feminino é uma prova de que as showrunners queriam fazer algo um pouco mais atual. As diretoras, muitas das chefes dos departamentos, as showrunners... são todas mulheres, por trás e na frente das câmeras. Algumas liberdades criativas foram tomadas, e elas vão elevar o material, especialmente o fato de que temos pessoas vindas de minorias nos papéis principais, nos papéis de comando. É uma forma de acompanhar os tempos atuais.

Por que agora é o momento ideal para uma nova adaptação de “Ilha da Fantasia”? O que diferencia essa tentativa das anteriores?
Por causa de tudo que está acontecendo no mundo neste exato momento. O mundo e especialmente os Estados Unidos estão em uma área cinzenta, em um estado de indecisão agora e acredito que as pessoas estejam procurando escapismo, coisas que sejam positivas. As pessoas querem ver céus azuis, querem ver esperança quanto ao futuro. Creio que as pessoas desejem ver minorias. A inclusão é um tópico muito importante hoje e nós, pessoas de todas essas diferentes etnias que costumam ser pouco representadas, estamos batalhando ao máximo.

Você fez sua estreia profissional como atriz no filme “Capitão Ron, o Louco Lobo dos Mares”, de 1992, e este é seu primeiro papel principal em uma produção para rede de TV. Qual foi o aspecto mais desafiador de sua carreira como atriz até este momento?
Tive sorte porque sempre trabalhei de forma muito consistente. Mas pessoas como eu são rotuladas por sua aparência. Sou latina –pareço muito latina– e falo da maneira que falo. Isso abre diversas portas, mas fecha outras. É um constante jogo de avanços e recuos e a única coisa que foi um pouco difícil para mim.
Veja, eu já fiz segundos, terceiros, quartos e quintos papéis em filmes e séries. Esta é a primeira vez que posso dizer que meu rosto vai estar no cartaz e sem dividi-lo com ninguém. Sou a atriz principal da série. E isso aconteceu para mim aos 48 anos de idade, algo pelo que só posso agradecer. Depois de 30 anos, as pessoas continuam querendo trabalhar comigo e reconhecem meu valor.

Há poucas series com artistas principais latinos na televisão. Como você acha que essa questão deveria ser enfrentada?
Precisamos de mais executivos latinos no poder. Se não tivermos representação, não podemos esperar que nossos rostos sejam vistos na tela. Precisamos que os latinos nos assistam também quando colocamos produtos no ar. Precisamos de muita gente assistindo. Se os latinos não apoiarem nossos programas será a perfeita desculpa para os executivos dizerem que "bem, nós tentamos e não funcionou". Assim, existe uma combinação de muitas coisas que precisam se alinhar.
Quando o assunto é a questão étnica latina, estamos enfrentando uma corrida de etnias e ficando para trás. Não sei exatamente o que está acontecendo. Há muita representação para os negros. Os asiáticos estão se tornando realmente poderosos no setor porque eles apoiam as coisas que os representam, e o conteúdo deles é fenomenal. Já nós, latinos, temos o talento, temos o desejo, temos o poder aquisitivo. É algo que somos capazes de fazer. Só precisamos de uma oportunidade, precisamos do conteúdo certo e, com alguma sorte, as coisas vão mudar.

Tradução de Paulo Migliacci

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