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Teyonah Parris Diwang Valdez 15.fev.2021/The New York Times

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Leigh-Ann Jackson
The New York Times

Se você teve dificuldades iniciais para entender o conceito de “WandaVision”, e seu retrato do pesar pós-Vingadores disfarçado em homenagem a sitcoms clássicas da televisão, saiba que não está sozinho.

Teyonah Parris, uma das estrelas que sugiram na série da Marvel, também teve dificuldade para se acomodar à história. A verdade é que ela não entendia, no começo. Nos preparativos para a audição em 2019, ela recebeu diálogos para decorar, mas não foi informada sobre o contexto da história ou sobre quem era sua personagem.

"Descobri que tinha conseguido o papel", diz Parris, recordando sua empolgação inicial por estar se tornando parte do elenco da Marvel. "Mas qual era o papel? Eu não fazia ideia."

Lançado em episódios semanais no serviço de streaming Disney+ –a primeira temporada se encerrou no dia 5 de março–, a série revela lentamente um mistério que gira em torno da feiticeira Wanda Maximoff (interpretada por Elizabeth Olsen) e o androide Vision (Paul Bettany), um casal de super-heróis que encontrou fim trágico no penúltimo filme dos Vingadores.

Agora reunido, o casal parece viver uma visão ligeiramente demente da felicidade caseira que caracterizava diversas séries famosas de TV –de trapalhadas em preto e branco que lembram “A Feiticeira” a cenas que rompem as convenções do humor televisivo tradicional e lembram séries modernas como “Modern Family”.

Em meio a todas as mudanças de canal da série –podemos defini-las assim–, vai se tornando cada vez mais claro que o ambiente idílico em que o casal, seus vizinhos e a personagem de Parris, Geraldine, vive, em um subúrbio de Nova Jersey, resulta de um feitiço lançado pela mente pesarosa de Wanda.

No mundo real, distante da imaginação da feiticeira, Geraldine na verdade é Monica Rambeau, uma agente de inteligência determinada a reconduzir Wanda à realidade. Ao longo do caminho, a lista de tarefas de Monica inclui: processar o fato de que ela e metade da população da Terra estão desaparecidos há cinco anos; lidar com a notícia de que sua mãe morreu nesse meio-tempo; passar por um campo de força sobrenatural capaz de alterar o DNA; e enfrentar uma segunda feiticeira, mais ameaçadora.

"Quando li o roteiro", diz ela, "minha reação foi, OK, uau. Isso é louco, e maravilhoso, e... calma lá! Como é mesmo que funciona?" Parris, 33, estava no set em Atlanta, em uma pausa das filmagens de "They Cloned Tyrone", uma nova série da Netflix.

Em conversa por vídeo no mês passado, ela tentou recordar os detalhes de sua iniciação na Marvel, mas teve de interromper a conversa algumas vezes para rememorar os detalhes. O truque, ela explica, era falar muito devagar para não deixar escapar qualquer segredo do Universo Cinematográfico Marvel, ou MCU, ao contrário do que outros atores já fizeram em entrevistas.

Mas ela admite considerável dose de paranoia (durante dois meses, por exemplo, achou que sua escalação para o elenco podia ser uma brincadeira de mau gosto, porque o nome dela não tinha sido anunciado), seguida por muitas lágrimas de alegria (ela caiu no choro ao ver seu rosto pela primeira vez em um cartaz no estúdio Disney).

"Sempre foi um sonho meu ser uma super-heróina da Marvel", diz. "Os fãs já tinham me escolhido para interpretar Monica Rambeau, no Twitter, anos atrás, e por isso já tinha pesquisado sobre a personagem."

Aqueles que acompanham os detalhes do MCU reconhecerão a personagem Monica Rambeau do filme “Capitã Marvel” (2019), no qual Akira Akbar interpretava Monica quando criança, a filha precoce de Maria Rambeau (Lashana Lynch), melhor amiga da personagem-título.

Parris voltará a interpretar a versão adulta da personagem na continuação do filme, que deve sair em novembro de 2022. Nascida na Carolina do Sul, Parris estudou na Governor’s School for the Arts and Humanities, naquele estado, e depois na Juilliard School, incentivada por pais que apoiavam seu desejo de se tornar atriz.

Ela diz que seu pai e mãe instilaram nela "uma ingenuidade –uma abertura e crença em que qualquer coisa é possível". "Sempre naveguei pela vida carregando isso no coração", afirma.

Seu primeiro grande papel foi como Coco Conners, no filme “Dear White People” (2014), de Justin Simien. Depois de vê-la interpretar aquela personagem calculista e obcecada pelo sucesso social, Spike Lee a escalou para o papel principal de “Chi-Raq”, a adaptação de “Lisístrata” que ele dirigiu em 2015.

O currículo dela na TV inclui passagens por "Survivor’s Remorse" e "Empire". Parris também teve uma participação recorrente na série “Mad Men”, da AMC –foi seu primeiro trabalho com Matt Shakman, o diretor de “WandaVision”. "O que vi naquele trabalho foi a mesma coisa que vi a cada dia em 'WandaVision'", disse Shakman, em referência à passagem de Parris pela quinta temporada de “Mad Men”.

“Teyonah combina brilhantemente planejamento e precisão, de um lado, e o instinto do momento, do outro. Ela domina comédia e drama com a mesma facilidade, dos momentos singelos ao desempenho físico forte."

Ela exibiu postura, um humor rápido e um senso de força interior, nos seus papéis anteriores. Como Dawn Chambers, a orgulhosa secretária de Don Draper (Jon Hamm), ela desbravou território novo como a primeira empregada negra na agência de publicidade de “Mad Men”, Sterling Draper Cooper Pryce. Em “Survivor’s Remorse”, ela estrela como a cerebral (e arrivista) Missy Vaughn, a desbocada mulher de um agente de esportes.

Parris empresta a mesma graça e garra a Monica, mesmo quando está sendo arremessada pelo ar por forças místicas ou fazendo o parto dos miraculosos bebês gêmeos de Wanda no piso de uma sala de estar inspirada pela do seriado “The Brady Bunch”.

“Havia muitos requisitos a satisfazer neste papel”, diz Jac Schaeffer, criadora de “WandaVision”. “Precisávamos de uma atriz que pudesse incorporar o otimismo e a vitalidade da jovem Monica e ao mesmo tempo transmitir a profunda tristeza de uma mulher adulta que lamenta a morte da mãe –e além de tudo isso, ela precisaria ser parte do elenco de uma sitcom clássica”.

“Ela atingiu todas as notas dramáticas de uma mulher lançada ao seu pior pesadelo”, acrescenta Schaeffer. "Mas basta um mínimo sorriso e podemos vislumbrar a menininha travessa que ainda existe por baixo daquilo tudo."

Ao se comparar a Monica, Parris diz que compartilha da ambição e da natureza audaciosa e intrépida da personagem. “Mas a curiosidade...”, acrescenta. "Sabe aquele momento em que ela vê o campo de força e decide tocá-lo, em vez de recuar? Não acho que eu compartilhe dessa curiosidade com ela."

“Sou enxerida –quero saber o que está acontecendo”, diz. "Mas não quero saber a ponto de me aproximar de alguma coisa tão bizarra."

A despeito de sua confusão inicial sobre "WandaVision", Parris se deixou atrair pela profundidade de Monica, diz, e pelo fato de que, apesar de ser um personagem secundário, ela é apresentada "como um ser humano completo, nuançado".

"Ela está lá, por natureza, a fim de servir a uma história maior, a história de Wanda e Vision", afirma Parris. "Mas eles realizaram um grande trabalho, em minha opinião, e conseguiram garantir que ela seja uma pessoa completa, com suas dificuldades e desejos".

Parris se instruiu sobre os antecedentes de Monica lendo quadrinhos nos quais a personagem tinha participações importantes. Ela já tinha algum conhecimento sobre referências televisivas retrô, porque quando era criança assistia a muitos seriados antigos na sessão Nick at Nite do canal Nickelodeon. E tinha assistido a quase todos os filmes da Marvel.

"Sou a pessoa que vai porque tem vontade de ver as coisas voando, explodindo e brilhando", diz ela sobre sua mania de ir ao cinema. Agora é ela que voa.

Depois do lançamento do revelador sétimo episódio, no qual Monica exibe os poderes que acaba de descobrir, fãs correram ao Twitter para elogiar sua primeira aterrisagem como super-heroína: um punho cerrado pousado com força no solo, olhos atentos e ferozes. Parris amou filmar a cena.

"Fiquei tão empolgada que acho que exagerei –ainda estou com uma dorzinha no quadril depois de fazer a cena", diz Parris. "Eu deveria ter deixado a dublê fazer mais, mas queria muito atingir aquela postura."

Levitação e olhos luminescentes à parte, é aquilo que Monica Rambeau personifica que mais comove a mulher que a interpreta. "Para mim o que importa realmente é a representação pela qual eu ansiava quando era jovem", diz Parris, se referindo à falta de mulheres parecidas com ela na ficção científica, fantasia e histórias de super-heróis que consumia na infância.

"Quando você vê essas personagens que a fazem sentir poderosa, que a fazem sentir que tem a capacidade de fazer coisas que jamais imaginou, é importante ver diferentes raças e gêneros refletidos naquele espaço."

Ela sorri ao recordar um elenco repleto de atores negros fazendo papéis de super-heróis, no cinema, em 2018. "Para mim, como adulta, ver ‘Pantera Negra’, aquele nível de empoderamento e de comunidade que senti –que todos sentimos!", diz.

“Você sente ter sido visto –fico honrada e empolgada por levar isso adiante." Monica Rambeau já tem um emoji como hashtag oficial no Twitter, que a mostra com sua pele marrom e cabelos crespos. Perguntada se estava preparada para ver sua figura reproduzida em bonecos de ação e fantasias de cosplay, Parris bateu palmas entusiasticamente para acompanhar sua resposta: "Estou pronta!".

"Estou mais que pronta para ver bebês vestidos de Monica Rambeau no Halloween", diz. "Meus sobrinhos e sobrinhas querem saber quando vão poder comprar suas fantasias."

Embora perguntas sobre a filmagem da continuação de "Capitã Marvel" tenham sido respondidas com um seco "sem comentário", Parris falou com mais liberdade sobre sua vontade de trabalhar de novo com Nia DaCosta, a diretora do filme.

As duas já trabalharam juntas em "A Lenda de Candyman", uma refilmagem de terror produzida e roteirizada por Jordan Peele, que deve sair em agosto. Quando as filmagens desse trabalho terminaram, Parris não sabia que voltaria a colaborar com a diretora tão cedo.

"Trabalhar com Nia DaCosta, que vai ser a primeira diretora negra de um filme do MCU", diz Parris, com um suspiro deliciado. "Estou realmente feliz por poder fazer parte de algo assim."

Tradução de Paulo Migliacci

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