Cineasta reconstitui assassinato da mãe em série: 'Tinha medo de esquecê-la'
Madison Hamburg investiga familiares em 'Assassinato em Middle Beach'
Madison Hamburg investiga familiares em 'Assassinato em Middle Beach'
Há exatos 11 anos, no dia 3 de março de 2010, Barbara Hamburg foi esfaqueada na frente de casa, que fica num bairro litorâneo da cidade de Madison, em Connecticut (EUA). Quem quer que tenha cometido o crime, não deixou rastros. Até hoje, ninguém foi indiciado pelo crime. No entanto, diversas pessoas da família dela teriam motivos para fazê-lo.
E é aí que entra o filho de Barbara, Madison Hamburg, 29. O cineasta fez um documentário sobre o caso, "Assassinato em Middle Beach", lançado no final do ano passado pela HBO e disponível na HBO Go. Em quatro episódios, ele reconstitui o caso e questiona familiares sobre o possível envolvimento no caso.
Ele passou cerca de oito anos fazendo essa investigação, sem contar para quase ninguém. No processo, acabou descobrindo coisas —inclusive sobre a própria mãe— que preferia ter deixado enterradas.
"Eu estava com medo de perder a memória dela, de não ser capaz de fechar meus olhos e vê-la", explica em entrevista ao F5 sobre por que tomou a decisão de gravar o documentário. "Senti que era uma forma de preservar e imortalizar a memória, conversando com meus familiares sobre ela e conhecendo quem ela era."
"Assim que comecei a fazer perguntas, percebi que estava sofrendo por alguém que eu realmente não conhecia", espanta-se. "Eu conhecia a mãe arquetípica, e não a Barbara, então fiquei obcecado por entender a identidade dela. A série se tornou muito mais sobre família e a dor causada por um evento central que fraturou a vida de muitas pessoas."
Ele diz que o relacionamento com a mãe teve altos e baixos, mas no geral foi sempre muito bom. "Eu fui o primeiro filho e ela foi a minha super-heroína até mesmo na adolescência, quando eu me rebelei muito", lembra. "Passei por momentos difíceis com a minha mãe, mas acho que no final do dia ela era minha melhor amiga."
Madison admite que não foi tarefa fácil ficar voltando a um acontecimento que lhe causou tanto sofrimento, porém acredita que teve um ponto positivo. "Eu sinto que esse processo foi como uma perda de inocência para mim", afirma.
"Ver o que aconteceu com ela, andando pela cena do crime, criou um fechamento para mim", diz. "Eu perdi a minha realidade quando minha mãe morreu, o mundo se tornou um lugar onde pessoas podem ser assassinadas. A série me ajudou a aceitar isso."
"Claro que é doloroso. Eu me perguntei muitas vezes: 'Isso é saudável?'. Eu me pergunto até hoje se é bom ou não, se não está ofendendo à minha família ou a mim, por que estou fazendo isso e por quem estou fazendo", revela. "Levar o público a esse processo, fazer eles examinarem também essas lutas é o que eu queria fazer."
Ele lembra que, quando a mãe morreu, preferiu não falar sobre o assunto com pessoas que não fossem extremamente próximas. "Eu não queria ser o garoto cuja mãe foi assassinada", conta. "Eu não queria que isso me definisse. Acho que a série foi uma forma de contar o que aconteceu comigo em uma escala mais pública para, em vez de fugir do que aconteceu na minha vida, processar e fazer algo a respeito."
Entre os que foram cogitados como possíveis assassinos estão pessoas muito próximas a ele, como a própria irmã, a rebelde Ali; o pai dele, Jeffrey; e a tia, Conway —alguns não sabiam que estavam sendo gravados. Só nas filmagens ele descobriu, por exemplo, que a mãe fazia parte de um esquema de pirâmide que acabou evoluindo para algo mais perigoso.
"Foi muito difícil porque eu sabia o que significava fazer aquelas perguntas na frente de uma câmera", afirma. "Porém, eu senti que se não perguntasse assim talvez não tivesse recebido uma resposta honesta deles."
A conversa mais complicada de todas foi com o pai, Jeffrey Hamburg. Ele estava se divorciando de Barbara quando ela foi morta. Os dois teriam uma audiência na Justiça no dia do assassinato, mas a polícia nunca encontrou provas que o ligassem ao crime.
"O resto da minha família assistiu ao documentário quase um mês antes do lançamento, então tiveram algumas semanas para processar como foram retratados", conta. "Foi realmente um alívio compartilhar isso com eles, mas também aterrorizante porque você nunca sabe como algumas pessoas vão reagir."
Já com o pai, ele não tem mais contato. "A última conversa que tive com meu pai está no documentário", revela. "Tentei ligar para ele para contar sobre a série e acabei deixando uma mensagem de voz. Em termos de nosso relacionamento, a bola está do lado dele. Estou pronto para ouvir respostas, mas não terei um relacionamento com alguém que não seja totalmente honesto comigo."
Com o sucesso da série documental, ele espera que surjam novos fatos que possam levar as autoridades a reabrirem o caso. Ele também criou um site (https://barbarahamburgtips.com) para receber denúncias. "Desde que foi ao ar o primeiro episódio, começaram a chegar informações quase diariamente", avalia. "A notoriedade ajuda na pressão sobre a aplicação da lei"
Ele também diz que passou a receber muito apoio de pessoas que se sentiram tocadas pelo que viram. "Recebi muitas mensagens incríveis de apoio e de pessoas falando sobre seus próprios casos, de pessoas falando que não eram capazes de articular como estavam se sentindo após terem entes queridos assassinados. Isso tem sido realmente motivador e gratificante."
O diretor diz acreditar que isso tem a ver com a forma como ele se colocou no documentário. "Contar uma história da perspectiva humana e não focar no fato cria um maior potencial de empatia", diz. "Espero que todos tenham ligado para as próprias mães depois de assistir."
Para o futuro, ele não descarta uma segunda temporada com os desdobramentos do caso. "É muito cedo para falar sobre isso, mas há uma tonelada de arquivos de casos e com certeza vou continuar trabalhando a partir da perspectiva investigativa", afirma.
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