Temuera Morrison fala sobre interpretar Boba Fett em 'The Mandalorian'
Personagem ganhou destaque na segunda temporada e deve ter título próprio
Já faz quase 40 anos que os espectadores viram Boba Fett, o temível caçador de recompensas da saga “Star Wars” original, despencar no Grande Poço de Carkoon, onde ele supostamente foi devorado pelo Sarlacc.
Mas a morte é muitas vezes um estado temporário em “Star Wars” e, depois de seu final memorável (ainda que doloroso) em “O Retorno de Jedi”, Boba Fett reapareceu, muito vivo, em romances, quadrinhos e outras mídias, tendo sobrevivido àquela queda aparentemente fatal.
“The Mandalorian”, a série do serviço de streaming Disney+ que se passa no universo de Star Wars, também vem preparando um retorno mais completo do enigmático Boba Fett. O personagem foi mostrado em participações curtas em episódios recentes. Em “The Tragedy”, Boba Fett teve papel central quando sai em perseguição do personagem-título (Pedro Pascal), para recuperar a armadura que perdeu.
Em “The Mandalorian”, Boba Fett é interpretado por Temuera Morrison, um veterano dos filmes “Star Wars”. Morrison havia interpretado Jango Fett, um mercenário de uniforme prateado, em “Star Wars - Ataque dos Clones”. É ele que oferece o modelo genético para o exército de clones da República, e para seu filho, Boba, futuro mercenário e inimigo implacável de Han Solo.
(Morrison aparece em versões múltiplas em “Star Wars - A Vingança dos Sith”, no qual ele interpreta diversos soldados clonados; ele também fez as vozes de Jango e Boba Fett em diversos videogames da série “Star Wars”, e sua voz foi adicionada retroativamente às cenas de Fett em “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”.)
Morrison, que também trabalhou em filmes como “Once Were Warriors”, “Moana” e “Aquaman”, falou na sexta-feira sobre vestir o manto de Boba Fett e de seu histórico na franquia “Star Wars”. Abaixo, trechos editados da conversa.
Há quanto tempo você estava esperando a oportunidade de voltar a “Star Wars”?
Sempre havia muita coisa online sobre a possibilidade de um filme sobre o caçador de recompensas na série “Star Wars”, e quando vi os novos filmes saindo, fiquei imaginando se eles incluiriam Jango Fett na história. Meu agente e eu conversamos sobre isso, imaginando quando me chamariam. Mas eu logo deixava de pensar nisso. Hoje em dia, as escolhas deles são muitas. Poderiam chamar outra pessoa para o papel. Poderiam escolher um rosto novo. Ou The Rock. Fico muito agradecido por alguma coisa ter surgido, depois de tanto tempo.
O que aconteceu quando você foi informado de que o criador da série, Jon Favreau, e o produtor executivo Dave Filoni queriam conversar com você?
Eu nem sabia direito sobre o que era “The Mandalorian”, mas sabia que Jango e Boba tinham sua história com o Mandalorian. Na época, eu estava em Los Angeles, para uma reunião sobre outro filme, e fiquei agradavelmente surpreso quando me ligaram. Cheguei adiantado à reunião – estava tão empolgado que cheguei duas horas mais cedo –, e vi desenhos conceituais na parede. Vi uma imagem que se parecia comigo, e pensei “tenho certeza de que esse sou eu”. Mas mesmo assim eu não queria me empolgar demais.
Sobre o que você conversou com eles na reunião?
Eu fiquei ouvindo - não discuti coisa alguma. Ouvi e assenti, falando pouco. Eles obviamente tinham suas ideias sobre o que desejavam fazer, e devem ter dito que gostariam que eu fizesse o papel de novo. Mas eu estava tão nervoso que nem consegui entender muito que disseram. Eu me limitei a ficar repetindo que “uau, isso é ótimo”. Foi só quando eu entrei no carro depois da reunião que comecei a me perguntar se aquilo ia mesmo acontecer. E, como você viu, terminou acontecendo, sim.
Eles falaram sobre você ser um Boba Fett diferente, mais experiente do que vimos nos filmes anteriores de “Star Wars”?
Sim. Quando encontramos Boba, ele está bem desgastado, passou por muita coisa. Ele é um sobrevivente, mas está esgotado. Agora é hora de descobrir mais sobre o que faz com que Boba funcione. Será que ele é algo mais que um homem simples tentando encontrar seu caminho na galáxia? Ele está cansado de lutar? Está cansado de tanta matança?
A única coisa com que consigo me relacionar é que eu mesmo sou um cara bem maduro, e as coisas sempre mudam. Às vezes você está em Hollywood, em todas as revistas e jornais. E às vezes você termina trabalhando em uma loja de fish and chips na Nova Zelândia, onde todos aqueles jornais e revistas velhos são usados para embrulhar a comida. Você se torna uma notícia velha. (Risos.)
Sua maquiagem e figurino o ajudam a encontrar o personagem?
Eu estava fazendo minha pesquisa – que cara esse sujeito vai ter, que voz ele vai ter -, e quando eles começaram a aplicar a maquiagem pensei comigo mesmo que “bem, cá está ele”. Fizemos diversos testes de maquiagem, e trabalhei bastante com o maquiador Brian Sipe. Quando vi algumas das cicatrizes em meu rosto, pensei que, “bem, talvez a voz dele deva ser mais roufenha, talvez suas cordas vocais também tenham sido afetadas”. E aí você coloca o figurino e isso lhe dá uma sensação de poder. O figurino faz com que você se sinta como o Super-Homem. Quando coloquei a armadura pela primeira vez, a sensação era a de que tudo estava certo.
Como você quis incorporar seu histórico cultural ao papel?
Venho da nação maori da Nova Zelândia, o povo indígena –somos os polinésios de lá– e queria levar aquele espírito e aquela energia, o que nós chamos de wairua. Fui treinado na dança da minha cultura, que nós chamamos de haka. Também fui treinado no uso de algumas de nossas armas, e por isso eu já sabia como manusear algumas armas em minhas cenas de lutas, e como usar o bastão que meu personagem carrega.
Como é que você terminou escalado para a trilogia anterior de “Star Wars?”
Eu agradeço a George Lucas por ter me escolhido como Jango Fett, para começar. Filmamos em Sydney, e por isso ele usou alguns atores da Austrália e Nova Zelândia. Não foi muito depois de “Once Were Warriors” que me encontrei com o pessoal de seleção de elenco de “Star Wars”, e sinto que esse é o filme que me lançou em Hollywood. Não foi grande sucesso de bilheteria aqui nos Estados Unidos, mas o pessoal do cinema o viu, e isso abriu algumas portas novas para mim, com certeza.
O que você se lembra de sua passagem pelo set de “Ataque dos Clones”?
Eu me diverti demais. Quase matei George, porque tinha a mania de cantar no set, ficava brincando com as armas, desgastando o figurino. Eu me diverti demais. Mas pensei que “cara, se eu tiver outra oportunidade de fazer isso, vou me dedicar de verdade e fazer o melhor trabalho que puder”.
Lucas explicou a você que o escalaria para fazer todos aqueles outros personagens clonados de Jango Fett?
Mesmo depois de concluir o processo de filmagem, ainda restava trabalho a fazer – eu recebia telefonemas de George, e ele dizia que “OK, preciso de você no estúdio para travar mais algumas falas”. Um momento eu faço uma voz, e no seguinte outra coisa, e depois o comandante Cody, e toda uma força de ataque de elite. As coisas foram em frente, não paravam mais, mas isso não me incomodou.
Os fãs de “Star Wars” costumam dizer a você que a morte de Jango Fett foi abrupta demais?
Sim. Bem, eu sei o que eles sentem. Assisti a “Ataque dos Clones” em Dallas, e fiquei muito empolgado por ver o filme com aquele novo som Dolby na sala de cinema. Eu estava começando a curtir meu papel quando, opa, terminei morto. “Uau, isso foi bom. Lá vou eu”. (Pausa.) “Mas tudo bem”. Minha jornada em “Ataque dos Clones” foi bem curta. Mas isso aconteceu muito tempo atrás. Agora estou de volta.
Desculpe, porque sei que você vai ter de responder a essa pergunta vezes demais, mas “The Tragedy” não explica como Boba Fett sobreviveu ao seu encontro com o Sarlacc. Alguém explicou isso a você? Você sabe de que modo o personagem conseguiu sobreviver?
Não, não sei. Há muitas pontas soltas, e não sou um desses caras que sabe demais sobre a história toda. Os fãs de “Star Wars” têm conhecimento melhor sobre o que aconteceu, e de que maneira ele pode estar vivo. Eu achava que ele estava em uma armadilha, naquele lugar. Consigo descobrir mais a respeito se procurar na internet.
Houve alguma conversa sobre você retornar ao papel de Boba Fett, seja em “The Mandalorian”, seja em outros projetos de “Star Wars” – por exemplo, em uma série sobre o personagem?
Terei de esperar para ver. Acho que muito depende de como as coisas vão transcorrer nesta temporada, mas na verdade não sei. Eu quis dar tudo que tinha naquele (episódio), oferecer um vislumbre do que posso fazer. Há espaço para que isso vá para algum lugar. Espero estar incluído.
Você espera contracenar com o Baby Yoda, em algum momento?
Baby Yoda provavelmente é o maior ator de Hollywood, no momento, mas jamais trabalhei com ele de perto, ou com as pessoas que o operam. Eu o usei como isca, de um modo não muito bacana. Mas espero poder conhecê-lo e que a gente consiga fazer amizade.
Tradução de Paulo Migliacci
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