Porchat explora universo feminino e foge da 'lacromédia' na 2ª temporada de 'Homens?'
'Série dá esperança de que os homens têm solução', diz Lorena Comparato
'Série dá esperança de que os homens têm solução', diz Lorena Comparato
Aborto, diferença salarial, traição, envelhecimento e estereótipos sexuais. A segunda temporada de "Homens?", série da Amazon Prime Video que critica atitudes machistas embaladas na comédia, estreia nesta terça-feira (14) no canal pago Comedy Central, com foco ainda maior no universo feminino e sua relação com o masculino.
Mas com uma ressalva de Fábio Porchat, que atua como roteirista e um dos protagonistas. "Apesar de falar de um monte de assunto delicado, sensível e importante, uma coisa que sempre ressalto é que não é uma ‘lacromédia’. A gente não quer lacrar, a gente quer fazer graça."
Para ele, a intenção é abordar temas comuns do dia a dia, mas que são pouco debatidos, e mostrar o quanto o machismo faz mal tanto aos homens quanto às mulheres. Sem papas na língua, ele garante que nenhum tema até hoje foi censurado: "Queremos pegar assuntos que são difíceis de falar".
Um dos destaques será o personagem de Gabriel Godoy, Gustavo, que passará por um "crescimento inconsciente e ingênuo" em sua relação com Natasha (Giselle Batista). "Veremos um pequeno amadurecimento", diz o intérprete, ao acrescentar que Gustavo será o responsável por abordar tabus como o fio-terra e a brochada.
Ainda, Pedrinho (Rafael Logam) se apaixonará por uma mulher transexual; enquanto o médico cadeirante Pedro (Gabriel Louchard) tratará, junto à Mari (Miá Mello), de relacionamentos abertos e ciúmes. E, claro, o personagem do humorista Rafael Portugal, o Pau, voltará repaginado para dar vida aos debates internos de Alexandre (Fábio Porchat).
"Quando a gente vai dar remédio para cachorro, mistura a pílula na comida [...] Estamos fazendo um pouco disso: embalando [assuntos difíceis] com comédia", diz Porchat. "Mas não podemos deixar cair na 'aula', no 'vamos ensinar', porque fica chato."
Tiago Worcman, vice-presidente de Programação e Conteúdo do Comedy Central América Latina, complementa o pensamento. "A gente fala de temas tão importantes, tão polêmicos, com um humor muito legal. É uma série super inteligente, mas super acessível. É entretenimento com várias camadas."
Lua Blanco (de “Rebelde”) e o comediante Yuri Marçal trazem ainda mais fôlego para esta nova temporada ao integrarem o elenco. Blanco entrará no 4º episódio como Maria para viver um romance com Alexandre, seu amigo de infância, mas acaba se deparando com um dilema de traição --mas, diferentemente do que se costuma ver, a traição será por parte da mulher, e não do homem.
Já Yuri Marçal será Gael novo colega de casa de Alexandre, e o responsável por abordar o conceito da pansexualidade, expressão dada às pessoas que sentem atração sexual ou romântica por pessoas, independente de seu sexo, identidade ou gênero.
Apesar da diferença na sexualidade, ele afirma que seu personagem está muito mais para o "amigo da mesa de bar que todo mundo precisa", do que para um ditador de regras. "Foi muito divertido fazer esse contraponto, com uma geração diferente da do Alexandre", diz Marçal. "Ele tem um lugar de simpatia e de paciência", acrescenta Lorena Comparato, ao afirmar que o personagem abordará temas como racismo e cotas.
"As personagens femininas tem muita importância nesta 2ª temporada. "Todas empoderadas, elas têm seus objetivos de transformar o que o machismo estrutural não deixa a gente seguir”, afirma Gigi Soares, que assina a direção da atração com Johnny Araújo.
No final da primeira temporada de “Homens?”, Natasha descobre que está grávida --e ninguém sabe qual dos quatro protagonistas é o pai. Na segunda, diz a intérprete Giselle Batista, ela se coloca em um lugar ainda maior de independência e explora sua relação com Gustavo, abordando temas como liberdade sexual e independência financeira das mulheres.
Já no segundo episódio da nova leva, eles abordam o aborto e reproduzem, inclusive, uma clínica onde se realiza o procedimento tão comum no universo feminino. As cenas de maior protagonismo exigiram ainda mais energia de Batista, que desenvolve sua relação "sensível e bonita" com o personagem Gustavo.
"Costumo brincar que na 1ª temporada a Natasha era alguém que você conhecia numa festa e conversava superficialmente. Na segunda você leva a leva para casa, toma um vinho e conversam sobre a vida. Vamos descobrir o universo dela e quem ela é agora", conta Giselle Batista.
"As polêmicas que ela levanta são temas que já debati muito e tenho opinião formada sobre. Não acho que ela fala sobre nada que eu ainda não me perguntei na vida, ao contrário, a Natasha poderia ser do meu grupo de amigas", completa.
Batista elogia o fato de a personagem ser "papo reto" e se expressar de maneira clara e franca. Quando todos os homens se assustam com a novidade da gravidez, ela é a responsável por reuni-los e falar com clareza sobre os passos seguintes.
"A série é super crítica, coloca o homem diante desse mundo bem mudado, com mulheres fortes e cheias de opinião", diz Batista. "Tenho medo de dar spoiler, mas o jeito como termina a segunda temporada abre um leque gigante de novos temas para Natasha. Ela pode e deve levantar tudo que for raro e importante ao universo feminino."
"Essa série também é legal para as mulheres terem um pouco de esperança e verem que, talvez, esteja acontecendo uma onda de reestruturação dos homens", complementa Lorena Comparato, que brinca fazer o papel de "fada sensata" da série, com direito a dar torta na cara nos homens. "Essa série dá um pouquinho de esperança de que os homens tem solução."
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