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Cinema e Séries
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Metade brasileira, atriz Barbie Ferreira de 'Euphoria' pede para falar de sexualidade na série

'Em minha vida pessoal, sou muito gay'

A atriz Barbie Ferreira vive a personagem Kat na série "Euphoria", da HBO
A atriz Barbie Ferreira vive a personagem Kat na série "Euphoria", da HBO - Amy Dickerson/NYT
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Ilana Kaplan

Do outro lado do gramado do cemitério Hollywood Forever, a atriz Barbie Ferreira, 22, que interpreta Kat na série “Euphoria”, viu sua colega de elenco e “melhor amiga”, Hunter Schafer. As duas se tornaram inseparáveis trabalhando juntas na série da HBO sobre adolescentes vivendo entre drogas e promiscuidade em uma escola de segundo grau no sul da Califórnia. Schafer e Ferreira correram uma na direção da outra e se abraçaram.

“Huntie, baby, você está uma graça”, disse Ferreira. Ferreira e Schafer estavam se encontrando com amigos para assistir a “Um Crime Entre Amigas”, filme cult dos anos 90, em uma sessão ao ar livre no cemitério, parte da Cinespia, uma série de filmes exibidos no local. 

Vestindo um maiô verde limão sob um top John Paul Gaultier cor de tangerina e com mangas compridas, bermudas azuis brilhantes e o cinto amarelo de um roupão de banho usado como “choker”, Ferreira estava a caráter para a ocasião. Ela comentou que seu look era “a cara do filme”.

Ferreira vem recebendo muita atenção por seu estilo pessoal, e disse que aprendeu a recorrer à roupa como forma de aceitar seu corpo. É algo que ela tem em comum com seu personagem em “Euphoria”. “Eu também me odiei por tempo demais, como muitas meninas novas fazem, e aí precisei aprender a não cair nessa armadilha e tomei uma decisão muito consciente de não fazê-lo”, disse Ferreira, sentada em um sofá antes do começo do filme.

Depois de passar muito tempo em sua adolescência lendo blogs “thinspo” -que enfatizam e cultuam a magreza, chegando ao ponto de elogiar a anorexia-, Ferreira disse que precisou se ajustar à maneira pela qual ela pensava em comida. “Cada microproblema do meu corpo era ampliado em minha cabeça”, ela disse. “Minha dismorfia era extrema”.

Ferreira descobriu que, entre outras coisas, usar látex e couro a fazia se sentir poderosa e confortável consigo mesma. “Foi como perceber que não havia como esconder, e eu era gorda, mesmo”, ela disse.

Nascida em Nova York, Ferreira se mudou para East Los Angeles cerca de um ano atrás, depois de ser escalada para “Euphoria”. A cidade parece ser boa para ela. “Tenho plantas, uma área ao ar livre, mais sol, mercados orgânicos, e nada de precisar correr para o metrô”, ela disse.

Criada por sua mãe brasileira, uma tia e a avó, em Queens e Nova Jersey, Ferreira começou a fazer teatro aos sete anos no Variety Boys & Girls Club, em Queens, e aos 10 anos já sabia que queria ser atriz. “Comecei a trabalhar como modelo para me tornar atriz”, ela disse. 

Ferreira enviou fotos ao departamento de elenco da American Apparel aos 16 anos, e se tornou uma das mais conhecidas modelos cheinhas da empresa; mais tarde, ela ganhou fama na internet ao posar sem retoques para uma campanha da marca Aerie, da American Eagle. Em 2017, ela começou a participar do “How to Behave”, um programa de etiqueta do canal Vice, e depois trabalhou como atriz convidada na série “Divorce”, da HBO, fazendo um pequeno papel.

Em junho de 2018, ela conseguiu sua maior oportunidade: o personagem dela em “Euphoria”, Kat Hernandez, escreve “fan fiction” sobre a banda One Direction e quer transformar sua reputação -e explorar sua sexualidade- depois de perder a virgindade. “Spoiler alert”: parte de sua evolução envolve trabalhar como “cam girl” em segredo.

Atuar foi refrescante para Ferreira, porque, ela disse, “o trabalho como modelo fazia com que eu sentisse que meu corpo físico era um adereço”. E Ferreira se reconheceu “de todas as maneiras” no personagem Kat. Embora a atriz tenha se preocupado com a possibilidade de que alguém mais conhecido em Hollywood ficasse com o papel, ela sabia que precisava persistir durante um processo de seleção que se provou longo. 

Ferreira disse que fez seis audições antes de conseguir o papel. “Eu lia os diálogos e pensava que aquela personagem era muito parecida comigo, eu precisava fazer aquele papel. Sentia muita necessidade. Eu sabia que poderia dar profundidade à personagem porque a compreendia muito”. Ainda que ela tenha sofrido muita ansiedade, “a HBO escolheu pessoas muito autênticas para a série”. Ela disse que “a escolha ficou entre outra atriz e eu e foi aí que passei por mais ansiedade. Eu estava quase implorando uma chance”.

Ao longo da primeira temporada, Kat encontra poder em se tornar “dominadora”, um papel sexual que Ferreira quase assumiu aos 18 anos, quando estava sem dinheiro e morava em Brooklyn. Ela estava hospedada na casa de um amiga por um período prolongado, e uma de suas colegas de apartamento temporárias era dominadora profissional. “Fiquei pensando que precisava de dinheiro e aquilo parecia divertido. Eu gostaria de humilhar homens por dinheiro”, ela disse. Mas preferiu não aceitar o trabalho. “Aquela menina chegava em casa e contava ter faturado US$ 500 para arrancar os dentes de um cara”.

Ferreira disse que uma cena foi especialmente desafiadora em termos emocionais, para ela. Kat diz ao seu “crush” que está interessada nele romanticamente. “Eu não consegui me fazer chorar”, ela disse, entre tossidas. “Às vezes eu travo, como tudo mundo”. “Desculpe”, ela acrescentou. “Engasguei com meu Juul”.

Ferreira já está pensando em novas linhas narrativas para Kat na temporada dois. A atriz recentemente se declarou “queer”, em entrevista à “Out Magazine’. “Em minha vida pessoal, sou muito gay”, ela disse, e gostaria de ver seu personagem em “Euphoria” explorar mais sua sexualidade. “Acho que Kat é um pouco ‘queer’, mas isso pode ser só minha perspectiva”, ela disse. Ferreira também quer que a personagem tome “más decisões”. Por quê? “De que outra maneira você aprende?”, ela perguntou. “Não aprende. Até o dia em toma uma boa decisão”.

Já Ferreira está contente com suas decisões, e a orientação de sua carreira. Sua mãe concorda, disse Ferreira. “Ela está feliz por eu não estar morando em um porão no Bronx e vendendo maconha”.
 
The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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