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'Toy Story 4': Tom Hanks fala dos prazeres e perigos de dublar Woody

'É um material de alto conteúdo emocional. Nem dá para chamar isso de animação', diz

Tom Hanks na premiere de "Toy Story 4" - Kevin Winter/Getty Images/AFP
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Darryn King

Em 1995 Tom Hanks deu sua voz a Woody, o boneco xerife dos filmes “Toy Story”, da Pixar. Desde então, Hanks se tornou avô, enquanto os filmes evoluíram para converter-se numa meditação reflexiva sobre o amadurecimento e o passar do tempo.

Em “Toy Story 4” encontramos Woody mais uma vez partindo para uma nova etapa, com algo que –até agora, pelo menos— parece indicar que será um final conclusivo.

Entrevistado pelo jornal norte-americano The New York Times, Hanks falou da franquia e o que ela tem a dizer sobre a família, além dos prazeres e das exigências singulares de representar um brinquedo infantil. A seguir trechos pinçados da conversa.

O processo de gravar as falas de Woody mudou muito?
Ele ainda grita muito. “Caras, vamos lá! Temos que sair! Não podemos simplesmente deixá-la aqui! Vamos lá, pessoal!”. Woody é de alguma maneira o guia que mostra a todos os presentes qual é sua responsabilidade. E ele sempre teve os nervos à flor da pele.
Às vezes chego ao final de uma sessão de quatro ou cinco horas de gravação com o diafragma dolorido, simplesmente porque o desafio é apresentar cada opção possível para cada fala. É cada versão possível de indignação, de espanto, de decepção, de mágoa, de pânico, de perplexidade e alegria. Por sorte, como eu não fumo nem bebo demais, minha voz soa mais ou menos igual.

Como se compara ver Woody lá fora no mundo com ver seu próprio rosto num cartaz de filme?
Estávamos na Disneylândia com as crianças. Você sabe que sempre fazem desfiles e coisas do tipo; estava havendo um evento desse tipo, uma coisa enorme, e Woody fazia parte. Estávamos lá, assistindo, e minha filha –que tem mais de 30 anos, vale mencionar— começou a chorar a primeira vez que vimos.
Falei a ela: “É bacana, não?”. Mas ela comentou que Woody vai fazer parte da Disneylândia para sempre, como Mickey. De certo modo eu sou Woody.

Você desenvolveu um afeto especial pelos filmes “Toy Story”?
Acredite se quiser, eu realmente acho que são importantes. É um grupo de brinquedos muito díspares, mas há esse senso tanto da família verdadeira quanto da família mais ampla, algo que é representativo da vida de qualquer pessoa, incluindo de criancinhas que podem simplesmente adorar a ideia de brinquedos que ganham vida. Este “Toy Story” fala de seguir adiante, sabe. O processo de formar casais e de partir para novas etapas da vida, algo que não pode deixar de acontecer na vida. Porque vivemos sempre sendo transformados.

Grande parte dos filmes trata da família. Sendo pai, como você encara isso?
São filmes magníficos justamente por isso. Há aquele momento (em “Toy Story 3”) quando a mãe de Andy está no quarto vazio dele e uma emoção toma conta dela. É a mãe chorando o fato de que seu menino cresceu e não é mais seu garotinho. Eu nem estou naquela cena, mas fiquei super comovido. Você pensa “Como é que eles conseguiram animar esta cena e criar algo que é tão profundamente verdadeiro?”.
Esse é o mesmo filme em que todos os brinquedos pensam que vão morrer incinerados. E o que eles fazem? Estendem as mãos uns aos outros. É um material de alto conteúdo emocional. Nem dá para chamar isso de animação. Foi uma encarnação profunda de sentimento humano autêntico e real.

Como você trabalha as cenas carregadas de emoção quando está no estúdio de gravação com o roteiro nas mãos?
É preciso usar a imaginação até a exaustão. Como você só pode usar a voz, não pode se afastar do microfone, não pode usar nada de sua presença física. Tem que imaginar essa presença física. Sob muitos aspectos é a antítese do que você faz como ator.
Em muitos momentos o único jeito que eu conseguia fazer era fechando os olhos. Não enxergando o estúdio e as pessoas presentes. Tentando sentir que eu estava num lugar. Nas minhas últimas sessões de gravação, posicionei o microfone para ficar de costas para as outras pessoas. Acho que eu não teria conseguido fazer as últimas sessões de outra maneira. Se houvesse um átimo sequer de constrangimento naquelas falas, não teria ficado bom.

Eu soube que Tim Allen avisou você sobre aquelas últimas cenas.
Quando chegamos mais perto das últimas sessões de gravação, Tim me mandou uma mensagem de texto dizendo: “Você já fez essas últimas páginas? Eu ainda estou tentando superar.”

Foi uma jornada muito longa com esses personagens.
São quatro filmes completamente diferentes. Não existe uma fórmula única em todos. E os criadores não produzem esses filmes como algo pré-fabricado ou que já vem pronto. Eles levam algum tempo para visualizar uma possibilidade e para trabalhar essas histórias que vão valer a pena ser contadas. Acho que se eles tivessem feito um filme “Toy Story” e todo o mundo dissesse apenas que era OK, eles provavelmente teriam se jogado da ponte San Francisco-Oakland Bay. Não pode ser apenas OK. Acho que talvez seja esses um dos motivos por que estão dizendo que depois de “Toy Story 4” eles não sabem qual será o futuro da franquia.
Eu me recordo de quando conheci Woody pela primeira vez. Me chamaram para o estúdio porque iam tentar fazer um novo tipo de animação. E lá estavam Woody e a turma toda. Assisti a esse teste acho que seis vezes seguidas e pensei “como foi que fizeram isso?” Não como criaram a imagem, mas como a fizeram ganhar vida com tanta naturalidade?

E suas netas? Eles curtem “Toy Story”?
Elas já assistiram a todos os filmes várias vezes. “Toy Story” é perfeito para distraí-las. O interessante é que, pelo fato de ouvirem a voz do seu avô e de saberem que eu sou Woody, não há uma suspensão da descrença tão grande quanto com “Frozen”, por exemplo. Com “Frozen”, foi total. Elas são meninas, afinal.

The New York Times
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