Ator de 'Aladdin', Mena Massoud discorda de críticas sobre elenco: 'Nunca me senti mais representado'
Ator falou sobre mescla de culturas indiana e do Oriente Médio para filme
Quando Mena Massoud, 27, astro da nova versão de "Aladdin", foi chamado para um primeiro teste para o papel principal do filme, decidiu que não revisitaria a versão original, um desenho animado muito querido lançado em 1992. Em lugar disso, queria buscar inspiração no tema que embasava a história: "Uma jornada de identidade pessoal".
O desenhado animado portava uma mensagem bem intencionada e universal sobre a necessidade de ser fiel a você mesmo. Mas também foi criticado por promover o estereótipo dos árabes como "bárbaros". E ainda que a história se passe em um porto árabe fictício, as vozes dos personagens eram feitas quase todas por atores brancos.
Nascido no Cairo e criado em Toronto, Massoud tem uma visão mais positiva da versão de animação. "Meus pais conheciam a história de Aladdin muito antes do desenho animado; é um conto de fadas folclórico muito presente no Egito", ele disse, acrescentando que o filme "retrata de modo muito positivo o lugar de onde viemos".
Mas a Disney precisava atualizar a história para levar em conta a sensibilidade mais aguçada das audiências modernas. Depois de um processo aberto de seleção de elenco realizado em diversos países, os papéis terminaram entregues a um grupo muito diversificado de atores que inclui a britânica Naomi Scott, que interpreta Jasmine e tem origens indianas, e atores com origens no Irã e Tunísia. Massoud, que interpreta um papel recorrente na série "Tom Clancy’s Jack Ryan", superou dois mil concorrentes que realizaram audições para o papel.
As críticas ao filme não foram unanimemente positivas, ainda que, em sua resenha para o The New York Times, A.O. Scott tenha elogiado a seleção de elenco como "admirável".
Em entrevista telefônica recente ao jornal norte-americano The New York Times, Massoud explicou por que achava que criticar a história e o processo de seleção do elenco era "contraproducente", e revelou sua opinião sobre o gênio azul interpretado por Will Smith. Abaixo, trechos editados da conversa.
Você era fã do "Aladdin" de animação, quando criança?
Sim, ele era um dos únicos personagens com os quais eu conseguia me relacionar, em nível cultural. Tenho duas irmãs mais velhas. Elas já tinham assistido ao desenho antes de eu ter aprendido a andar; Aladdin esteve muito presente em minha infância.
Você parou para pensar sobre as críticas adversas que o original recebeu pela letra de "Arabian Nights" e a forma pela qual os personagens foram retratados?
Não. Em minha casa, quando eu era criança, todos nós celebrávamos o filme, porque era um dos poucos nos quais estávamos representados. Seria muito pretensioso começar a procurar defeitos nas coisas quando não havia tanta representação para nós. É preciso começar de algum lugar.
A seleção do elenco para a versão com atores demorou mais que o esperado porque foi difícil encontrar um ator para o papel-título. Você acompanhou o processo enquanto ele estava ocorrendo?
Quando vi o chamado para seleção de elenco, online, fiquei muito empolgado. Editei um vídeo com os meus trabalhos. Não tinha grande esperança porque, em meio a dezenas de milhares de vídeos vindos de todo o mundo, a probabilidade de que o meu fosse visto era baixa. Assim, quando ninguém nos contatou, presumi que eles escolheriam um astro estabelecido de Hollywood, e era isso. Quatro meses mais tarde, meu agente entrou em contato e fiquei em choque ao descobrir que eles continuam em busca de um ator. Preparei um segundo vídeo e fui a Londres duas vezes para os testes.
Por que você acha que os papéis de Aladdin e Jasmine foram dados a atores relativamente novatos?
Pelo que sei, [os produtores e o diretor] procuraram algumas estrelas, no começo, mas não conseguiram encontrar alguém que encarasse o canto, a dança e a interpretação. Estavam em busca de um cantor que conseguisse interpretar. E depois de meses de busca vieram a perceber que na verdade precisavam mais de um bom ator, porque Aladdin só canta duas músicas. Acho que a essa altura eles começaram a mudar sua abordagem.
Quando a Disney anunciou que Naomi Scott seria Jasmine, alguns fãs reagiram com raiva no Twitter e disseram que o papel deveria ser dado a alguém com origens árabes.
É uma coisa estranha, o que está acontecendo online. O pessoal do Oriente Médio quer que Aladdin seja uma história do Oriente Médio, e os indianos que seja uma história indiana. A verdade é que se trata de uma história folclórica do século 19, e que Agrabah é uma lugar fictício, uma culminação da Índia, Ásia e Oriente Médio. Na verdade, na história folclórica original, Aladdin tinha origens chinesas. Assim, o que tentamos fazer foi representar o máximo possível de culturas daquela parte do mundo.
Como os produtores lidaram com as questões culturais delicadas, depois que o elenco estava formado? Você sentiu a necessidade de alertá-los para alguma coisa que lhe causasse estranheza.
Havia uma equipe de consultores culturais acompanhando a filmagem. E para responder à sua pergunta, não, não estranhei coisa alguma. Nunca me senti mais representado e respeitado, culturalmente, em toda a minha carreira. Meu primeiro trabalho profissional foi numa peça chamada "Nikita", e eu interpretava "Al Qaeda nº 2". Na época eu precisava aceitar esses papéis, porque estava procurando meu espaço. Por isso, acho que [a Disney] lidou muito bem com as questões e que isso precisa acontecer com mais frequência em Hollywood.
Como foi trabalhar com Will Smith? Como é que você segurou a onda no estúdio?
Já estou no ramo há 10 anos, e acho que, se você quer trabalhar com os melhores diretores do mundo e os melhores atores do mundo, precisa dar valor a você mesmo e ao que você tem a oferecer. Não me entenda mal - fiquei muito nervoso quando me apresentaram a Will. Mas a preparação foi longa e nos aproximamos, e por isso quando chegou a hora de filmar, ele era só um cara contracenando comigo;
O que você acha da interpretação dele para o gênio azul?
Eu honestamente acho que só ele poderia ter feito o papel Acho que Robin [Williams] foi muito bem na primeira versão, e o motivo para que o gênio de Robin se tornasse uma lenda foi ele ter se entregado inteiramente ao papel. Will fez a mesma coisa, em sua interpretação.Ele colocou 30 anos de experiência nesse papel. O gênio tem algo de "Hitch", algo de "Bad Boys", algo de "The Pursuit of Happyness" - tem um pouquinho de todos os papéis dele. Acho que ele foi perfeito.
Você recentemente mandou uma mensagem em árabe aos seus fãs egípcios, no Twitter. Ainda tem conexões com país?
Com certeza. Cresci falando árabe em casa. Já visitei o Egito algumas vezes. Planejo voltar este ano para o Festival de Cinema de El Gouna, em setembro.
Quais são seus planos para o futuro?
Vou filmar uma série chamada "Reprisal", na Hulu. A produção é de Warren Littlefield, e contraceno com Abigail Spencer e Rodrigo Santoro. É muito sombria, dramática; muito diferente de Aladdin.
E você fará a voz do poeta Rumi num filme de animação que deve ser lançado em 2020.
Sim. Já comecei a trabalhar nisso! É uma animação muito bacana. Não é comercial - é muito artística. Quero muito ver com que cara vai ficar.
Tradução de Paulo Migliacci
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