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Disney ameaça deixar de filmar em estado americano que decidiu restringir aborto

cena com personagens dos vingadores
'Vingadores: Últimato' gerou US$ 2,7 bilhões em ingressos vendidos - Disney/Marveç
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Descrição de chapéu BBC News Brasil

O CEO da Disney, Bob Iger, diz que a controversa lei antiaborto da Geórgia torna "difícil" para a empresa continuar filmando no estado americano. Sucessos como "Pantera Negra" e "Vingadores: Ultimato" foram recentemente gravados no estado, devido às generosas isenções fiscais oferecidas para produções cinematográficas.

Iger afirmou que muitas pessoas que trabalham para a Disney não vão querer trabalhar lá se a lei entrar em vigor. "E teremos que atender a esses pedidos", disse ele à Reuters.

No início de maio, o governador da Geórgia, o republicano Brian Kemp, assinou o texto que proíbe o aborto quando for detectado batimento cardíaco - o que seria suficiente para proibir um aborto já sexta semana de gravidez, quando, muitas vezes, a mulher ainda não descobriu estar grávida.

A lei, conhecida como "lei do batimento cardíaco", está prevista para entrar em vigor em janeiro, mas já é esperado que seja contestada na Justiça. A nova legislação gerou uma reação furiosa em Hollywood e levou a pedidos de boicote. Antes disso, a Netflix informou que iria "repensar" as operações na Geórgia.

Atores como Amy Schumer, Ben Stiller, Christina Applegate, Laverne Cox e Alec Baldwin escreveram ao governador do estado para dizer que fariam tudo que estivesse ao alcance deles para levar a indústria a um estado mais seguro para as mulheres. A atriz e escritora Kristen Wiig também confirmou à CNN que seu novo filme de comédia teve a filmagem na Geórgia cancelada.

O ator Jason Bateman –estrela do programa da Netflix "Ozark" e de "The Outsider", da HBO, ambos sendo gravados na Geórgia, disse ao The Hollywood Reporter: "Eu não vou trabalhar na Geórgia, ou em qualquer outro estado que é tão contra os direitos das mulheres." "No momento, estamos observando com muito cuidado", disse Bob Iger, acrescentando que "não vê como é viável continuar filmando lá".

A possível saída da Disney da Geórgia será uma grande perda para o estado. Recentemente, tanto "Pantera Negra" quanto "Vingadores: Ultimato" tiveram cenas filmadas Geórgia, no sudeste americano, colado na Flórida.

A Geórgia –que oferece até 30% de redução de impostos - atraiu produções de cinema e TV, empregando mais de 90 mil pessoas no setor. Ao analisar uma amostra de 100 longas-metragens lançados nos Estados Unidos em 2017, o site FilmLA verificou que 15 deles foram filmados na Geórgia.

Entre as produções recentes baseadas na Geórgia também estão: "Godzilla II: Rei dos Monstros", "Homem-Formiga" e a "Vespa", "Vingadores: Guerra do Infinito", "Homem-Aranha: De Volta ao Lar", "Stranger Things" e "The Walking Dead".

O QUE DIZ A LEI

A lei da Geórgia bane a possibilidade de fazer aborto a partir do momento em que os batimentos cardíacos do feto puderem ser detectados, o que ocorre por volta da sexta semana de gestação. O problema é que as muitas mulheres não sabem ainda que estão grávidas na sexta semana, já que muitas vezes os enjoos comuns no início da gestação começam por volta da nona semana.

A nova lei estabelece exceções para gravidez resultante de estupro, incesto e para salvar a vida da mãe. Grávidas de bebês com poucas chances de sobrevivência devido a problemas de saúde também poderão abortar, segundo o texto.

Ouros estados americanos também aprovaram nos últimos meses leis que restringem o direito à interrupção da gravidez nos EUA. O caso mais recente foi em Louisiana, onde parlamentares estaduais aprovaram uma nova regulamentação do aborto na quarta-feira, também de acordo com a "lei do batimento cardíaco". Ou seja, proíbe a interrupção da gravidez após a sexta semana, quando o primeiro batimento cardíaco é geralmente detectado no coração do feto.

Neste mesmo ano, Kentucky, Ohio, Mississippi e Geórgia aprovaram a "lei do batimento cardíaco". E em Iowa um juiz federal decidiu inconstitucional uma regra semelhante. Em alguns casos, já houve suspensão. Em Kentucky, um juiz federal suspendeu uma lei que, na prática, obrigaria a única clínica de aborto legal do estado a fechar as portas.

Segundo ativistas pelos direitos das mulheres, essas legislações seriam inconstitucionais já que a Suprema Corte dos EUA reconheceu o direito ao aborto até o ponto de viabilidade fetal (a partir do qual o feto pode sobreviver fora do útero), que varia, mas ocorre geralmente em torno de 24 semanas de gestação.

Mas defensores do fim da legalização do aborto dizem que um dos objetivos dessas leis estaduais é exatamente provocar ações na Justiça, na esperança de que um dos casos sobre aborto chegue à Suprema Corte e que a maioria conservadora no tribunal decida reverter a decisão de 1973, no caso Roe vs. Wade, que legalizou a prática no país.

BBC News Brasil
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