Taís Araújo diz que democracia racial é um mito e que o Brasil não se orgulha de origens
Atriz prepara volta de Clarice em 'Cara e Coragem' e lamenta um país 'nada cordial'
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Referência negra na TV há pelo menos 25 anos, desde que interpretou, logo em sua segunda novela, a protagonista de ‘Xica da Silva’ (Manchete, 1996), Taís Araújo, 43, anda meio descrente. A atriz gostaria muito de ter uma perspectiva otimista em relação ao fim do racismo no país. Mas não é o que acontece.
Vítima do preconceito, assim como os próprios filhos de 11 e 7 anos e amigos como Seu Jorge, ela diz lamentar que o povo brasileiro não tenha mais orgulho de suas origens.
"Aceitar e entender que o Brasil é um país racista já é um caminho. Até então, vivíamos o mito da democracia racial. As pessoas acreditavam que o Brasil era um país cordial, que tinha orgulho de ser miscigenado. E agora está muito nítido que não é assim", afirma, em entrevista ao F5.
Taís atualmente vive duas personagens em "Cara e Coragem" (Globo) e está prestes a aparecer para todo mundo em carne e osso como a "morta-viva" Clarice. Ela conta que se surpreendeu quando a autora, Claudia Souto, definiu que a personagem, na verdade, não havia morrido. A cena está prevista para ir ao ar nesta segunda-feira (31).
"Essa é uma novela que arrisca, que é audaciosa", afirma. "Os fãs podem esperar uma trama muito movimentada. Porque agora a Clarice vai sair se vingando", adianta. Confira a entrevista abaixo.
Em ‘Cara e Coragem’, Clarice voltará após a morte. Te surpreendeu esse desfecho?
Eu me surpreendi porque a Claudia [Souto, autora] me convenceu que a Clarice tinha morrido mesmo. E eu achei super audacioso matar a protagonista no início. E essa é uma novela que arrisca, é audaciosa. Então eu acreditei que era mesmo real a morte dela.
O que o público pode esperar da trama a partir desse retorno e como a personagem mexerá na história?
Os fãs podem esperar uma novela muito movimentada. Porque agora a Clarice vai sair se vingando, vai acontecer uma dança das cadeiras na presidência da Siderúrgica Gusmão. É uma novela em que acontece muita coisa.
Como é para um artista viver dois personagens num mesmo projeto?
É uma loucura, sabia? A dinâmica muda. Mas como eu tenho a Grace [Fortes, a atriz que é também sósia de Taís e entra em ação quando há cenas de Clarice e Anita juntas] isso me ajuda muito. Às vezes, eu só decoro o texto da personagem que vou gravar primeiro. Fazendo com a Grace eu acabo decorando a outra parte só de ouvir ela falar.
Assim como a personagem, na sua trajetória de vida, em algum momento (pessoal ou profissional) você também já se sentiu descartada, "morta", desacreditada, e voltou ainda mais forte?
Mas essa é a vida do artista brasileiro. Não tem nada garantido. A pessoa pode ter não sei quantos anos de carreira –eu mesma tenho 30 anos de carreira-, mas cada trabalho é uma provação. A gente mata um leão por dia. Ao mesmo tempo, tem uma coisa muito boa nisso: a gente nunca se acomoda, o que é bom para a vida de um artista.
Entrando em um tema que você já sofreu na pele, o racismo. Temos visto casos recentes como com o Seu Jorge, em Porto Alegre. Sinceramente, você acredita que um dia o racismo vai acabar?
Acabar eu não sei. Mas o fato de aceitar e entender que o Brasil é um país racista já é um caminho. Até então, vivíamos o mito da democracia racial. As pessoas acreditavam que o Brasil era um país cordial, que tinha orgulho de ser miscigenado e de suas origens. E agora está muito nítido que não é assim. E eu acho importante a gente saber com quem está lidando.
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