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Celebridades
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Felipe Camargo lembra rejeição e diz que faltou maturidade ao ver sucesso

Ator celebra volta de 'Anos Dourados', quando estreava na TV e tomava sustos com fãs

Marcos, personagem do ator Felipe Camargo em "Anos Dourados" (1986) Jorge Baumann 1986/Globo

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São Paulo

Minissérie de sucesso dos anos 1980 da Globo, "Anos Dourados" estreia na plataforma do Globoplay nesta segunda-feira (9). Protagonista da trama ao lado de Malu Mader, o ator Felipe Camargo, 61, lembra que não tinha maturidade para aguentar a virada radical que sua vida deu com o estrelato.

Em uma semana ele era um ator de teatro de 26 anos, desconhecido do grande público, e na outra encabeçava o principal projeto da maior emissora do país. Todos esses holofotes e assédio das fãs, que enlouqueciam sempre quando ele saía do mar de Ipanema, mexeram, e muito, com a sua cabeça.

"No Natal, sempre reuníamos a família lá em casa. Tinha uns tios que eu via pouco. Então eu cheguei em casa e lembro de uma tia pedir um autógrafo. ‘Mas, tia, a gente se conhece desde pequeno’. Pois é. Vi através dessas coisas como tudo na minha vida tinha se transformado", recorda ele.

Foi a partir do Marcos que vieram personagens de peso e tamanho na TV. Camargo recorda com carinho de "Roda de Fogo" (1986), onde contracenou com Tarcísio Meira [1935-2021], "Mandala" (1987), "Despedida de Solteiro" (1992), além de filmes. "'Anos Dourados’ me colocou em outro patamar", destaca o ator, que em meio aos grandes projetos ainda se casou com Vera Fischer, 70, com quem tem um filho.

Agora, ele celebrando 40 anos de profissão e abre o jogo sobre rejeições na carreira, o afastamento das novelas, o dia que foi "salvo" de ir embora do país após receber uma ligação do diretor Fernando Meirelles e fala a respeito do novo projeto para a Disney+ que ele diz ser uma das coisas mais legais que já fez.

"Vivi bastante, mas tenho muito a viver ainda. Agradeço aos 40 anos de profissão, aprendi muito, às vezes a duras penas, mas não me sinto consagrado", afirma ele. Leia abaixo trechos editados da entrevista concedida ao F5.

Quais suas principais lembranças de "Anos Dourados" que chega ao Globoplay?
Essa minissérie tem apenas 20 capítulos. Tenho muitas lembranças e todas muito boas, pois ela foi um divisor de águas na vida pessoal e profissional. Comecei minha carreira de ator em 1982 e até essa estreia de ‘Anos Dourados’ eu era do teatro, com notoriedade pequena. E quando me vi protagonista do meu primeiro trabalho na TV comecei a ser conhecido no país todo, foi uma mudança radical. Foi uma obra magnífica do Gilberto Braga [1945-2021] e com direção de Roberto Tauma [1949-2015]. Com atores como Taumaturgo Ferreira, Malu Mader e Isabela Garcia, com quem tenho laços até hoje.

Você começou, do dia para a noite, a ter legião de fãs. Como era na época?
A minha vida particular mudou completamente, pois não saí do teatro para fazer uma ponta na TV. Eu era o protagonista da série de maior sucesso no Brasil até hoje. Digo isso tranquilamente, pois é a mais reprisada, a mais vendida. Me recordo de uma história engraçada dessa época. Eu ia muito à praia, morava em Ipanema com meu pai. Um dia fui dar um mergulho e quando voltei da água tinham umas 15 meninas em fila e gritando: ‘é ele, é ele’. Me assustei e voltei para o mar e saí nadando para longe. Não era acostumado com assédio de fã. Minha vida pessoal se transformou após ‘Anos Dourados’.

Tem outras histórias como essa que aconteceram com você?
No Natal, sempre reuníamos a família lá em casa. Tinha uns tios que eu via pouco. Então eu cheguei em casa e lembro de uma tia pedir um autógrafo. ‘Mas, tia, a gente se conhece desde pequeno’. Pois é. Vi através dessas coisas como tudo na minha vida tinha se transformado. Virei o Felipe Camargo da TV, um ator conhecido. Foi de uma hora para outra e eu não tinha maturidade para conviver com aquilo. Fui uma aposta da Globo que queria caras novas.

Como define seu personagem Marcos e a trama?
Ela fala de amor e é uma espécie de Romeu e Julieta. Duas famílias, uma de classe média alta e a outra (a minha) de classe baixa. O Marcos era filho de pais separados. Nos anos 1950, isso rendia preconceito. Uma mulher desquitada era quase uma prostituta. E não cabia na cabeça da família da Lurdinha [Malu Mader, seu par romântico] que ela se relacionasse com o filho de casal desquitado. Cria-se um conflito do impedimento que os faz lutar por esse amor.

Se pudermos traçar um paralelo, o personagem era rejeitado pelos sogros. Você já foi rejeitado na carreira?
Já tive momentos muito difíceis, de ficar sem receber convites para trabalhar e é terrível. Em 2022 eu completo 40 anos de profissão, é uma vida, e essa vida não é em linha reta. Ser ator nesse país é complicado, ainda mais com um governo que não valoriza a cultura. Vi muita gente que ficou pelo caminho, que abandonou ou que foi tentar outro ramo. Não é legal sentir rejeição, mas tive que trabalhar isso. Jamais abandonaria o que eu faço mesmo nos momentos difíceis.

Teve algum momento em que você se sentiu valorizado e estimulado nesse meio tempo?
Teve uma fase em que queria sair do Brasil, ir para os Estados Unidos, estudar inglês. Já estava um ano sem trabalhar. Só apareciam coisas que eu não considerava legais. Mas a vida é louca. Quando eu estava literalmente de malas prontas, o [diretor] Fernando Meirelles me ligou. Achei que fosse trote. Ele falou que tinha um trabalho para mim como protagonista de uma série. Era ‘Som & Fúria’ (2009). Essa vida é maluca e às vezes coisas boas pintam.

Sua última novela foi "Espelho da Vida", em 2018. Você se distanciou delas por opção ou por falta de convite?
Eu até recebi convite para essa novela das 18h de agora, ‘Além da Ilusão’, mas houve muitas mudanças de direção e acabou não rolando. A Globo entrou com uma política de trabalhos por obra certa e nesse momento não estou contratado. Mas quero trabalhar, esses streamings vieram para somar e abriram mercado. O que mais conta para eu aceitar um projeto é o personagem, e ele pode ser em peça, em série, filme, no streaming ou na novela.

Você tem novos projetos no streaming? Pode falar sobre eles?
Eu gravei uma série para o Disney+ que se chama ‘O Santo Maldito’ e tem estreia programada para este ano. Sou o protagonista dela. E digo com toda a certeza: esse foi um dos melhores personagens que já fiz na vida. Estou vivendo um momento bacana com possibilidade de uma segunda temporada. E esse trabalho apareceu na pandemia, por isso me sinto abençoado.

Como é o seu personagem?
Ele é um professor de cursinho e escritor que se apaixona por uma aluna menor de idade. A faculdade descobre esse caso e o manda embora. Mas os dois se casam e têm uma filha. Ele é um ateu convicto e então a mulher dele sofre um acidente e fica hospitalizada. Nessa hora, acontece uma coisa que não posso dizer que todos começam a achar que meu personagem faz milagre. Então, um pastor me oferece uma grana para fazer cultos em igreja evangélica.

Nesses 40 anos de carreira e com quase 62 de vida, que balanço você faz da sua trajetória até hoje?
Creio que sou um insistente. Nossa profissão depende mais da dedicação do que do talento e temos que ter vocação. Fiz coisas das quais me orgulho muito, como ‘Anos Dourados’ e a minha primeira peça teatral, que foi ‘Capitães de Areia’. Mas já peguei muito trabalho ruim também que hoje vejo que me ajudaram a ter força e evoluir. Tenho um reconhecimento legal, mas isso não interessa, porque só penso em fazer bem o próximo trabalho.

Diria, então, que sua trajetória está só começando?
Fiz coisas que adorei, detestei, conheci gente bacana, outras que não eram nada legais, algumas cuja amizade perdura até hoje. Agora entro num trabalho com frescor de quem está começando. Se tem gente que não gosta do meu trabalho, vou dar valor a quem curte. Críticas... quem faz, às vezes, tem razão, mas em outros momentos o cara não entendeu o que eu fiz. Vivi bastante, mas tenho muito a viver ainda. Agradeço aos 40 anos de profissão, aprendi muito, às vezes a duras penas, mas não me sinto consagrado.

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