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Miles Riehle Michelle Groskopf/The New York Times

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Kellen Browning e Becca Foley
The New York Times

Em uma cena de “Saturday Night Live”, o ator inglês Daniel Craig encara a câmera e move os braços desanimadamente, como se tivesse pensado em estendê-los para o alto mas desistido no meio do caminho.

“Senhoras e senhores, the Weeknd ”, ele anuncia, para introduzir o convidado musical do episódio, o astro pop canadense Abel Tesfaye. A plateia presente no estúdio começa a aplaudir.

Aqueles quatro segundos de imagens, notáveis apenas pela ambiguidade de Craig (ele estava irritado? hesitante? esperançoso? indiferente?) provavelmente foram esquecidos pela maioria dos espectadores logo depois que o episódio foi ao ar, em 7 de março de 2020. Mas não por Miles Riehle.

Riehle estava assistindo a “Saturday Night Live” no dia em que Craig apresentou o programa, e se divertiu com o que entendeu como um duplo sentido no anúncio: “A sensação era a de que ele estava pedindo aplausos para o final de semana [weekend], ou seja, para o sábado e domingo”, disse Riehle, 18. “E eu pensei comigo mesmo que a cena foi muito engraçada”.

Seguindo o exemplo de contas do Twitter que só postam mensagens em datas específicas –por exemplo, 3 de outubro para os fãs do filme “Meninas Malvadas” —,Riehle registrou uma conta chamada @CraigWeekend e começou a postar o vídeo toda sexta-feira à tarde. E os pedidos de entrevistas não demoraram a começar.

A atenção que ele começou a receber, embora faça bem ao ego, disse Riehle, também é complicada, “porque agora preciso batalhar para divertir essas pessoas todas”.

Mesmo assim, ele parece não estar encontrando dificuldades para sustentar o interesse de seus 450 mil seguidores, que a cada sexta-feira aguardam seu anúncio de que a semana de trabalho acabou. Há quem reclame por email quando acha que Riehle não fez a proclamação no horário devido.

Ele acha que o que atrai seguidores para a conta é sua mensagem previsível e positiva, em um período marcado por medo e incerteza.

“Se consideramos o estresse que existe no mundo, para muita gente poder abraçar o final de semana e se empolgar com ele é uma mensagem, muito poderosa”, disse Riehle. Ele diz que os fãs da conta desenvolveram “uma comunidade de vibrações positivas”.

“Parece que as pessoas estão sempre tentando ser gentis umas com as outras em suas respostas e nos tuites que elas divulgam”, ele disse. “E acho que isso é bastante raro na internet”.

Ele usualmente posta sua mensagem entre as 15h45 e as 16h20, horário da costa americana do Pacífico, mas nunca em horários redondos. “Quero manter as pessoas atentas”, diz Riehle.

E na verdade o fato de que seus seguidores saibam que alguma coisa acontecerá, mas não exatamente quando, pode ser essencial para mantê-los interessados, disse John Suler, professor de psicologia da Universidade Rider.

A previsibilidade “é muito reconfortante para as pessoas, especialmente durante uma pandemia, quando elas têm pouco mais a fazer na sexta-feira, e tudo mais em suas vidas parece tão imprevisível”, disse Suler. “Mas ele adiciona uma dose de reforço imprevisível ao postar a mensagem em horário indefinido”.

Josh Varela, “fellow” do Lead for America, um programa de liderança para governos locais dirigidos a estudantes recém-formados, em Ventura, Califórnia, programou uma notificação para que ele e seu colega de apartamento estejam informados de que o horário de trabalho responsável da semana acabou.

“Quando surge o tuite da @CraigWeekend, nossa reação é de que é hora de abrir uma cerveja e relaxar”, disse Varela, 23.

Derek Milton, 34, diretor de cinema em Los Angeles, disse que “qualquer ansiedade, qualquer preocupação, qualquer dificuldade acumulada nos cinco dias passados termina aliviada por aquele vídeo de quatro segundos”. Ele e os amigos gostam tanto do vídeo que gravaram uma paródia, quando estavam trabalhando na gravação de um vídeo de The Weeknd.

Craig não foi localizado para comentar sobre seu vídeo em “Saturday Night Live”, mas The Weeknd parece estar ciente da brincadeira. Em maio, ele tuitou: “Ladies and gentlemen, the...”

Riehle não teve dificuldade para saber o que vinha depois das reticências. “Entendi a mensagem como um tuite dirigido a mim”, ele disse. “Acho que ele gostou do jogo”.

Riehle vai começar o curso superior este ano, na Universidade da Califórnia, em Davis, onde planeja se formar em política e planejamento ambiental. Ele pretende manter a conta em operação enquanto estiver na escola.

“Não sei quando ou se ela vai acabar”, ele disse. “Obviamente, se a coisa chegar a um ponto em que prejudique minha relação com a internet eu talvez me livre dela, mas, por enquanto, não tenho planos de fazê-lo.

Apesar do alívio que sua conta oferece ao pessoal que trabalha das 9h às 18h, Riehle sabe que, para alguns trabalhadores, o tuíte também pode servir como um lembrete desanimador de tarefas a realizar. Ele mesmo tem um trabalho voluntário no serviço de tráfego do condado de Orange –nos finais de semana. “É meio irônico”, ele disse.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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