Atriz de 'Eu Nunca...' visita Nova York pela 1ª vez e faz 'rave' cultural
Maitreyi Ramakrishnan interage com fãs após estreia na pandemia
Maitreyi Ramakrishnan interage com fãs após estreia na pandemia
Azul cobalto e ultramarino giravam nos pisos e paredes. Apareceu uma lua. Em seguida estrelas. Depois os ramos emaranhados dos ciprestes. “Noite Estrelada”, murmurou Maitreyi Ramakrishnan, 19, no calor de uma noite de julho. “É o astro do show”.
Ramakrishnan, estrela da elogiada comédia “Eu Nunca...”, da Netflix, tinha chegado poucos dias antes a Nova York. Entre temporais (“essa quantidade de trovões não é normal, é?”, ela perguntou), a atriz e seus colegas de elenco participaram de eventos com milhares de jovens fãs da série.
Porque a primeira temporada estreou em abril de 2020, no momento em que começou o lockdown, e a segunda saiu apenas em julho deste ano, Ramakrishnan jamais tinha tido a oportunidade de se encontrar pessoalmente com os fãs. “Foi só agora que percebi, opa, a série é realmente popular”, ela disse.
Era sua primeira visita a Nova York, e Ramakrishnan, que cresceu em um bairro suburbano de Toronto, se deu algumas horas de folga para uma visita à pizzaria Patsy’s, na região central de Manhattan (“a melhor pizza que já comi, mesmo”, ela disse), e para uma visita ao Museu de Arte Moderna, onde viu o original de “Noite Estrelada” (em sua descrição, “lá em um cantinho discreto”).
Ela ainda precisava realizar seu principal objetivo turístico na cidade, ver “um rato de rua de Nova York”. Mas naquela manhã quente e úmida de domingo, ela e a família foram a “Immersive Van Gogh”, uma exposição de arte interativa no Pier 36, um armazém no Lower East Side, com versões animadas dos grandes sucessos do pintor e algumas obras mais obscuras.
Ramakrishnan se encantou com Van Gogh no começo da adolescência, admirando seu uso da cor e a maneira pela qual os quadros deles parecem convidar o espectador a criar uma conexão íntima. No seu 16º aniversário, ela e a família fizeram um bolo inspirado por “Noite Estrelada”.
Ramakrishnan saiu de uma picape preta usando um vestido com estampa vibrante de peônias, de Stine Goya. Suas sandálias de salto alto e sua bolsa com alça fina combinavam com sua máscara facial cor de laranja. A sombra que ela usava nos olhos lembrava o púrpura das borboletas do pintor, em um confronto alegre; ela usa uma argola dourada na narina.
Com os pais por perto, ela e seu irmão, Vishwaa, 22, aluno da Universidade McGill, entraram no espaço escuro da mostra, passando pelos cartazes informativos e pelo bar que vendia coquetéis sem álcool e pirulitos estampados com o rosto do pintor.
Mais adiante, Ramakrishnan se viu diante de uma escultura espelhada instalada no meio do salão. “Não sei se estou experimentando a exposição do jeito certo”, ela disse, contemplando seu reflexo. “Eu me sairia muito mal em um labirinto de espelhos”. Mas ela não parecia especialmente confusa, ou desajeitada. Mesmo usando sandálias de salto alto, ela caminhava com graça, e criticava a mostra com o humor ferino e devastador de uma adolescente.
“Agora vai começar a rave de artistas”, ela disse, quando a música mudou de Edith Piaf para uma faixa de EDM. Um funcionário do espaço de exposições lhe deu um girassol de plástico e uma almofada com o logotipo do evento. Ela aceitou as duas coisas graciosamente.
Em “Eu Nunca...”, Ramakrishnan interpreta Devi, uma estudante de segundo grau americana de origens indianas, que navega desajeitadamente pela adolescência. Volátil, impulsiva, amiga dos livros mas tonta para assuntos românticos, Devi muitas vezes permite que sua raiva adolescente dite seu comportamento.
“Eu não sou tão ativamente furiosa”, disse Ramakrishnan. Mas ela simpatiza com Devi e confia em que a personagem evoluirá e se tornará uma pessoa melhor e mais feliz. Quando fãs lhe perguntam qual dos dois “crushes” Devi deve escolher –se ela é parte do Team Paxton ou do Team Ben–, a atriz tem uma resposta pronta: ela é parte do Team Devi.
“Devi na verdade precisa começar a amar a si mesma”, ela diz. Ramakrishnan também está evoluindo. Quando foi escalada para o papel principal de “Eu Nunca...”, ela cedeu sua vaga no curso de teatro da Universidade York, em Toronto. Recentemente, adiou de novo sua matrícula, e mudou a escolha de curso para direitos humanos e estudos da igualdade.
No segundo trimestre, quando a Índia estava sendo devastada pela pandemia, ela organizou uma leitura beneficente de roteiros de “Eu Nunca...” e arrecadou mais de US$ 100 mil (R$ 523 mil) em doações. A atriz se orgulha por interpretar uma personagem cujas origens estão no sul da Ásia, e fala com entusiasmo sobre a necessidade de mais personagens e mais histórias desse tipo.
“Não é justo fazer com que toda uma comunidade seja representada apenas por Devi”, ela disse. Ela e o irmão avançaram gradualmente na direção do salão principal da exposição, onde um filme de 35 minutos que mostra os maiores sucessos de Van Gogh em forma de animação é projetado sobre todas as superfícies disponíveis.
Flores se abrem, um trem passa, campos se estendem. A animação faz uma breve pausa, na imagem de um esqueleto fumando um cigarro. “Vai, explica o que isso quer dizer, estudante de filosofia”, disse Ramakrishnan, se referindo ao curso do irmão. “Acho que é só gênio não reconhecido”, ele respondeu.
Depois de mostrar mais algumas flores, praças e um esboço de um dormitório em Arles (“Pictionary!”, ela exclamou), o filme chegou ao fim. Ela e o irmão ficaram para ler os créditos, e depois seguiram as placas que os conduziam à loja de presentes e à saída.
Ramakrishnan vasculhou a vasta abundância de mercadorias com uma mistura de ceticismo e prazer. Examinou um quebra-cabeças com temas de Van Gogh, um livro de fotografias, uma vela que diz “você é um unicórnio mágico”. Ela ponderou o que Van Gogh pensaria sobre tudo aquilo, e se ele exigiria royalties.
“É uma loucura que ele tenha sido tão pouco apreciado em sua época, e agora, calma lá, o quê?”. Passando pelas portas duplas de saída, Ramakrishnan voltou à rua e à manhã úmida. Não apareceu rato algum, mas ela viu uma balsa carregada de lixo passando lentamente pelo rio.
“Bacana”, ela disse. Três meninas se aproximaram dela, ansiosas. Depois, uma mãe e suas duas filhas. Ramakrishnan posou para fotos com todos elas.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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