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Celebridades

Dadá Coelho diz que o humor é a maior manifestação de amor: 'Quem faz rir faz gozar'

Atriz de A Culpa É da Carlota defende maior protagonismo feminino

Dadá Coelho Divulgação

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São Paulo

Da infância humilde no Piauí aos perrengues de gravar um programa de humor durante a pandemia, nada é motivo para Dadá Coelho, 41, perder a piada. "Eu sou da opinião de que o show tem que continuar", afirma em entrevista por telefone ao F5.

"Não sou do 'hahaha' e do 'kkk' o tempo inteiro", revela. "Fico mais confortável na alegria, embora ache a tristeza uma coisa muito legítima. Mas tenho muita preguiça de quem se leva a sério. Procure rir de si mesmo, se não alguém vai fazer isso por você."

Vencedora da última edição do Prêmio F5 na categoria atriz de humor, ela ri até da forma inusitada como recebeu o troféu. Como o carteiro não achou ninguém em casa, ela foi até uma agência para pegar. Chegando lá, precisou provar que era Dadá, embora sua identidade mostrasse o nome Darcimeire.

"Comecei a fazer quase um standup para ele", lembra. "Tive que falar que Lima Duarte é Ariclenes, Fernanda Montenegro é Arlette, e eu sou Dadá. Comecei a contar toda a minha história, da minha irmã Emmemeirejanes..."

Calma, esse nome é real? "É sim, minha mãe foi ao cinema com meu pai e ouviu: 'I'm Mary Jane' [eu sou Mary Jane, em português] e colocou do jeito que ouviu", explica. "As pessoas acham que eu inventei isso", ri. Entre os 11 irmãos, estão ainda Leina Mara, Lyslei e Lorena Moema. "Acho que minha mãe queria que alguém fosse artista", brinca.

E foi justamente Dadá que seguiu esse desejo. Encantada com a personagem clássica da literatura árabe, ela se define como uma "Sherazade com tempero nordestino" e diz que poderia passar mil e uma noites contando suas aventuras. "Eu atraio história, tudo na minha vida vira um causo", diz.

O exemplo veio de casa. "Minha mãe é muito engraçada, uma contadora de histórias, foi a minha referência de humor", conta. "Uma vez cheguei em casa e ela me perguntou o que era sexo oral. Eu brinquei que era sexo de hora em hora. Ela se admirou de quem conseguia fazer isso. Aí expliquei o que era de verdade e ela falou: 'Cruz credo, nenhuma de vocês bebe mais água nos copos aqui de casa (risos)."

"Nossa família é louca", resume. "Quando meu pai morreu, fiquei preocupada com a minha mãe, perguntei se ela ia ficar bem e ela respondeu: 'Minha filha, hoje eu vou é assistir a minha novela em paz'. Foi de uma sinceridade insultante. Para nós, a tristeza e a alegria é tudo muito junto."

Talvez por isso, Dadá "não tem paciência para ficar conferindo tristeza". "Não gosto do drama, acho cafona", confessa. "A vida é um sutiã, tem que chegar lá e meter os peitos."

Foi seguindo essa filosofia que ela gravou a temporada mais recente de A Culpa É da Carlota, do canal pago Comedy Central, logo depois da morte da mãe, em julho. "O trabalho é terapêutico, uma bênção", avalia. "Eu estava muito frágil, mas o Comedy foi de muita delicadeza. Foi libertador."

Se antes o programa era gravado diante de uma plateia de 400 pessoas no Teatro Gazeta, em São Paulo, desta vez precisou ir para estúdio e deixar a plateia acompanhar tudo apenas virtualmente. "A gente estava muito preocupado, mas acabamos nos voltando mais para nós mesmas", conta. "Ficou mais orgânico, tipo uma mesa de bar."

"É no andar das carroças que as melancias se ajeitam", filosofa. "A gente se organizou, era um desejo tão genuíno de fazer que deu tudo certo. O desejo de contar história se sobrepõe às dificuldades, a gente dá um jeito com o que tem. Vamos que vamos para a próxima."

E quando ela diz para a próxima não está brincando. Nada de ficar revisitando os trabalhos passados. "Não tenho essa egolatria de ficar na siririca ali me vendo", afirma. "Na verdade, tenho até dificuldade de me ver. Eu vejo quando é para me corrigir, para aprender. Mas eu sou paga para fazer, não para assistir."

A entrevista que deu em 2009 a Jô Soares e que a alçou à fama, por exemplo, ela diz ter assistido apenas duas vezes. "Vi no dia que passou e depois para editar uns trechos para guardar", garante.

Mesmo com alguns anos já na estrada, ela confessa que ainda é complicado ser mulher, nordestina e comediante. "Tive que me provar três vezes", diz. "É quase uma infração, uma contravenção. A gente é muito xingada, muito esculachada por ter vagina."

Ela lembra que, no passado, as mulheres eram sempre usadas como escada no humor, algo que programas como o "Carlota" estão mudando. "Eu uso a minha voz", conta. "Eu tento a toda hora, nas minhas piadas, aonde eu posso, meter uma vinheta contra o machismo. A gente precisa protagonizar as próprias histórias, contar as coisas do nosso ponto de vista, sem ficar refém dos brancos héteros."

Dadá acredita que nomes como Kamala Harris [vice-presidente dos EUA] representam avanços nesse sentido. "O homem tem que ficar fora da esfera de poder", defende. "A gente está faxinando o mundo. Acredito nos bons ventos. No fundo do poço também tem molas. E a mulherada está botando pra moer."

Ela cita como exemplo o controle da pandemia em países como Nova Zelândia e Alemanha, comandados por mulheres. A Covid-19, aliás, fez ela passar muito mais tempo em casa com o marido, Paulo Betti, 68.

"Tranquilo não é, às vezes é muito delicado", diz sobre essa convivência maior e quase forçada que os casais passaram a ter. "É muito doida essa relação loja de conveniência 24 horas. Se não tiver cuidado, pode desgastar bastante."

E é aí que ela usa também o humor para deixar tudo mais leve. "O humor é a maior manifestação de amor, quem faz rir faz gozar", avalia. "Eu sempre falo que o Paulo é o meu meme favorito. O nome dele dá link para tudo o que não presta (risos)."

Desse modo, ela começou a fazer brincadeiras como transformá-lo em rainha "ElizaBetti" e postar na internet. Outra coisa que fez sucesso nas redes sociais foi o standup virtual "Cuscuz na Mão", em que ela prepara a iguaria enquanto conta piadas e se transformou em evento corporativo para empresas.

Mãe de Maria Antônia, 20, Dadá também está gravando o filme "Papai É Pop" ao lado de Lázaro Ramos e Paolla Oliveira, e sob a direção de Caito Ortiz. "Faço a Joana, uma advogada que é sócia e melhor amiga da personagem da Paolla. O filme fala sobre paternidade e questiona onde ficou combinado que é sempre a mulher que tem que ir cuidar do filho. É legal falar desses assuntos através da arte."

"Estou animada, parece meio obsceno alguém dizer que está feliz com o trabalho no meio de tanta maluquice", avalia ela, que ainda aguarda liberação para falar de outros projetos aos quais está vinculada.

"Tem tanta gente brilhante passando perrengue, sou muito grata porque consegui viver de humor", afirma. "Só não faço meu trabalho de graça porque tem boleto, mas para mim é um 'sextou' permanente. Só queria nascer na Nova Zelândia na próxima encarnação."

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