Minissérie da Globo mostra lado moralista de Dercy Gonçalves
Uma mulher casta, séria e defensora da família. Criou a única filha com rédeas curtas e a fez casar virgem com quase 30 anos de idade.
Filha de Dercy Gonçalves fala de lado sério da mãe
Essa era Dolores Gonçalves Costa, mas muitos só a conhecem como Dercy Gonçalves (1907-2008), uma atriz que se consagrou pelas caretas, palavrões e amantes.
O que poucos sabem será exibido em minissérie, a partir de janeiro, na Globo, e em filme, previsto para 2013.
"Na intimidade, ela tinha muito pouco a ver com sua imagem pública", explicou à Folha Maria Adelaide Amaral, autora do livro "Dercy de Cabo a Rabo" (ed. Globo), que inspirou a minissérie "Dercy de Verdade", que estreia em 9 de janeiro de 2012.
"Dercy construiu esse marketing e faturou em cima dele, do escracho, do palavrão. Na vida real, ela era de princípios rígidos, cheia de moralismos", continua.
"Uma velha dama digna é a melhor frase para resumir Dercy", diz a autora, lembrando do filme "A Velha Dama Indigna" (1965), do francês René Allio, baseado em peça de Bertold Brecht.
O texto, aliás, fala de um filho preconceituoso que acha a mãe indigna por, aos 80 anos, aproveitar o tempo que ainda lhe resta.
Na minissérie, dividida em quatro capítulos, Heloísa Périssé, 45, e Fafy Siqueira, 57, terão a missão de mostrar que, apesar de uma vida sofrida, Dercy Gonçalves, morta em 2008, aos 101 anos, não baixou a cabeça nem quando foi censurada pela ditadura.
"É verdade que ela é responsável por essa imagem que se formou a seu respeito. Às vezes, eu falava pra ela parar de fazer isso ou aquilo, mas ela provocava", lembra Maria Adelaide.
A versão durona de Dercy é a que marcou sua única filha, Decimar Martins Senra, 76. "Acho que vi mamãe chorar apenas três vezes. Ela não se abalava com nada", disse.
"Mamãe era muito séria. Namorei 13 anos antes de casar e ela vivia dizendo 'não dê', 'não fale palavrão'. Casei virgem por acreditar no que ela dizia. E valeu a pena", diz.
RELACIONAMENTOS
Decimar é fruto de um relacionamento de Dercy com o produtor de café Valdemar Martins. Ele a curou de tuberculose e ajudou a atriz até a filha do casal completar dois anos de idade.
"Mamãe gostava dele, mas não amava. Ele pediu a ela que largasse o teatro. Mas esse sim era o grande amante de sua vida dela. Então, ela acabou largando Valdemar."
Dercy, segundo a própria filha, nunca teve um amor. Com seu primeiro marido, o ator Eugênio Pascoal --com quem fugiu de sua cidade, Santa Maria Madalena (a cerca de 220 km do Rio)-- teve praticamente uma relação de amizade. Dercy contava que sua primeira noite de núpcias foi traumatizante.
Após a morte do marido, se envolveu com Valdemar, que era casado. Aí veio o acrobata Vito Tadei, o jornalista Augusto Duarte, e seu amigo inseparável, por quem tinha uma paixão platônica, Homero Kossac. Ele, inclusive, viverá seu psicanalista na obra.
"Ele disse que chegaram a sair, trocar uns beijos ao luar", revelou Maria Adelaide.
Dentista por formação, Homero acabou virando ator e diretor ao conhecer Dercy.
Foi na casa de Kossac que autora e atriz se conheceram, em 1993, durante uma feijoada que ele fez para Dercy.
Maria Adelaide lembra do convite para o livro:"Em cinco minutos ela tinha determinado que, porque eu falava palavrão direitinho, era a pessoa certa para escrever sua biografia. Para ela, eu não era metida a besta".
Dercy de Verdade
Estreia da minissérie
QUANDO Previsto para 9/1, Globo
CLASSIFICAÇÃO não informada
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