Bichos
Descrição de chapéu The New York Times

Caçadores clandestinos são detidos após matar gorila prateado em Uganda

Rafiki era o líder do famoso grupo de gorilas Nkuringo

Ernie, o patriarca prateado de uma tropa de gorilas, no zoológico do Bronx em Nova York
Ernie, o patriarca prateado de uma tropa de gorilas, no zoológico do Bronx em Nova York - Damon Winter/The New York Times
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Michael Levenson
Nova York

Quatro caçadores clandestinos foram detidos esta semana por conta da morte de um raro gorila de dorso prateado no Bwindi Impenetrable National Park, de Uganda, uma reserva natural formada por colinas enevoadas e selvas densas que abriga cerca de metade da população mundial de gorilas de montanha, disseram as autoridades.

O gorila, conhecido como Rafiki, foi morto por um caçador clandestino armado com uma lança, de acordo com a Uganda Wildlife Authority. Rafiki, um gorila de idade estimada em cerca de 25 anos, era o líder do famoso grupo de gorilas Nkuringo, popular junto aos turistas há décadas.

A última vez que um gorila tinha sido morto com uma lança foi em junho de 2011, de acordo com o Programa Internacional de Conservação de Gorilas. Mas existem sinais de que a caça clandestina cresceu nos parques de proteção a gorilas, nos últimos meses, quando o turismo caiu devido à pandemia do coronavírus, disse a organização.

Guardas florestais encontraram o corpo de Rafiki em 2 de junho, um dia depois de ter surgido a informação de que ele tinha desaparecido do parque, anunciou a Uganda Wildlife Authority. Um relatório de autópsia demonstrou que um objeto ou implemento de ponta aguda havia penetrado seu abdome e perfurado seus órgãos internos, segundo as autoridades.

Um dos caçadores, Byamukama Felix, confessou ter matado o gorila em autodefesa, disseram as autoridades. Felix disse que estava caçando no parque em companhia de outro caçador clandestino, Bampabenda Evarist, e que eles encontraram o grupo Nkuringo de gorilas.

Felix, que é da aldeia de Murole, no oeste de Uganda, foi encontrado em posse de carne de porcos selvagens e de diversos implementos de caça, entre os quais uma lança, armadilhas de corda e um sino de caça para coleira de cachorro. Os itens foram encontrados em sua casa no dia 4 de junho, disseram as autoridades.

Felix disse que deu parte da carne de porco selvagem que tinha obtido a dois outros caçadores clandestinos, Museveni Valence e Mubangizi Yonasi, que foram detidos no dia 7 de junho, segundo as autoridades.

Em comunicado divulgado na sexta-feira passada (19), a Uganda Wildlife Authority disse que quatro homens estavam detidos em uma delegacia de polícia, e aguardavam julgamento. Um porta-voz da organização não respondeu a mensagens nas quais foram solicitadas informações adicionais.

No ano passado, o governo de Uganda aprovou uma lei severa que impõe penalidades duras contra os caçadores clandestinos que tomem determinadas espécies ameaçadas como presas. As penalidades podem incluir prisão perpétua.

Com uma área de quase 200 mil hectares no sudoeste de Uganda, na entrada do Vale do Rift, o Bwindi Impenetrable National Park abriga uma variedade deslumbrante de animais entre os quais babuínos, chimpanzés, elefantes e antílopes. O parque entrou para a lista de patrimônio natural da humanidade da Unesco em 1994, três anos depois de sua criação.

O parque é um refúgio essencial para os gorilas de montanha, que já estiveram à beira da extinção, de acordo com organizações conservacionistas.

O mais recente recenseamento, em 2018, identificou 1.063 gorilas de montanha vivendo na natureza, de acordo com o Dian Fossey Gorilla Fund. Cerca de 459 deles viviam no Bwindi Impenetrable National Park e na Reserva de Sarambwe, em um território adjacente na República Democrática do Congo, segundo a organização. A população restante vive na cadeia de montanhas de Virunga, entre Ruanda e o Congo.

Trinta anos atrás, havia apenas cerca de 240 gorilas nas Montanhas Virunga, e um número desconhecido deles em Bwindi, disse a organização. “Embora os gorilas de montanha raramente sejam caçados de forma deliberada por caçadores clandestinos, o incidente destaca as ameaças que existem contra a espécie”, na forma de armadilhas usadas para caçar antílopes, ataques de cães de caça e ferimentos causados por lanças, disse Anna Behm Masozera, diretora do Programa Internacional de Conservação de Gorilas.

Os gorilas de montanha também estão sob ameaça por conta da instabilidade política, da invasão de seu habitat por seres humanos e da degradação florestal, assim como por conta de doenças trazidas por seres humanos, como a gripe, pneumonia e ebola, de acordo com a African Wildlife Foundation.

Em um dos habitats críticos para os gorilas de montanha, o Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo, a caça clandestina, exploração madeireira e inquietação causada pelas guerras civis no país prejudicaram a população animal e tornaram o parque vulnerável a ataques por grupos de milícia. A força de 700 guardas florestais mantida pelo parque perdeu centenas de integrantes ao longo dos anos, mortos em confrontos.

Em 12 de abril, 12 guardas florestais estavam entre as 17 pessoas que foram mortas no parque, informaram as autoridades, em um dos piores massacres na história recente da instituição. O parque atribuiu a culpa pelo ataque a um grupo rebelde de Ruanda.

Com tradução de Paulo Migliacci

The New York Times
Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem