BBB 24: Buscas por racismo estrutural batem recorde no Brasil após entrevista de Wanessa
Pesquisa pelo termo foi a maior dos últimos cinco anos, de acordo com o Google Trends
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A entrevista que Wanessa Camargo, 45, concedeu ao Fantástico (Globo), alavancou as pesquisas por racismo estrutural na internet brasileira. O termo bateu o recorde de buscas no Google dos últimos cinco anos. A marca anterior era de novembro de 2020.
Segundo o Google Trends, o pico ocorreu às 23h do último domingo (17), quando o tema foi citado na entrevista de Renata Ceribelli com a cantora e participante desclassificada do BBB 24. A jornalista perguntou o que a entrevistada entendia por racismo estrutural, expressão usada por ela em um vídeo de desculpas publicado dias após ela deixar o reality show.
Wanessa foi expulsa por agressão ao participante Davi na madrugada do dia 2 de março. Antes de ser desclassificada, a cantora tentou isolar o adversário das outras pessoas do elenco, com o argumento de que ele era "agressivo, manipulador e desrespeitador".
"Eu me assustei com a forma como as pessoas estavam me vendo", respondeu Wanessa na entrevista. "Ser colocada em um lugar tão grave quanto a palavra racista, é uma roupa que eu não consigo vestir."
A cantora disse querer se tornar antirracista. "Escutei pessoas que têm lugar de fala sobre isso e reconheci que sou uma pessoa branca, privilegiada e que nunca vou saber como algumas palavras que para mim não têm nenhum efeito, para outras pessoas podem ter", explicou.
A pergunta da jornalista teve um motivo. No conteúdo divulgado pela própria ex-participante do BBB, cinco dias antes da entrevista ao Fantástico, ela avaliou a trajetória no reality. "Algumas das minhas falas e comportamentos em relação ao Davi se enquadram no racismo estrutural", reconheceu a cantora.
Logo depois da entrevista, a apresentadora Maju Coutinho ainda fez um discurso sobre o assunto que repercutiu nas redes sociais. "A gente só pode combater e acabar com aquilo que a gente reconhece existir", comentou. "Então é uma ótima oportunidade de trazer para o debate público o que é o racismo estrutural e principalmente como ele se apresenta em nossas vidas, como atitudes individuais contribuem para que ele exista, e para a gente ler com profundidade a respeito para não usar o conceito de forma equivocada e continuar reproduzindo violências."
O interesse por racismo estrutural no domingo da entrevista aumentou 11 vezes se comparado à semana do dia 10 de março, período da postagem nas redes da ex-sister, segundo o Google Trends.
As buscas da semana passada sobre o tema já eram expressivas. Elas atingiram índices semelhantes às pesquisas realizadas em novembro, quando é comemorado o Dia da Consciência Negra. Nesse mês, de acordo com a linha histórica da ferramenta do Google, são normalmente registrados os maiores índices de interesse pelo conceito acadêmico.
Parte do público do reality apontava que as ações de Wanessa poderiam ser enquadradas como descriminação racial. A repercussão fez até o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, se manifestar na web. "Vez ou outra, pelos motivos mais inusitados, o conceito de racismo estrutural volta a alimentar debates nas redes sociais", publicou o jurista no dia 14 de março, sem citar diretamente o programa.
Almeida é autor de um livro sobre o assunto, lançado em 2018. Na mensagem, ele demonstrou preocupação com os rumos que o uso do conceito tomou na sociedade. "O que mais me deixa impressionado nas polêmicas não é ver pessoas que nunca estudaram o tema ou que não são da academia distorcerem o conceito, mas o fato de pessoas supostamente estudiosas ou que vêm da academia falarem de algo que não conhecem ou de um livro que nunca leram", escreveu.
Em seguida, Almeida citou um trecho do seu livro onde se lê a explicação do que é racismo estrutural para ele. "Pensar o racismo como parte da estrutura não retira a responsabilidade individual sobre a prática de condutas racistas e não é álibi para racistas", diz o trecho. "Pelo contrário: entender que o racismo é estrutural, e não um ato isolado de um indivíduo ou de um grupo, nos torna ainda mais responsáveis pelo combate ao racismo e aos racistas."
O termo, porém, não é um consenso entre os intelectuais. Muniz Sodré, autor do livro "O Fascismo da Cor", lançado em 2023, questiona a expressão. Em entrevista à Folha, em março do ano passado, ele disse que o conceito é limitado para descrever as discriminações sofridas por pessoas negras.
"Não tenho nada contra falar em racismo estrutural, porque acho que, do ponto de vista político, é bom, é fácil. Dá um ancoramento para a ideia de racismo aqui no Brasil. Mas eu digo que ele não é estrutural", avaliou. Para Sodré, a definição mais precisa seria racismo institucional.