A volta do Oasis vai ser boa para muita coisa, menos para sua vida sexual
Teria a banda britânica tirado o sexo do lema sexo, drogas e rock'n'roll?
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Faz parte do processo de produção dessa coluna chamada X de SEXO observar os assuntos do momento e ver como eu posso colocar SEXO neles. Às vezes é muito fácil. Mas às vezes é quase impossível. Essa semana, por exemplo, os saudosos dos anos 90 e da MTV estão em polvorosa. Os irmãos Liam e Noel Gallagher, encarnações britânicas de Caim e Abel, deram um tempo numa briga que já dura uns 15 anos e vão fazer shows com a banda Oasis.
Revirei minha memória atrás de algo sexy envolvendo o grupo. Perguntei para meus amigos e não amigos se alguém tinha alguma história de sexo embalada pela voz escorregadia de Liam. Nada. Talvez, no imaginário popular, transa e Oasis não andem juntos. Eu disse talvez.
Não é um problema do brit pop! Inclusive o meu primeiro beijo foi ao som de Song 2, do Blur, música cuja melodia me leva para festas em inferninhos do centro da cidade, com luz negra e paredes pichadas, onde volta e meia tem alguém dando uns amassos pesados no canto. Também não tem nada a ver com a crise do rock, com o fato de que, para muita gente, esse gênero musical é coisa de velho e está fatalmente associado a tiozões conservadores que exalam a energia da impotência sexual.
Apesar de seus vários fãs equivocados, sigo achando o rock transante pra caramba em várias das suas vertentes. Já fui muito obcecada por Beatles, por exemplo, e hoje acho a banda meio molenga —o excesso de uso da canção "All you need is love" em casamento de hipsters e o pavoroso bloco de carnaval Sargento Pimenta do Rio de Janeiro contribuíram para desfazer a mística em torno do quarteto. Ainda assim, Come Together e Drive my Car têm lugar cativo na minha playlist de transar com alguém especial.
Os Rolling Stones são a personificação da energia sexual, que atinge seu ápice em Mick Jagger. Paint it Black, Satisfaction, Simpathy for the Devil são faixas para trepar em um carro em movimento, correndo risco de morte (não façam isso, apenas fantasiem). Aliás, taí uma banda que pra mim não tem erro. Na dúvida sobre o que ouvir na hora de transar, eles sempre me salvam com competência.
Para ficar na Grã-Bretanha, eu transaria muito feliz ouvindo Depeche Mode, Pet Shop Boys e New Order. Inclusive gostaria de ser um homem gay de 55 anos por um dia para aproveitar ao máximo a experiência de dançar nu na sala ao som dessas três e depois foder loucamente no tapete. Por outro lado, quando ouço The Cure, morro de vontade de pintar o cabelo de preto, cortar minha própria franja, viver um namoro intenso e fazer sexo com amor em um dia nublado e frio.
Mesmo o grunge pode me fazer enveredar pelas trilhas do tesão. Nirvana me faz querer transar com raiva de adolescente em Smells like teen spirit e melancolicamente, para espantar a tristeza, com Dumb. Pearl Jam me deixa deprimida e querendo morrer, mas mesmo no abismo da desgraça uma fagulha de safadeza pode surgir —quando eu tinha uns 16 anos o pessoal adorava se pegar ao som da lúgubre Last Kiss, que deve ter sido a trilha sonora da primeira vez de muita gente.
Porém, sou coerente com a minha idade e minha história. Eu estava em Porto Alegre em 2004 e nunca pude ser outra coisa além de uma indie. Indie que faz misturas estranhas na hora de se vestir, aquele All Star com uma meia arrastão e um vestido de brechó e um paletó de veludo.
Que um dia já sonhou em beijar o Julian Casablancas dos Strokes antes de perceber que ele parecia o Quico. Meu símbolo sexual e maior crush da história é Alex Turner, do Arctic Monkeys. Mas eu queria demais ir para um motel com o Alex Kapranos, do Franz Ferdinand, porque ele parece ser o roqueiro mais divertido do mundo.
Outra coisa que me atrai é a ideia de ir para uma noitada com a galera do Libertines! Não ia querer pegar nenhum deles porque todos têm dentes horríveis e cheiram demais, nenhum pau fica em pé desse jeito! Mas eu tenho certeza que, nessa festa, eu iria encontrar pelo menos um rapaz divertido de sorriso bonito, calça skinny rasgada e mullet para ir pra casa comigo. Indie rock me acende a memória da juventude, do frescor.
Mas Oasis... Não me entendam mal, eu gosto de Oasis. A banda marcou minha adolescência e de vez em quando me pego cantarolando Don’t look back in anger e Champagne Supernova. No entanto, nenhuma música da banda faz minhas glândulas de Bartholin trabalharem para me deixar molhada. Tampouco a imagem dos dois irmãos, que estão sempre com aquela cara de quem não entendeu nada. Acho que se tocasse Wonderwall no meio do sexo, meu corpo talvez adiasse o orgasmo à espera de que o sexo voltasse para o rock n’ roll. Eu disse talvez.