Último episódio de 'Xuxa, O Documentário' quase canoniza a apresentadora
Quem não for fanático talvez se incomode com o tom excessivamente elogioso
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Depois da tempestade, a bonança. Depois do tenso reencontro de Xuxa com Marlene Mattos, que terminou de forma amarga e dividiu opiniões, o amadurecimento, a serenidade, o final feliz.
A plataforma Globoplay liberou "Uma Velha Chocante" na noite desta quinta-feira (10), o quinto e último episódio da série "Xuxa, o Documentário". O "chocante" do título não tem o sentido habitual da palavra, mas da gíria da década de 1980: algo realmente incrível.
Foi a própria apresentadora quem disse a Pedro Bial, numa entrevista de 1997, que gostaria de se tornar uma velha chocante no futuro. E este último capítulo da série se esforça para confirmar que sim, ela conseguiu.
As primeiras cenas relembram os primórdios da carreira de modelo de Xuxa, que começou a desfilar num clube em Coroa Grande, a cidade no litoral fluminense onde passava as férias, por volta dos 15 anos de idade.
A beleza e a desenvoltura da moça logo a levaram para longe. É divertido saber que ela precisava apertar uma caneta entre os dentes para fazer a "cara de tesão" que os fotógrafos lhe pediam para fazer. Xuxa ainda era virgem, o que também fez com que as colegas a apelidassem de "Cabação".
A relação com Pelé é narrada em detalhes, e o encontro com sua grande amiga Luiza Brunet chega a emocionar. Só quem viveu o ano de 1982 tem noção do estardalhaço que as duas protagonizaram, aparecendo nas capas de todas as revistas –inclusive as masculinas, que o episódio faz questão de ignorar.
A conversa com Luiza logo descamba para os abusos que ambas sofreram ao longo da vida, desde a mais tenra idade. É chocante, no sentido habitual, perceber que, até pouco tempo, vítimas como elas nem se davam conta do horror por que passavam.
Xuxa confessa que até hoje se sente culpada pelo que sofreu nas mãos de parentes e amigos dos pais. Que sempre lava muito as partes íntimas, a ponto de desenvolver uma infecção urinária crônica.
Depois desse momento barra pesada, "Uma Velha Chocante" muda de tom. Há uma breve recapitulação de todos os programas que ela comandou na Globo, e uma análise de Boni, ex-diretor geral da emissora, sobre a sobrevivência da carreira de apresentadora. Que, a meu ver, não foi de todo bem-sucedida: ela não conseguiu transicionar plenamente para o público adulto, depois de eixar de fazer programas infantis.
A passagem de seis anos pela Record é mencionada rapidamente, e ilustrada apenas com fotos –dá para perceber que a emissora dos bispos não liberou imagens das atrações que Xuxa estrelou por lá.
Por fim, o foco recai em Junno Andrade, companheiro de Xuxa há mais de uma década. A primeira vez em que os dois se viram foi num programa dela, na década de 1990, onde ele foi se apresentar como cantor. É nítida a atração mútua desde o começo; lá pelo quarto ou quinto encontro em frente às câmeras, Xuxa está quase pulando no pescoço daquele rapagão cabeludo.
Mas quis o destino que os dois só se esbarrassem novamente muito tempo depois. E aí, foi para valer: Xuxa queria que Junno fosse apenas seu "P. A." (pau amigo...), mas já o apresentou como namorado para a filha, Sasha. Estão juntos até hoje.
E assim termina "Xuxa, o Documentário": com depoimentos de grandes nomes como Tom Jobim, Jorge Amado, Hebe Camargo, Chacrinha, Jô Soares, todos louvando a Rainha dos Baixinhos. Xuxa é celebrada por sua beleza perene e por ter "acordado para a vida", nas palavras de Sergio Mallandro. Ou seja, é praticamente canonizada.
Não poderia se esperar outra coisa de uma série que foi produzida não só com a autorização, mas com a ativa participação de sua biografada. Os fãs de carteirinha vão adorar; os demais, talvez se incomodem com a enxurrada de elogios.
Mas isso não diminui o valor do programa, que realmente traça um retrato abrangente de um ícone da cultura popular brasileira. Com 60 anos recém-completados, Xuxa mostra que ainda tem o que dizer, e há muita gente disposta a ouvi-la.