No dia 9 de março, Caetano Veloso, sua mulher, Paula Lavigne, e mais um grupo de artistas irão a Brasília para uma reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD – MG). A ideia é sensibilizar o político acerca dos diversos projetos de lei em tramitação que ameaçam o meio ambiente.

O ex-ministro da área, Ricardo Salles, viu na notícia uma oportunidade de atiçar sua base e se manter em evidência. É algo frequente em sua agenda: na semana anterior, Salles postou uma capa falsa da revista Time com uma impossível chamada em português, celebrando o fictício prêmio Nobel da Paz conquistado por Jair Bolsonaro por ter evitado a guerra entre a Ucrânia e a Rússia.

Bolsonaro nem tocou no assunto quando esteve em Moscou visitando Vladimir Putin, e seus imaginários esforços pela paz não deram certo. No momento em que escrevo esta coluna, as tropas russas se aproximam de Kiev, a capital da Ucrânia, e já se contabilizam centenas de mortos.

As fake news espalhadas por Salles eram tão óbvias que ele se saiu com um "era só brincadeira". Mesmo assim, boa parte dos fanáticos pelo presidente comprou a fábula de que ele foi à Rússia em missão divina pela paz. O problema é que a esmagadora maioria dos internautas riu de Salles e de sua cara de pau. O ex-ministro ainda se rebaixa ao bajular um governante que o demitiu sem a menor cerimônia. Será que esta é uma tática inteligente?

Em seu tuíte atacando a reunião promovida por Paula e Caetano, postado na quarta (23), Ricardo Salles ainda disse que artistas "gostam mesmo é da Lei Rouanet". Mais uma vez, ele joga com a desinformação e com o preconceito que viceja entre os militantes da extrema direita. Aposto que poucos deles sabem explicar como funciona a Lei Rouanet ou qualquer outro mecanismo estatal de incentivo à cultura.

Foi então que a sempre loquaz Anitta resolveu entrar na conversa. "E a gente por um acaso é político pra ficar fazendo o trabalho de vocês?", interpelou a cantora. "Mas ainda assim a gente dedica nosso tempo a consertar as bostas que vocês fazem e trazer informação pro povo pra ver se não dá a cagada de novo de te eleger deputado nas próximas eleições pra você se safar".

Desabituado ao confronto direto, Salles apelou. Chamou Anitta de "burrita" e disse que só debateria com ela quando a cantora soletrasse "paralelepípedo" sem usar teleprompter. A escolha da palavra foi infeliz: ela é longa, mas não exatamente difícil de soletrar.

Pior ainda foi desafiar alguém a saber as regras da língua portuguesa. Salles foi de um governo do qual também fazem ou fizeram parte luminares como Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação (!) e Mário Frias, secretário da Cultura (!!), que massacram a última flor do Lácio a cada tuíte que regurgitam.

Mas o momento mais divertido da treta foi quando Salles lembrou que Anitta tem uma tatuagem no ânus. Levou de volta uma resposta épica, que já entrou para os anais (perdão pelo trocadilho) da história: "só não vale falar do meu c* pq este serve mais à sociedade que vc".

Na quinta (24), o próprio Caetano Veloso resolveu se manifestar. Foi curto, mas não grosso. Com a elegância que lhe é peculiar, o cantor e compositor usou seu próprio meme para atacar Salles: aquele que tem por legenda "Como você é burro, cara".

Caetano tem razão. Ricardo Salles realmente é burro, e não só por usar táticas duvidosas em sua campanha para se eleger deputado federal por São Paulo em outubro.

É burro porque não entende nada sobre o meio ambiente. Para ele, o que importa é "passar a boiada" de leis que flexibilizam o desmatamento e favorecem madeireiras, garimpeiros e o agronegócio mais atrasado. Essa turma quer destruir o que puder, tendo em vista o lucro mais imediato, e danem-se as gerações futuras.

Só que o futuro já chegou. As mudanças climáticas causadas pelo desmatamento e pela poluição já vêm provocando cataclismos no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Um regime de chuvas alterado é ruim para o próprio agronegócio. Mas Ricardo Salles não está nem aí. Ele só quer lacrar nas redes sociais . Pode até ser eleito em outubro, mas continuará sendo burro.