'Além da Ilusão' marca volta do novelão raiz para a faixa das 18h da Globo
Novela estreou focando o escapismo, sem levantar discussões sociais
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Escravidão, guerra, mulheres submetidas ao mais violento machismo. Tudo isto ficou para trás com o final de "Nos Tempos do Imperador", na última sexta (4). Sua sucessora, "Além da Ilusão", trouxe tons pastéis para o horário das 18 horas da Globo, conhecido pelas tramas leves e românticas.
A primeira novela de Alessandra Poggi como autora titular tem sabor de pudim da vovó e a difícil missão de reerguer os índices de audiência. Talvez por isto mesmo, não pareça arriscar muito: tudo é familiar, e vai ver que é isto o que o público quer neste momento.
Não que seja proposital. Ambientada na década de 1930, "Além da Ilusão" deveria ter estreado no segundo semestre de 2020, marcando a chegada de Larissa Manoela à emissora. A pandemia, claro, atrapalhou os planos. Mas é comum que o horário alterne histórias mais densas com outras em maiores elucubrações.
Aqui o plot central é o mais básico de toda a teledramaturgia. Moço pobre se apaixona por moça rica, e o pai dela é contra. O maior diferencial é que, dessa vez, o rapaz –Davi, um mágico de rua vivido por Rafael Vitti– irá se apaixonar por duas moças ricas, da mesma família.
Primeiro pela irmã mais velha, Elisa, papel de Larissa Manoela. Mas esta morre, e Davi é preso por um crime que não cometeu. Anos mais tarde, ele reencontra Isadora, que era uma criança na primeira fase da novela. Na segunda, ela é uma sósia perfeita de Elisa –tanto que, numa certa forçação de barra, também é interpretada por Larissa Manoela.
O primeiro capítulo, que foi ao ar nesta segunda (7), flutuou como o balão de gás que Davi deixa escapar para impressionar a pequena Isadora, que assiste a seu número numa praça de Poços de Caldas. Depois ele é perseguido por homens que se sentiram ludibriados e querem de volta as moedas que gastaram. A dona da pensão onde ele vive, feita por Andrea Dantas, também quer que ele pague os aluguéis atrasados. Mas ela é simpática ao rapaz, e quer de fato ajudá-lo a tomar prumo na vida.
Ou seja: pouquíssimos momentos de tensão envolvendo o ilusionista. Conflito para valer só pintou na áspera discussão entre Violeta, mãe de Elisa e Isadora, e sua irmã Heloísa. A primeira, papel de Malu Galli, se recusa a vender as terras do engenho do pai –que inclusive ainda está vivo, na pele de Lima Duarte.
A outra, encarnada por Paloma Duarte –neta de Lima na vida real– quer passar sua parte nos cobres e se escafeder. Ficamos sabendo também que ela teve um filho que lhe foi arrancado dos braços, pois se recusou a dizer quem era o pai.
Para não dizer que foi só isto, um último obstáculo surgiu na cena final do episódio: a banda que tocaria na festa de aniversário de Elisa sofreu um acidente na estrada e irá se atrasar. Para entreter os convidados, ela aceita uma sugestão da irmã menor e convida Davi, que está trabalhando como garçom no baile, para fazer alguns números de mágica. O capítulo termina com os dois trocando olhares pela primeira vez.
Duas atuações me chamaram a atenção. Uma delas, pela qualidade. Como é que Paloma Duarte passou tantos anos fazendo porcarias na Record, quando poderia ter sido bem melhor aproveitada pela Globo? A atriz honra a família de onde vem (sua mãe é Débora Duarte) e ainda mostra que possui brilho próprio.
Já Larissa Manoela... Não sei. Ela me parece ter vindo direto do túnel do tempo, de algum folhetim descabelado de Glória Magadan. Seu visual e seu jeito de interpretar são antediluvianos. Talvez seja culpa dos anos passados no SBT, sem um bom diretor que esculpisse seu talento. Carisma ela tem, é claro, caso contrário não acumularia tantos milhões de seguidores nas redes sociais. Mas, como atriz e como estrela da TV contemporânea, Larissa ainda não me convenceu.
Dezenas de personagens secundários ainda estão por aparecer, assim como inúmeras tramas paralelas. "Além da Ilusão" não vai ser só fofura e algodão-doce. Mas, neste capítulo de estreia, a novela só tocou de leve num tema social –quando Elisa exaltou o voto feminino– preferindo focar o escapismo. A bem da verdade, não há nada de errado com isto.