'Quanto Mais Vida Melhor!' parece uma colcha de retalhos de outras obras
Novela de Mauro Wilson não corre riscos nem traz novidades
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A maré não está favorável às novelas inéditas da Globo. A pandemia parece ter desabituado o público de assistir aos folhetins diários, sempre no mesmo horário. Tanto "Nos Tempos do Imperador" como "Um Lugar ao Sol" vêm tendo um desempenho no Ibope abaixo das expectativas.
Cabe agora a "Quanto Mais Vida, Melhor!", a nova ocupante da faixa das 19 horas, recuperar a audiência perdida. Mas a trama de Mauro Wilson, que começa com a queda de um avião, deu o azar de estrear pouco mais de duas semanas depois do acidente aéreo que matou Marília Mendonça.
Fatalidades são imprevisíveis. Em tudo o que pode ser controlado, a Globo parece ter decidido não correr riscos. Com um elenco cheio de caras conhecidíssimas e situações que remetem a dezenas de outras obras, "Quanto Mais Vida, Melhor!" parece ter sido criada em laboratório.
Neném, o romântico jogador de futebol vivido por Vladimir Brichta, lembra o Tufão de "Avenida Brasil". Paula, a poderosa empresária feita por Giovanna Antonelli, é nitidamente decalcada na Miranda Priestley de "O Diabo Veste Prada".
Valentina Herszage interpreta Flávia, uma dançarina de pole dance –o nome da personagem soa como uma homenagem a Flavia Alessandra, que teve um papel parecido em "Duas Caras". E por que todo cirurgião bem-sucedido da nossa teledramaturgia precisa ser um canalha, como o Guilherme de Mateus Solano e o Felipe Barreto de "O Dono do Mundo"?
O plot principal de "Quanto Mais Vida, Melhor!" também já foi visto várias vezes: alguém morre, mas ganha uma segunda chance para voltar à Terra e consertar a vida que levava antes. Mas não é grave que essa ideia não seja das mais originais. O importante é a maneira como essa história vai ser contada.
Os quatro personagens já citados se conhecem no aeroporto. Num dia chuvoso, Guilherme aluga um avião para ir do Rio para São Paulo, e acaba dando carona para Paula e Neném. Valentina entra como clandestina nesse voo, fazendo-se passar por aeromoça.
O avião cai, e o capítulo termina com os quatro constatando que estão mortos. A aguardada cena em que a Morte resolve dar a eles uma segunda chance ficou para esta terça (23). Ela também dará um aviso ao quarteto: um deles morrerá para valer dentro de um ano.
Apesar desta premissa sombria, "Quanto Mais Vida, Melhor!" promete ser uma comédia escapista, com um número musical por semana. Os quatro protagonistas irão se envolver entre si, e um conflito já se anuncia: Neném é apaixonado há anos por Rose (Bárbara Colen, revelada por "Bacurau", debutando no gênero), a mulher de Guilherme.
As cenas da queda do avião foram espetaculares, comprovando mais uma vez a habilidade do departamento de efeitos visuais da Globo. Os protagonistas também tiveram suas histórias pessoais bem apresentadas, em cenas rápidas e sem gordura. A direção artística de Allan Fiterman merece aplausos, mas essa agilidade talvez se deva ao fato de todos os quatro serem arquétipos que já conhecemos bem.
É aí que mora o perigo. "Quanto Mais Vida, Melhor!" ainda não mostrou ter personalidade própria. É justo fazer tal cobrança tão cedo? Sim, se lembrarmos que "Um Lugar ao Sol" chegou chegando logo no primeiro episódio.
Claro que a novela ainda tem tempo para engrenar. Mas não para corrigir a rota: já está quase toda gravada. Se for mesmo uma colcha de retalhos, pouco poderá ser feito.
E um defeito grave vem de nascença: por que nenhum dos quatro protagonistas é negro?