'Segunda Chamada' dá chance a atores pouco conhecidos, entre novatos e veteranos
Lançada diretamente no streaming, série voltou ainda mais impactante
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As gravações da segunda temporada de “Segunda Chamada” praticamente emendaram com as da primeira. A ideia era estrear a nova fase ainda no começo de 2020. Muitas cenas já estavam prontas quando, em março do ano passado, foi decretada a pandemia.
Os trabalhos tiveram que ser interrompidos bruscamente, como os de toda a teledramaturgia da Globo. Retomados em novembro, sofreram novas paradas quando integrantes da equipe contraíram Covid-19.
Com os custos indo para a estratosfera, a emissora foi obrigada a encolher o projeto. Os 12 episódios previstos foram condensados em apenas seis. Várias subtramas precisaram ser abreviadas, ou simplesmente postas de lado.
Por incrível que pareça, esta redução não fez mal à qualidade da série. Recém-lançada na plataforma Globoplay, mas ainda sem previsão de exibição na TV aberta, esta segunda temporada tem a potência de uma bomba atômica.
Um novo ano letivo começa na fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. No entanto, o curso noturno para adultos corre o risco de ser fechado: o número de matrículas caiu, e simplesmente não há alunos o suficiente.
É então que a professora Lúcia, vivida por Debora Bloch, tem uma ideia radical: chamar pessoas em situação de rua para frequentar os bancos escolares. Com isto o quórum mínimo é atingido, mas novos problemas não tardam a eclodir.
Gravada inteiramente em locações em São Paulo, com o apoio da produtora O2, “Segunda Chamada” forma, ao lado de “Carcereiros” e “Sob Pressão”, a tríade de séries da Globo que abordam aspectos cruciais da problemática brasileira –respectivamente, a educação, a segurança e a saúde pública.
A primeira temporada mostrou um universo heterogêneo de alunos, que incluíam uma mulher transexual, uma idosa que estudava escondida do marido e uma moça que tentava interromper uma gravidez. Além dos moradores de rua, a segunda também tem um indígena, um cadeirante e um senhor com Alzheimer. Sem falar, é claro, nos dramas pessoais dos professores.
A imensa galeria de personagens permite que vários atores pouco conhecidos do público, entre novatos e veteranos, tenham a chance de brilhar. A precisa escalação do elenco merece todos os aplausos.
Não dá para destacar alguns nomes sem cometer injustiças, porque todos estão muito bem. Mesmo assim, vamos lá. Impossível não se emocionar com a atriz mineira Rejane Faria, que faz uma analfabeta; o pernambucano Pedro Wagner, intérprete do pai de um pré-adolescente; ou o lendário Moacyr Franco, história viva da televisão brasileira. E ainda tem a incrível Tamirys O’Hanna, num papel que não pode ser mencionado, sob o risco de spoiler.
“Segunda Chamada” não é para os fracos. A nova temporada fala de violência contra a mulher, capacitismo, homofobia e desigualdade social, sem esquecer das mazelas da educação –e tudo isto, com uma certa dose de melodrama.
Mesmo assim, as autoras Carla Faour e Julia Spadaccini nunca tornam o prato indigesto: há sempre um raio de esperança, mesmo nas situações mais desalentadoras. Pode-se dizer que elas até pegaram leve com o grupo de moradores de rua, em que não há nenhum deficiente mental ou viciado em drogas, tão frequentes na vida real.
É uma pena que, com a diminuição do número de episódios, o anunciado romance entre Lucia e Hélio, papel de Ângelo Antonio, seja apenas sugerido. Ou que um ator do tamanho de Flávio Bauraqui faça pouco mais do que figuração, depois que a história de seu personagem teve que ser descartada.
Por outro lado, “Segunda Chamada” ficou mais ágil e concentrada –e, portanto, mais poderosa. É a consagração da diretora-artística Joana Jabace, que se firma como um dos expoentes da nova geração da Globo. Também é, tranquilamente, o melhor produto audiovisual brasileiro lançado em 2021.