Tony Goes

Netflix se aproxima mais da TV aberta com sitcom de Rodrigo Sant'Anna

'A Sogra que te Pariu' tem formato semelhante a 'Sai de Baixo' e 'Vai que Cola'

"A Sogra Que Te Pariu", com Rodrigo Sant’Anna no papel de Dona Isadir - Vitor Novaes/Netflix

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A concorrência entre as plataformas de streaming está se acirrando. Só nos últimos dois meses, dois grandes players entraram no mercado nacional: a HBO Max, ligado ao conglomerado WarnerMedia, e a Star +, que substituiu a Fox Premium e pertence à Disney.

Cada uma tem sua própria estratégia. A HBO Max jogou o valor da assinatura lá embaixo, tática também seguida pela Amazon Prime Video e pela Apple TV +. Já a Star + vem com preços mais salgados, apesar de seu catálogo ainda não oferecer muitas novidades. Enquanto isto, o Globoplay investe em novelas mexicanas e turcas, e ainda conta com um trunfo exclusivo: o imenso acervo da Globo, com programas que marcaram gerações de brasileiros.

Neste cenário aquecido, chama atenção a postura da Netflix, a pioneira do ramo. Durante alguns anos, a plataforma teve quase que o mercado inteiro só para si, e inovou ao lançar temporadas completas de suas séries originais, criando um novo hábito: o binge-watching, ou a maratona.

Também internacionalizou o gosto do espectador tupiniquim, trazendo para cá produções em língua não-inglesa que fizeram sucesso, como a espanhola “La Casa de Papel” ou a francesa “Lupin”.

Mas, de uns tempos para cá, a Netflix vem sendo acusada de priorizar a quantidade em detrimento da qualidade. Dezenas de novos títulos são disponibilizados todas as semanas, mas poucos têm a qualidade da série argentina “Vosso Reino” ou da americana “The Chair”. Reality shows de gosto duvidoso e atrações francamente apelativas têm se tornado comuns.

É cada vez mais nítido que a Netflix procura se aproximar da oferta da TV aberta. O serviço já avisou que irá produzir novelas no Brasil, como conta Cristina Padiglione em matéria publicada na Folha no domingo (29). Nesta quarta (1º), anunciou que produzirá sua primeira sitcom “multicamera” no país, "A Sogra que te Pariu", criada e estrelada por Rodrigo Sant’Anna.

O que quer dizer “multicamera”? O termo foi criado nos Estados Unidos para definir as séries cômicas gravadas diante de uma plateia, com três ou mais câmeras simultâneas. “Friends”, “Seinfeld” e “The Big Bang Theory” são exemplares do gênero, que surgiu na década de 1950 com “I Love Lucy”. Mas, recentemente, saiu de moda: sitcoms como “Ted Lasso”, “Veep” ou “Modern Family” são “single camera”, filmadas com uma câmera só e sem plateia.

No Brasil, o estilo “multicamera” caiu no gosto do povo desde os tempos de “Família Trapo”, sucesso da Record nos anos 1960. O programa era gravado num teatro, e costumava mostrar a plateia gargalhando e aplaudindo, coisa que nenhuma série americana faz. O mesmo esquema foi retomado por “Sai de Baixo”, que a Globo produziu entre 1996 e 2002, e depois pelo canal pago Multishow, a partir de “Vai Que Cola”, lançada em 2013.

“A Sogra que te Pariu” também sinaliza duas grandes tendências do momento. Uma delas é a forte presença de atores pretos e pardos no elenco: a diversidade finalmente está dando as caras na nossa telinha. A outra é a diáspora de ex-contratados da Globo pelas diversas plataformas de streaming. Rodrigo Sant’Anna saiu da emissora depois que acabou o Zorra, e encontrou guarida na Netflix para seu novo projeto. Reynaldo Gianecchini, outro ex-global, em breve será visto na segunda temporada da série policial “Bom Dia, Verônica”.

Dois anos atrás, a Netflix lançou uma sitcom brasileira extremamente sofisticada, “Ninguém Está Olhando”, que discutia temas como religião e livre arbítrio. A série conquistou o prêmio Emmy Internacional de melhor comédia do ano, mas foi cancelada depois de uma única temporada.

Agora o serviço parece buscar o espectador da TV aberta, com um humor de apelo mais direto, num formato consagrado no país. Dá para criticar? Só se o resultado final for muito ruim. Como estratégia de marketing, faz todo sentido.