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Tony Goes

Final surpreendente não compensa o ritmo irregular de 'Por Trás de Seus Olhos'

Com toques do sobrenatural, minissérie da Netflix já é sucesso no mundo

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Cena da série "Por Trás de seus Olhos" Nick Wall/Netflix

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Louise é uma mulher divorciada, mãe de um garotinho. Uma noite, ela deixa o filho com uma babá para tomar um drink com uma amiga. Acaba levando um cano e, para não perder a viagem, engata uma conversa com David, um bonitão que conhece no bar. Os dois se beijam ao se despedirem, mas não trocam nomes nem telefones.

No dia seguinte, Louise tem uma surpresa: o cara é o novo psiquiatra do consultório onde ela trabalha como secretária, três dias por semana. Para piorar, também é casado. Incomodada, Louise avisa a seu novo patrão que não quer mais nada com ele. Só que, mais tarde, ela literalmente esbarra no meio da rua em Adele, a mulher de David, que a convida para um café. As duas ficam amigas.

Ao longo de seus três primeiros episódios, “Por Trás de Seus Olhos” parece um drama sofisticado. Apesar das coincidências forçadíssimas, o complicado relacionamento triangular é um tema promissor. Louise está encantada com Adele, que parece entender todas suas dúvidas. E está se apaixonando por David, com quem, inevitavelmente, começa a ter um caso. Não quer abrir mão de ninguém e não conta para um que também está envolvida com o outro.

Mas a abordagem da minissérie não é de todo realista. Louise sofre de “terrores noturnos”: pesadelos terríveis que a afligem desde criança. Adele conta que também sofria do mesmo mal, mas aprendeu a controlar os próprios sonhos e ensina à amiga como fazê-lo. Ao mesmo tempo, emergem detalhes da vida anterior de Adele: seus pais morreram num incêndio; ela passou um tempo internada numa clínica para doentes mentais, onde ficou muito amiga de Rob, um rapaz gay.

A partir do quarto episódio, “Por Trás de Seus Olhos” vira uma doideira. A mudança é brusca e bem pouco orgânica. O espectador tem a sensação de que está vendo dois programas diferentes, colados juntos de qualquer jeito.

Eve também domina a técnica da “projeção astral” que ela chama de “viagem”. Consegue fazer com que sua alma saia do corpo e voe por aí, espionando lugares e pessoas conhecidas. Nos flashbacks, ela ensina o segredo a Rob e logo seus diáfanos ectoplasmas estão flanando pelo sanatório, lembrando as fadinhas da versão da Disney para "A Bela Adormecida". No presente, Adele também ensina a misteriosa habilidade a Louise. E mais não posso contar.

Baseada no best-seller de Sarah Pinborough e roteirizada por Angela LaManna e Steve Lightfoot, “Por Trás de Seus Olhos” é o mais novo hit global da Netflix. Espectadores do mundo inteiro vêm devorando a série, que traz duas grandes surpresas em seu sexto e último episódio.

Mas o impacto seria muito maior se fossem menos capítulos ou mesmo um único filme em longa-metragem. Os roteiristas esgarçam a trama a mais não poder, e o diretor Erik Richter Strand não adota um tom homogêneo, prejudicando o ritmo e a compreensão.

Dos quatro atores principais, só um deixa a desejar: Tom Bateman, que não consegue dar mais do que um espesso sotaque escocês ao psiquiatra David. A culpa não é só dele, pois o personagem é o menos desenvolvido de todos.

Já Eve Hawson está muito bem como Adele, que alterna momentos de extrema fragilidade com outros de fúria assustadora. Mas os destaques vão mesmo para Simona Brown que faz uma Louise que pensa com os olhos, e Robert Aramayo, impressionante como Rob. Guarde este nome: ele será um dos astros da série “O Senhor dos Anéis”, que está sendo produzida pela Amazon.

Mesmo com tantos talentos na ficha técnica, “Por Trás de Seus Olhos” é uma experiência frustrante. As duas puxadas de tapete na reta final não compensam o marasmo dos primeiros episódios ou as incongruências dos protagonistas. A guinada para o sobrenatural chega tarde e tem cheiro de enganação. Ainda assim, pode ser divertido adivinhar o que vai acontecer. O desfecho é de arrepiar os cabelos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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