A Fazenda 12: Temporada de 2020 passou longe do debate sobre grandes temas sociais
Ao contrário do BBB, reality da Record não discutiu racismo nem machismo
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Com a eliminação de Jakelyne Oliveira nesta quinta (3), A Fazenda 12 perde uma de suas melhores jogadoras. A ex-miss Brasil foi fazendeira algumas vezes, venceu várias provas e se notabilizou pela habilidade estratégica, sem entrar em grandes atritos com ninguém. Mas, no quesito carisma, não foi páreo para Jojo Todynho e Biel.
Jake foi para a roça com os dois grandes favoritos desta edição, muito mais conhecidos do que ela e donos de fandoms mobilizados. Vai fazer falta, é claro –mas, a essa altura, qualquer um vai fazer falta. Só restam oito peões na disputa, e quatro deles serão eliminados antes da grande final.
Não é arriscado dizer que o campeão da temporada será Biel ou Jojo. Com suas personalidades fortes, os dois se destacaram desde o início. Salvo algum acidente de percurso, terminarão nos dois primeiros lugares. A ordem ainda é incerta, mas, tendo em vista os números desta última roça –27,20% para Jake, 33,52% para Biel e 39,28% para Jojo– eu cravaria o nome d a funkeira.
Outra coisa também está clara: ao contrário do que previam alguns colunistas (eu, inclusive), esta edição de A Fazenda passou ao largo dos grandes temas sociais. Discussões sobre racismo, machismo, homofobia e desigualdade, que deram um tom indiscutivelmente político ao BBB 20, mal deram as caras no reality da Record.
Nas primeiras semanas, eu até pensei que veríamos um reboot do programa da Globo. Tanto em A Fazenda como no BBB, os primeiros defenestrados foram todos homens. Mas o matriarcado só se instalou em Curicica. Em Itapecerica, as mulheres jogaram desunidas, sem nem sombra de sororidade. Cada uma correu atrás do seu, e muitas se deram mal de cara.
A questão racial, um dos temas incontornáveis de 2020, tampouco aflorou. As duas peoas negras, Lidi e Jojo, não só não juntaram forças como ainda se tornaram grandes rivais. Acontece: às vezes, temperamentos e idiossincrasias pessoais se sobrepõem à causa comum.
A que se deve este baixo teor de politização? É lícito suspeitar da própria Record. Ardente apoiadora de Jair Bolsonaro, a emissora dos bispos não tem por que deixar que assuntos desagradáveis ao governo sejam debatidos em sua atração de maior audiência.
Nem mesmo o erotismo, um ingrediente indispensável dos realities de confinamento, ganhou muito cartaz. A tesoura interna andou cortando da edição os beijos mais calientes, e não apenas entre jogadores do mesmo sexo. Essa fazenda está mais para um convento...
Com a vitória de Thelma de Assis no BBB 20, os espectadores quiseram dar um final feliz à narrativa de uma mulher negra que superou inúmeras dificuldades para se tornar uma médica bem-sucedida e um ser humano encantador.
A Fazenda 12 pode sinalizar uma tendência oposta da sociedade brasileira. Uma possível vitória de Biel, que entrou na competição para limpar a própria imagem de acusações de assédio sexual e negação de socorro à vítima de um acidente, vai confirmar que pelo menos uma parte do público não está nem aí para detalhes como caráter, respeito e solidariedade. Tomara que isto não aconteça, mas o jogo ainda não terminou.