Um país que tem Felipe Neto ainda não está totalmente perdido
Entrevista ao Roda Viva demonstra que influenciador é uma das vozes mais lúcidas de sua geração
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Há algo de novo no ar. Algo que, a rigor, não deveria ser novo: maturidade, equilíbrio, clareza. Mas, no absurdo Brasil de 2020, esses atributos soam como uma grande novidade.
Há Anitta em busca de consciência política, promovendo lives com Gabriela Prioli em que assume sua ignorância, mas exibe uma enorme vontade de aprender. Há a própria Gabriela Prioli, que embasa com fatos suas opiniões, sem jamais posar de pedante. E há Felipe Neto.
Com apenas 32 anos de idade, o influenciador digital mais importante do país foi além de seus quase 38 milhões de seguidores no YouTube e 11,5 milhões no Twitter. Em entrevista ao Roda Viva (Cultura) desta segunda (18), ele mostrou que tem todos os requisitos para ser uma das figuras mais importantes do cenário brasileiro nas próximas décadas.
Verdade que a bancada pegou relativamente leve. Pecadilhos do passado de Felipe, que já tem anos como figura pública, foram abordados rapidamente. Ele mesmo admite que já errou muito, e que mudou de ideia e de atitudes inúmeras vezes. É mais interessante saber o que ele está fazendo agora, e o que vai fazer daqui para a frente.
Felipe Neto vai ingressar na carreira política? Mas ele já ingressou, ora essa. Para quê se candidatar a um cargo público, se ele já tem um “soft power” muito mais abrangente que o poder convencional de quase todos os deputados e senadores?
Não que ele seja uma unanimidade, longe disso. Desde que foi anunciado como o convidado do Roda Viva desta semana, a internet se dividiu. Muitos se gabavam de jamais terem ouvido falar dele antes. Outros se horrorizavam: mas é um moleque, um arrivista, que jamais deveria estar num programa frequentado por governadores e ministros do STF.
A estes últimos, três palavrinhas: bem-vindos a 2020. Menosprezar a importância de Felipe Neto é passar atestado de caduco. Ele tem nas mãos um público muito maior que o mais estrelado dos jornalistas. Um público jovem, que está amadurecendo com ele. Ignore-os por sua conta e risco.
Eu já fui um dos detratores do rapaz. Achava-o despreparado, desagradável, “rempli de soi même”. Mas como não ser cheio de si mesmo quando você se torna milionário, por esforço e talento próprios, antes dos 30 anos?
Só que Felipe é inteligente o bastante para enxergar além do próprio nariz. Ao contrário de outros influenciadores que ficaram presos em moldes ultrapassados (hello, Carlinhos Maia), Felipe abriu os olhos e viu o mundo ao redor. E não gostou do que viu.
Hoje ele dá voz a uma parcela imensa da população, que andava por aí perdida e anônima. Gente que se escandalizou com a corrupção dos governos do PT, e que se horrorizou ainda mais com a inépcia e o autoritarismo de Bolsonaro. Felipe, que já foi assumidamente antipetista (e provavelmente ainda é), surpreendeu a extrema-direita ao divulgar um vídeo antifascista que é um autêntico chamado às armas. Às que doem mais: as ideias e as atitudes.
Não, ele não é perfeito, nem finge que é. Mas, em sua faixa etária, ninguém anda dizendo coisas tão sensatas sobre assuntos tão díspares como meritocracia, depressão, homofobia, “cancelamentos” e o papel da imprensa.
O fato de existir alguém tão jovem, mas já tão equilibrado e aberto ao diálogo, me faz sentir que o Brasil talvez – talvez – ainda tenha jeito. Nem tudo está perdido, quando Felipe Neto foi capaz de crescer em frente às câmeras e trazer sua audiência junto com ele.