Tony Goes

Mesmo depois do caso Cocielo, ainda tem quem faça piadas racistas

Humorista Jacaré Banguela soltou tuíte preconceituoso sobre Jaden, filho de Will Smith

O humorista Rodrigo Fernandes comparou filho de Will Smith a flanelinha
O humorista Rodrigo Fernandes comparou filho de Will Smith a flanelinha - Reprodução/Instagram/jbanguela
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No começo de julho, o influenciador digital Júlio Cocielo postou em seu perfil no Twitter uma gracinha sobre o jogador Kylian Mbappé, da seleção francesa de futebol. Em referência à velocidade assombrosa do craque, Cocielo escreveu que “Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein” (sic).

Muita gente considerou a piada preconceituosa. O vlogueiro negou, mas alguns internautas logo resgataram tuítes antigos de Cocielo –de cunho não só racista, como também machista, homofóbico e gordofóbico. Não adiantou nada ele (ou sua equipe) apagar às pressas muitas dessas postagens. Júlio Cocielo perdeu todos os patrocínios que tinha, e finalmente pediu desculpas.

Parecia que o caso serviria de lição, tanto para as marcas que contratam youtubers sem checar o que eles dizem, como para os próprios influenciadores. Só que não.

Na segunda (16), o humorista Rodrigo Fernandes –também conhecido como Jacaré Banguela– não resistiu a comentar uma postagem no Instagram do cantor Will Smith, feita após a final da Copa do Mundo, em Moscou.

Smith, que se apresentou na festa de encerramento e assistiu à partida no estádio Luzhniki, publicou uma foto ao lado do filho Jaden. E Fernandes achou que seria engraçadíssimo dizer o seguinte: “Tenho quase certeza de que o filho de Will Smith me pediu dinheiro ontem na esquina da rua Haddock Lobo dizendo que tava olhando meu carro” (sic).

Nem adiantou o youtuber Pablo Peixoto pedir publicamente para o humorista apagar logo o tuíte. Rodrigo Fernandes só seguiu a sugestão do amigo no dia seguinte, quando o escândalo já havia se espalhado pelas redes sociais.

Mas não se arrependeu do que escreveu. Ao contrário: primeiro reclamou que os internautas eram “sensíveis demais”. Depois apagou mais essa postagem, e publicou uma nova: “Bem, o que eu fiz tá feito e apagado. Agora o julgamento é com vocês. Discordo de algumas opiniões, mas o espaço está aberto e o debate sempre será livre. Bom dia :)”.

Como sempre acontece em casos como esse, muitos seguidores de Fernandes vieram defendê-lo. Os argumentos são os mesmos de sempre: o mundo está ficando chato, daqui a pouco não será possível fazer graça com nada, muito mimimi, etc. etc. Procurei, mas não encontrei um único negro entre esses defensores.

Já existem apelos para que a produção do programa Eliana (SBT), do qual Fernandes participa, rompa qualquer vínculo com o humorista. E também circula uma curiosa teoria: o Jacaré Banguela teria feito tudo de propósito, para causar comoção e ganhar seguidores.

Será? Chegamos a esse ponto? Nem duvido, mas as consequências negativas para Fernandes podem ser muito maiores que as positivas. Ele pode até lotar mais seus shows de standup, e dificilmente deixará de participar de programas do SBT –é bom lembrar que a emissora correu para contratar o apresentador Marcão do Povo, depois que ele foi demitido da Record por ter chamado a cantora Ludmilla de “pobre macaca”.

Mas patrocinador algum vai querer chegar perto do Jacaré Banguela. Os grandes anunciantes estão atordoados com a reputação de alguns influenciadores, e irão pensar muitas vezes antes de investir em qualquer um deles.

De qualquer forma, o racismo existe há séculos, e está impregnado na nossa cultura. Não vai ser um bafafá na internet que vai conseguir extirpá-lo, mas a luta continua.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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