'Não podemos ser tolerantes com o preconceito', diz Maria Bopp, a Bruna Surfistinha da TV
Atriz estrela a série Me Chama de Bruna, que chega à última temporada
Quatro anos atrás, a paulistana Maria Bopp, 28, ostentava um único crédito em seu currículo de atriz: um personagem coadjuvante na série “Oscar Freire 279”, cuja única temporada foi exibida pelo canal Multishow entre 2011 e 2012.
Maria deu mais sorte em seu segundo trabalho para a TV. Conquistou nada menos do que o papel principal em “Me Chama de Bruna” (Fox Premium), série livremente inspirada nas memórias da ex-prostituta Raquel Pacheco – mais conhecida como Bruna Surfistinha, que virou filme com Deborah Secco, em 2011.
O programa se tornou um sucesso internacional. Foi vendido para mais de 50 países, da Nova Zelândia à Arábia Saudita. No entanto, mesmo gerando empregos e trazendo divisas para o Brasil, atraiu a ira de setores reacionários.
Em julho passado, “Me Chama de Bruna” foi incluído em um documento elaborado pelo obscuro Movimento Brasil 2100 Cultura, que listava obras supostamente não merecedoras de financiamento público. O texto chegou às mãos do presidente Jair Bolsonaro, que trocou as bolas e declarou: “Não posso permitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha”.
Àquela altura, a quarta e última temporada de “Me Chama de Bruna” já havia sido gravada. Mesmo assim, Maria Bopp postou um longo texto em seu perfil no Instagram, defendendo seu trabalho na série.
“Não falar sobre prostituição não vai fazer ela (sic) deixar de existir, por mais que não queiram”, escreveu a atriz. “Assim como eu não gostaria que milicianos existissem, nem assassinos que moram no mesmo condomínio que o presidente, nem ignorantes inaptos ocupando cargos que não lhes cabem”.
Meses depois, Maria está aprendendo a viver sem a personagem que marcou sua vida. Fez teatro pela primeira vez, com as peças “Dolores” e “Fim de Jogo”, que tiveram curtas temporadas em São Paulo. Também participou do programa argentino “El Host”: uma mistura de ficção e variedades comandada por Adrián Suar, um dos nomes mais famosos do país vizinho.
Foi sensacional trabalhar com o Adrián. Talvez façamos mais coisas juntos em breve”, conta ela, em entrevista por telefone. “Na Argentina, eu sou muito mais reconhecida na rua do que no Brasil”,
Isso já está mudando. As três primeiras temporadas de “Me Chama de Bruna” estão disponíveis na plataforma Globoplay, chegado agora a um público maior. Mas, ao mesmo tempo em que recebe elogios de fãs, Maria também é alvo de mensagens de ódio.
“Sou chamada de atriz pornô. Ainda bem que eu sempre tive o apoio da minha família e do meu namorado Henrique”. O rapaz, com quem ela mora há cinco anos, a incentivou a fazer os testes para o papel de Bruna. “Foi uma onda que a vida mandou para mim, e eu surfei”, ri ela. “Perdão pelo trocadilho idiota!”.
Maria Bopp está preocupada com os rumos da cultura brasileira, principalmente com o setor audiovisual.
“Eu sempre fui otimista, mas não estou conseguindo ser neste momento”, acrescenta a atriz. “Não vejo sinais de melhora. Estou sentindo na pele: alguns projetos para os quais fui convidada estão paralisados. As cabeças do que estão no governo são muito fechadas. E muito cínicas”.
“Eu me inspiro na Jane Fonda, que prega a desobediência civil”. Maria lembra que a atriz americana, aos 82 anos, vem sendo constantemente presa em protestos contra o descaso das autoridades pelo aquecimento global. E conclui: “Não dá mais para ficar de boa. Não podemos ser tolerantes com o terrorismo virtual, com o preconceito, com a ignorância. Precisamos reagir!”.