Molecagem no Vaticano pode custar caro para Fogaça
Foto polêmica em rede social abala a reputação de jurado do MasterChef
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Henrique Fogaça cultiva com afinco a imagem de “bad boy”. Praticante de skate e muay thai, o tatuadíssimo jurado do “MasterChef” (Band) também é vocalista de uma banda de rock. O título de sua autobiografia é “Um Chef Hardcore”.
De férias na Itália, Fogaça achou que seria engraçado visitar o Vaticano, a sede da Igreja Católica, vestindo uma camiseta estampada com a foto de duas freiras se beijando. Levou uma reprimenda de um padre, tirou de letra e, na saída, posou para uma foto com duas sorridentes freiras brasileiras, que o reconheceram.
Fogaça postou a foto em seu perfil no Instagram e ainda acrescentou hashtags provocantes como “blasfêmia”, “o choro é livre” e “fuck hipocrisia”. A reação veio rápida e feroz. Alguns internautas especialmente cruéis chegaram a atacar Olívia, a filha do cozinheiro, que sofre de um raro problema genético.
Atordoado, Fogaça tirou a imagem do ar, depois colocou-a de volta, depois tirou de novo. Também postou vídeos se justificando, que foram mudando de tom à medida em que a crise se avolumava. Desafiador e irreverente a princípio, o chef se enrolou nas palavras e terminou pedindo desculpas, sem mais delongas. Talvez tenha sido tarde demais.
Nesta quarta (3), quando a polêmica já amainava, a Band avisou à imprensa que irá “conversar” com Fogaça sobre o episódio. Será que houve reclamação de algum patrocinador? Ou a emissora, que vem se alinhando explicitamente com o novo governo, quer agradar ao público mais conservador?
Fogaça se comportou com a maturidade de um aluno da 5ª série. Não teve o discernimento de perceber que sua foto poderia ofender muita gente, ainda mais nesses tempos de extrema polarização. E ainda prolongou a controvérsia com declarações bem-intencionadas, mas bastante confusas. Até o padre Fábio de Mello, conhecido pelas posições liberais, lhe dedicou uma rara crítica pública.
Não era para tanto. O que começou como uma provocação bem-humorada se transformou em um escândalo, insuflado pelo tribunal da internet e agravado pela própria emissora onde Fogaça trabalha.
Só que há um pequeno detalhe por baixo desse fuzuê todo: no fundo, Henrique Fogaça tem razão. A Igreja Católica oprime mulheres e homossexuais desde sempre. Mesmo sob o papa Francisco, abusos ainda são cometidos, pedófilos são protegidos, gays são discriminados.
Com seu jeito de garotão e seus argumentos mambembes, Fogaça só queria chamar a atenção para tantas injustiças. Conseguiu atrair a ira dos fariseus, e agora se arrisca a sofrer consequências em sua vida profissional.
Foi desrespeitoso? Foi, um pouco. Mas desrespeito muito maior é a violência física e moral a que milhões de mulheres, homossexuais e transexuais são submetidos todos os dias, com o beneplácito de várias denominações religiosas.
Henrique Fogaça foi inábil, isto sim. Mas mostrou, aos trancos e barrancos, que tem o coração no lugar certo.