A indústria da moda, os meios de comunicação, a sociedade machista e a religião sempre oprimiram e controlaram os corpos femininos. A mulher tem que ser magra, a mulher tem que ser bonita, a mulher tem que ser jovem, a mulher tem que ser delicada, a mulher tem que ter filhos, a mulher tem que saber se portar, etc.

A lista é absurda e gigante. E, mesmo com variações ao longo dos séculos, mesmo com o movimento feminista, ela continua existindo do lado de fora e do lado de dentro das nossas cabeças. O problema todo é a origem desse sistema opressor: a ideia de que a mulher existe simplesmente para atender aos desejos do homem, em todos os sentidos.

Todas as mulheres sofrem e sentem essas pressões, mesmo as mais progressistas, mesmo as mais bem resolvidas, mesmo as mais bonitas. O resultado é que passamos a vida nessa gangorra ensandecida, ora lutando contra os padrões, ora lutando contra nossa natureza e fazendo loucuras para entrar nos padrões exigidos.

E por que fazemos isso? Por que o Brasil é um dos países em que as mulheres mais fazem cirurgias e procedimentos estéticos? Mais fazem de tudo para entrar nos padrões de beleza e juventude? Por muitos motivos. Mas principalmente porque é ruim ser criticada. Porque é horrível, sem discriminada. Porque é difícil ser maltratada, ofendida, humilhada por nossa aparência. Porque é trágico perder um emprego porque sua aparência não cabe no 'padrão exigido pela empresa'. Porque nem sempre temos recursos psíquicos para enfrentar tudo isso sem sofrer e entrar em depressão. Porque muitas vezes temos vergonha dos nossos corpos. Ou porque nos fizeram acreditar que só poderemos ser felizes se formos bonitas.

E isso acontece com todas nós, o tempo todo, cada vez mais cedo, especialmente nessa sociedade onde tudo é imagem. Chega uma hora que as mulheres, os homens, todos, começam a cogitar a ideia de fazer qualquer loucura para 'entrar no padrão' de beleza, magreza, juventude, só para se blindar contra os ataques.

Mas os ataques não param. Ao contrário. As cobranças por um corpo "perfeito" não cessam. Nem mesmo para Yasmin Brunet. Sim, Yasmin Brunet, essa garota que está no BBB 24 e que é considerada uma mulher 'padrão europeu': branca, alta, loira, jovem, magra, modelo. E que, ainda assim, não atendeu às expectativas de alguns homens dentro do programa, como Rodriguinho, que apontou que ela 'já foi mais bonita quando era mais jovem', e Nizam, que tinha "expectativas" de que o corpo de Yasmin fosse mais bonito do que realmente é. Yasmin ficou chateada porque isso bateu num problema de autoimagem que ela diz sempre ter sofrido. E a gente sabe como esse tipo de questão pode levar a coisas mais graves, de falta de autoestima a transtornos alimentares.

Foi a partir dai que Wanessa organizou um 'desfile de corpos reais' para Yasmin, onde cada um mostrou suas ditas 'imperfeições', que, na verdade, são apenas características de um corpo real.

Muita gente criticou o tal desfile, mas foi importante resgatar esse momento do passado, quando Nizam criticou a aparência de Yasmin. Porque não é Yasmin que tem que se justificar, é Nizam que não tem que opinar sobre o corpo de outra pessoa. Enquanto esse ideal não pode ser atingido, ele deve simplesmente guardar sua opinião torta para si mesmo.

Essa meta de liberdade para nossos corpos, o direito de não sermos julgadas e punidas socialmente por sermos como somos fisicamente, só vai ser possível quando a luta for coletiva. Por isso o desfile foi válido. Tenho certeza que onde quer que Nizam esteja, a mensagem vai chegar para ele. E aí, vai ser ele, e não Yasmin, que vai sentir vergonha. Não do seu corpo, mas de sua mentalidade totalmente fora do padrão de humanidade.