O ex-diretor da Globo Marcius Melhem entrou com ação judicial na 50ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro contra o ator Luís Miranda, por danos morais, pedindo indenização de R$ 50 mil por ofensas feitas a sua pessoa. O processo foi motivado por uma entrevista de Miranda ao portal Metrópoles publicada no dia 1º de maio deste ano, em que o ator trata Melhem como "doente" e "assediador".

"Caso Melhem: Luís Miranda confirma assédio a Dani Calabresa e chama humorista de 'covarde'", dizia o título. "Por cerca de uma hora, em meio a narrativas genéricas, vazias e confusas, voltadas quase que exclusivamente para fantasiosas experiências pessoais, o réu pincela acusações gravíssimas contra o autor", diz o texto da ação, à qual a coluna teve acesso.

"O teor de sua fala, ora contraditório, ora inverossímil, mas sempre ofensivo, teve como propósito declarado se contrapor ao que chamou de reação 'covarde e machista' do autor, que nada faz além de se defender das falsas acusações da atriz 'Dani Calabresa', que circulam pública e ostensivamente na mídia", segue o texto.

À coluna, a advogada de Melhem, Daniela Galvão, afirma que Miranda "passa uma hora atribuindo um comportamento a Marcius sem apresentar dados concretos: é o tipo da entrevista tipicamente difamatória."

O cálculo da indenização foi feito com base nos parâmetros vistos nos tribunais, ela explica, e tem como critério os recursos de que dispõem cada um, de modo a não "abalar a capacidade financeira do opressor ou do ofendido", diz.

A advogada chama a atenção na ação para os relatos divergentes de Miranda sobre as acusações de assédio feitas a Melhem por Dani Calabresa, que a ação judicial identifica como grande amiga do ator, o que explica, ainda de acordo com a defesa do ex-diretor, a tentativa de difamá-lo.

"Tudo porque, ao que parece, deseja proteger sua grande amiga, agora desmascarada com a publicização das mensagens de texto trocadas com o autor [da ação]. A escuta atenta da entrevista revela ainda outra motivação nada nobre do réu, que acredita ter sido 'sabotado' pelo autor, que não lhe teria dado o destaque que acredita merecer, quando ambos trabalharam juntos no programa 'Zorra'".

"Também por isso, volta contra ele sua irresponsável metralhadora de achismos, interpretações, acusações e graves ofensas, tudo a fim de contribuir com sua desmoralização pública", informa o documento.

"Ao contrário do desabafo de uma testemunha ocular de fatos graves, o que pretende o réu, além de pura e mesquinha vingança por não ter se destacado quando integrou o elenco do 'Zorra', são os holofotes da imprensa para prejudicar o autor e beneficiar sua amiga, repita-se: agora desmascarada publicamente", afirma a ação, que apresenta várias mensagens trocadas entre Calabresa e Melhem, a fim de provar que no passado havia liberdade para diálogos de intimidades entre os dois.

O texto do processo contextualiza ainda em detalhes as divergências profissionais entre Melhem e Calabresa, alegando que ambos tinham uma boa relação até o momento em que ela discordou dos rumos definidos por ele para um novo programa de humor na Globo.

"A relação entre o autor e 'Dani Calabresa', anterior à chegada desta na TV Globo, sempre foi marcada por respeito, admiração e companheirismo. Entretanto, em maio de 2019, ocorreu uma divergência profissional entre o autor e 'Dani Calabresa', relativa ao formato do programa televisivo 'Fora de Hora'. A atriz, que já havia expressado o desejo de deixar o programa 'Zorra', pretendia protagonizar aquele novo projeto, semelhante ao programa 'Furo MTV'."

"Ao final", continua, "sentindo-se preterida e insatisfeita com o formato proposto pela emissora, 'Dani Calabresa' não fez parte do novo programa 'Fora de Hora', o que levou ao distanciamento e à quebra da intimidade entre ela e o autor. Esse patológico inconformismo atingiu seu ápice quando 'Dani Calabresa', em janeiro de 2020, promoveu uma denúncia ao departamento de 'compliance' da emissora, alegando suposto assédio moral/sexual praticado pelo autor."

"A gente queria que essa história fosse vista de uma forma isenta, imparcial", diz a advogada de Melhem, citando as mensagens apresentadas por ele para desconstruir as narrativas de Calabresa e o parecer da Globo atestando que não foi possível identificar assédio no comportamento do ex-diretor.

"Para resumir essa demanda", diz Daniela Galvão, "é necessário que a sociedade entenda que não se pode sair por aí difamando alguém sem caráter informativo, algo que não tem benefício alguma para a sociedade, apenas pretende macular a honra de alguém. Liberdade de expressão e pensamento não podem extrapolar os limites e invadir a esfera de preservação de terceiros."

OUTRO LADO

Procurado pela coluna, Luís Miranda não quis se manifestar sore o assunto. "Eu nem sei disso", afirmou Luís Miranda, por telefone. "Ele está desequilibrado, desesperado", disse o ator. "Portanto, esse desespero só a justiça pode encerrar."

Para Miranda, "a imprensa quer assunto" e ele não alimentará. "Se quiser falar sobre meus trabalhos e projetos terei o maior prazer de conversar. Fofoca e o que diz respeito a esse senhor, [só] na Justiça."