Greg News volta ao ar e promete fugir da militância lulista
Refém da pauta ditada por Temer e Bolsonaro, programa se vê livre para ampliar olhares, sem deixar de cobrar o governo, diz Duvivier à coluna
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O Greg News está de volta ao ar nesta sexta-feira (28), às 23h, para a estreia de sua 7ª temporada na HBO Max. Será a primeira sob um governo apoiado por seu apresentador, Gregório Duvivier, mas nem por isso livre das cobranças necessárias, ele avisa. A vantagem sobre as safras anteriores será a liberdade de pautar os assuntos ali abordados, sem a urgência determinada pelas ações do presidente.
Oposição ao governo continuará existindo, até porque o humor não sobrevive das mesmas piadas que o presidente, diz Greg em entrevista à coluna. Mas fazer oposição a Lula é bem diferente, sublinha o ator e apresentador, do que fazer oposição a um presidente que comete crimes contra a humanidade.
"Esse programa nasceu no governo Temer e veio dessa vontade de recuperar o diálogo democrático", diz o apresentador à coluna, em entrevista por Zoom. "A internet estava muito de direita, os canais de humor, em geral, muito conservadores. O zeitgeist estava muito conservador. Tenho a impressão que essa extrema direita que explodiu no mundo inteiro está agora num momento de ocaso ou decadência. A vitória do Lula, assim como do [Gustavo] Petro na Colômbia ou do Alberto Fernandez na Argentina, e mesmo do [Joe] Biden significa que novos tempos estão vindo", acredita.
"Graças a Deus", celebra Greg, "o programa finalmente vai ser livre para falar do que a gente quiser, porque a gente ficava meio sequestrado pelas pautas do Bolsonaro. A gente queria falar de trens, transporte ferroviário, como funciona no mundo inteiro, uma pauta propositiva, só que na mesma semana o Bolsonaro dizia que vacina dava aids, e aí não dava pra falar de outra coisa. Tanto o Temer como o Bolsonaro nos obrigavam a a falar o óbvio, e agora vamos falar do que a gente quer, pra ser sonhático, como diz a Marina Silva, ou disruptivo, como diz a Faria Lima, e pautar mais do que ser pautado."
TRABALHO JURÍDICO
A premissa para ser um bom programa de humor é dar trabalho ao departamento jurídico da firma, e Greg assegura que isso já se fez presente neste primeiro episódio, gravado na terça-feira (25), que tratará justamente de marcar território sobre essa nova era do Greg News.
"O humor gosta de ir onde o departamento jurídico não deixa. Agora, a gente não quer ficar falando só bem do Lula, pelo amor de Deus, ou só falando mal do Bolsonaro. A gente vai bater no governo Lula, claro, mas é completamente diferente de bater no governo Bolsonaro porque não é um governo que esteja cometendo crime contra a humanidade. É outra maneira, só que estamos também falando desses crimes, então o departamento jurídico continua ali, mas eu acho bom. O dia em que o departamento jurídico não tiver nenhuma nota sobre o roteiro eu vou achar que fiz alguma coisa errada."
Segundo Greg, a área jurídica da HBO, agora sob o chapéu da Warner e da Discovery, não tem por hábito vetar qualquer assunto, mais ou menos como acontece no Porta dos Fundos, coletivo de humor do qual ele é um dos sócios-fundadores. "É um jurídico que não tem proibições. Nada é impossível de falar, é mais do tipo 'como é que a gente pode falar isso', como fazer acontecer. Tem uma coisa de humor que vai num tabu, que gosta de falar das coisas que não podem ser ditas de maneira geral."
"No Greg News", continua, "a gente sempre gostou de ir a esses lugares. Humor é sempre contra, sempre arriscado, tem que correr risco para fazer uma piada, nunca pode fazer a mesma piada que o presidente da República, a gente vai estar sempre do outro lado, testando os limites."
QUEM AVISA AMIGO É
É dentro desse contexto que Lula será cobrado, garante Greg, que apoiou entusiasticamente a eleição do presidente atual e nunca se furtou de defender as ideias progressistas que norteiam seu trabalho. "Quando você gosta de alguém, tem que falar a verdade pra pessoa. Nada pior que aquele amigo que te incentiva a fazer merda. Amigo é aquela pessoa que quando você está bebendo demais, ele te avisa: 'segura a onda, você está se expondo'."
"Justamente por simpatizar com a figura do Lula eu me sinto no dever de falar o que ele está fazendo de errado, não só por ele, mas pelo país também. É um perigo quando o militante cai num lugar de aprovação automática, de adesão automática. É ruim para o militante e para o governo, a pressão é muito importante."
O que mais lhe interessa no momento é poder falar menos de pautas urgentes, ritmo a que o programa se obrigou desde 2017, como ele disse. "Agora acho que vamos conseguir falar de coisas que a gente sempre quis, como a crise da masculinidade, o que também inclui os assassinatos em massa, cometidos sempre por homem, ou Inteligência Artificial e as mil possibilidades que isso tem, benéficas, mas também perigosas, temas mais abrangentes, em vez de ficar refém da extrema direita."
"Eu estou me sentindo muito mais livre, a gente ficou sequestrado quatro anos por esse sujeito, a gente foi muito monotemático, o Brasil, de modo geral, gostando ou não gostando, só falava dele. E um programa de humor também só falava dele. Hoje temos a possibilidade de ir alem do governo. Hoje a gente consegue falar de temas mais universais. Pela primeira vez o Greg News consegue falar de futuro, em vez de ficar preso na semana. A gente vai conseguir olhar para o Brasil do futuro, problemas que nos angustiam, questões familiares, e não ficar escandalizado com a última bobagem que o Bolsonaro falou."
DE VOLTA AO YOUTUBE
Nas últimas edições de 2022, a HBO Max cortou do YouTube as edições na íntegra, o que revoltou boa parte do pessoal que acompanhava o programa gratuitamente. Em vez de anunciar que um grande público seria privado do programa completo, o canal passou a anunciar que o assinante teria um "bônus" na plataforma paga. Mas a estratégia não foi bem vista e o canal reorganizou a proposta de beneficiar quem paga para ver.
Segundo Adriana Cechetti, diretora de Conteúdo de Não Ficção do grupo Warner Bros.Discovery, o Greg News volta a ser disponibilizado na íntegra pelo YouTube, levando seu rico debate a um alcance bem maior do que a lista de assinantes da HBO Max, mas o delay para tanto trata de beneficiar o pagante, que segue acessando o programa a partir das 23h de sexta-feira, enquanto a versão gratuita no YouTube só chegará na segunda-feira seguinte, a partir das 11h.
BARATAS EM CENÁRIO NUCLEAR
O Greg News chega à 7ª temporada com cenário e ternos repaginados. Apesar de ter apenas 20 episódios previstos para este ano --em 2020 foram 33, mas gravados na casa dele, sem plateia, e portanto com custo bem menor--, o programa pode se gabar de ter atravessado os governos Temer e Bolsonaro, além da fusão entre a Warner e a Discovery, que hoje formam um dos conglomerados gigantescos da mídia mundial.
Como nem todos os projetos e profissionais desses grupos sobreviveram à fusão, Gregório se permite creditar a ele e equipe a condição de baratas de um ataque nuclear.