TV Cultura promove encontro inédito do elenco do Castelo Rá-Tim-Bum
Prestes a completar 30 anos, série que rendeu filme, exposições, livros e peças será revisitada por parte de seus intérpretes
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A TV Cultura prepara para 25 de fevereiro uma edição especial com o reencontro dos atores do "Castelo Rá-Tim-Bum", sob o pretexto de celebrar os 30 anos do programa, uma das mais geniais criações da TV brasileira em seus 72 anos de história. Na verdade, a série idealizada por Flávio de Souza e Cao Hamburger, que assina também a direção geral e artística do programa, estreou há menos de 29 anos, em maio de 1994.
Os 90 episódios produzidos na época ficaram no ar, em caráter inédito, até dezembro de 1997, e foram reprisados em looping na programação da TV Cultura por anos a fio, ou até que os recursos da TV de alta definição suportassem a defasagem tecnológica daquela matriz. Nino, Doutor Vitor, Morgana, Zeca, Pedro e Biba, além da Penélope, do Mau, da Cobra Celeste, do Doutor Abobrinha e companhia alcançaram, assim, no mínimo três gerações em fase de crescimento.
O anúncio do reencontro inédito vem circulando em um teaser publicado nas redes sociais do canal, do diretor de arte Henrique Bacana e do ator Cássio Scapin, o Nino. "Como seria reencontrar grandes amigos?", diz a chamada, em legendas estampadas sobre uma versão atualizada da clássica abertura em animação.
Ao longo das duas últimas décadas, muitas foram as propostas para aproveitar o grande fenômeno que o "Castelo" demonstrou ser, resistindo ao tempo e à atenção das crianças em meio a tantas outras ofertas de conteúdo e entretenimento. Mas nada foi adiante. A ideia mais próxima de se viabilizar seria uma versão animada do programa, mas isso também não saiu do papel.
Até a "Ilha Rá-TIm-Bum", que veio depois, como terceira etapa da trilogia "Rá-Tim-Bum", demorou a se concretizar, chegando só em 2002, mas com outros personagens e argumento, sem repetir o efeito do "Castelo". Seus personagens renderiam ainda várias peças de teatro, musicais, filme, exposição com fila de dobrar quarteirão e uma infinidade de spin-offs em todos os formatos, incluindo um especial de Natal para homenagear Sérgio Mamberti em 2021.
É pena que o registro original daqueles 90 episódios não comporte remasterização, ou assim me foi dito por diferentes profissionais da TV Cultura ao longo dos anos. Segundo eles, não seria possível operar no "Castelo" milagres como aqueles a que são submetidas tantas produções até mais antigas, especialmente em função do áudio, gravado em um número de canais que inviabilizaria essa atualização do som.
Seu conteúdo segue irrepreensível para crianças de todas as gerações, sem falar na trilha sonora de Hélio Ziskind, um primor.
Na minha modesta avaliação, o "Castelo" é, ao lado da minissérie "O Auto da Compadecida", da Globo (adaptação de Guel Arraes para a peça de Ariano Suassuna), a melhor realização de todos os tempos da TV brasileira, por ensinar e inspirar repertório de modo atemporal, embalada em puro entretenimento.
FAMA SEM GRANA
O sucesso foi tamanho, que a Cultura não resistiu à tentação de licenciar a marca para empresas de papelaria e artigos de festa de aniversário infantil, que reproduziram seus personagens em capas de cadernos, toalhas, copinhos e outros produtos de um comércio que nunca direcionou um centavo aos atores e criadores da série.
E como esse comércio não constava no contrato original dos atores com a TV Cultura, que também faturou vendendo fitas em VHS da série, houve certo desgaste nas relações entre alguns de seus atores e a emissora por mais de uma década, inclusive por parte de Scapin, cuja caracterização como Nino rendeu boas cifras a essas empresas.
Dito isso, esse reencontro, agora com o próprio Scapin protagonizando o principal slogan da emissora nas vinhetas da atual gestão -- "Aqui tem Cultura"-- pode ser visto como uma reconciliação entre a ex-contratante e seus ex-contratados, lembrando que o ator retornou à tela da emissora no ano passado pela série "Independências", a convite do diretor Luiz Fernando Carvalho.