Claudia Jimenez driblou o velho humor de estereótipos
Atriz divertiu como Cacilda, a aluna ninfomaníaca do Professor Raimundo, e como Edileuza, em 'Sai de Baixo'
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Claudia Jimenez sai de cena apenas 15 dias depois de Jô Soares. Foi ele quem teve a sensibilidade de perceber que aquela figura que dançava na abertura do "Viva o Gordo" tinha mais a oferecer do que uma mera performance coreografada.
Falamos aqui de uma época em que o humor não só não fugia de estereótipos, como vivia de corroborar rótulos, especialmente entre mulheres e gays. O riso se divertia com as "gostosas", as "burras", as "feias" e as "bichinhas", termo que frequentou fartamente o repertório de Costinha, por exemplo, entre outros comediantes contemporâneos.
A Claudia coube e a pecha de "gordinha alegre", como ela mesma dizia. Logo veio a chance de reverter essa questão a seu favor. A graça de Cacilda, a aluna ninfomaníaca do Professor Raimundo, era provar que volúpia sexual não depende de peso. Anos mais tarde, Fabiana Karla honrou a composição da personagem de acordo com a original, na nova versão da "Escolinha", resgatando o bordão "Beijinho beijinho, pau pau".
Se o humor daqueles dias ainda se curvava ao deboche por padrões estéticos impostos principalmente pela própria televisão, a produção de humor na Globo proporcionava a atores, roteiristas e até a figurantes a oportunidade de trabalhar ao mesmo tempo nos três programas semanais da emissora, contracenando com as maiores referências históricas do riso na TV brasileira.
Foi assim que Jimenez se deu ao luxo de conviver com nomes como Chico Anysio e Renato Aragão, além do próprio Jô, e de um vasto elenco de profissionais que faziam escada para sustentar o estrelato alheio.Embora seja mais forte no imaginário popular, Cacilda chegou a duelar com Edileuza na disputa pelo posto de personagem mais popular da atriz e roteirista.
Primeira funcionária doméstica do apartamento de Vavá (Luís Gustavo) no Largo do Arouche, ela viria a ser sucedida por Márcia Cabrita (morta em 2017) no "Sai de Baixo". Chegou a prometer ao amigo Miguel Falabella que voltaria ao papel no filme derivado do seriado, mas desistiu, certa de que a personagem já não cabia mais no seu universo.
Ao perder peso em função dos cuidados exigidos pela saúde, que se mostrou sensível ao coração, Jimenez chegou a ser alvo do debate improvável que inevitavelmente atinge os humoristas mais pesados: a de que o sujeito corre o risco de perder a graça se emagrecer. Como disse Jô Soares a Leandro Hassum em uma entrevista, se gordura fosse engraçada, valia pendurar um pedaço de bacon no meio da sala.
Cláudia sempre se mostrou zero preocupada com essa questão, segura que era de seu tempo e ritmo na hora de saber fazer rir por meio de um olhar que fosse, até no silêncio, sem dependência do texto disponível.