Yuri Marçal: 'Muita coisa precisa do aval branco para ser validado no audiovisual'
Ator comenta parceria com Linn da Quebrada, seu par romântico em 'Vale Night'
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Um dos principais rostos da nova geração de humoristas brasileiros, Yuri Marçal, 28, começou sua carreira produzindo vídeos na internet. Foi a projeção das redes sociais que levou seu trabalho a ser reconhecido: hoje, o público esgota bilheterias para assistir aos shows de stand-up apresentados por ele.
No audiovisual, o ator também tem ganhado espaço. Nos últimos anos ele recebeu convite de grandes produtoras, como o Porta dos Fundos, e de gigantes do streaming, como a Prime Video, onde estrelou produções como "Desjuntados" e "5x Comédia".
Foi o humor e sua capacidade de interpretar diferentes personagens que atraíram o diretor de "Vale Night", Luis Pinheiro: "O Yuri tem essa coisa de ser extremamente inteligente e extremamente cômico. Foi amor à primeira vista", contou o cineasta em entrevista à coluna.
O filme, que traz nomes como Gabriela Dias, Pedro Ottoni, Jonathan Haagensen e Maíra Azevedo, chegou às telonas nesta quinta (17), após cerca de três anos de espera —tempo dividido entre a pós-produção e a pandemia.
Na comédia romântica permeada por crítica social, Yuri Marçal dá vida a Linguinha, par romântico de Pulga, aspirante a DJ interpretada por Linn da Quebrada, atualmente confinada no BBB 22. A trama, originalmente escrita para protagonistas brancos de classe média, foi adaptada pela Querosene Filmes para uma realidade mais brasileira.
O ator comenta parceria com a cantora na seção "Três Perguntas Para...", por onde já passaram nomes como Paulo Gorgulho, Larissa Nunes e Jayme Matarazzo. Confira:
Você conseguiu trazer um pouco da sua identidade ao seu papel no filme?
Cara, o personagem foi muito legal de fazer, desde a preparação a gente já trocava muito. E eu falei que a Linn acrescentou muito no meu personagem porque, por mais que seja um personagem favelado, que é uma realidade ali, dentro de São Paulo, dentro daquele universo, ele tem suas peculiaridades. Eu sou do Rio de Janeiro e a Linn é de São Paulo, ela trouxe muito isso [esse contraponto].
Ela trouxe muito para o que eu também queria trazer, que era a química do casal jovem, muito jovem, adolescente, sabe? A coisa da pegação em qualquer lugar, de se provocar em qualquer lugar. Na primeira cena eu estou sentado, ela vem e já senta no meu colo e já rola um climinha gostosinho ali e tal. Então, isso foi uma coisa que a gente colocou na preparação, na composição ali, trocou com o Luiz [diretor] ele falou: 'bora'.
E o filme ficou muito agradável esteticamente. Desde a época em que o filme estava sendo montado, no início de 2020, as pessoas da produção já comentavam isso comigo: 'cara, está muito bonito ver você e Linn, você com Pedro, essa cumplicidade do trio', que é uma amizade real. A gente tem essa amizade fora da cena, mesmo, na vida, e a gente conseguiu refletir ali na tela. Fiquei bem feliz.
Depois de 2019, quando o filme foi gravado, você teve um 'boom' e ficou mais conhecido nas redes sociais, assim como o Pedro Ottoni e a Lina. Como você analisa essa mudança que os tornou conhecidos para além da população negra, alcançando outros públicos e lotando shows de humor, no seu caso?
Dentro da pandemia, no meu caso, até para sair e tirar a galera desse ócio que estava ali naquele início em que a gente estava minimamente respeitando o lockdown, eu produzi muito conteúdo. Tinha dias em que eu produzia dois, três vídeos. E todo dia, toda semana produzindo me deu um reconhecimento maior. Eu fui atingindo outros públicos.
Isso foi para o Pedro também, a gente começou a gravar coisas, por exemplo, com o Porta dos Fundos e com outros canais. Conforme foi flexibilizando [as restrições], a gente foi começando a trabalhar e isso foi fluindo coisas muito positivas. A Linn, [se destacou] dentro de uma série que voltou a viralizar na pandemia, que foi "Segunda Chamada". Isso foi surtindo um efeito muito positivo.
E no filme, isso acaba sendo refletido também. A estética, a fotografia, está muito agradável, muito legal. Foi um apontamento que a gente levou para direção de fotografia, porque tem pessoas pretas e pessoas pretas retintas no filme, e a gente sabe que a direção de fotografia no cinema sempre meio que deu uma cagada para isso. Essa direção conseguiu nos deixar tão bonitos quanto a gente é.
Por que hoje em dia ainda é necessário adaptar roteiros para que atores negros protagonizem a história? Não temos roteiros já pensando nos protagonistas negros?
Isso tem vários motivos, mas um desses, que não foi o caso do "Vale Night", mas indiretamente acaba passando por esse motivo também, é o fato de muita coisa ter que ter um aval branco para ser validado dentro do audiovisual. Então, para algo ser considerado bom, tem que ser escrito por um roteirista branco, tem que ter sido dirigido [por um diretor branco], ou seja lá qual for o exemplo dentro do áudio visual.
Existem muitos roteiros pretos dentro dessa realidade, contados a partir da nossa perspectiva, contados de uma forma muito legal, muito leve também —falando de comédia—, para cinema, série, plataforma de streaming. Mas aí fica o questionamento: será que a galera quer contar essas coisas a partir das nossas perspectivas? Será que a galera quer comprar essa ideia das nossas perspectivas?
E a gente vai tentando, e vai jogando. "Vale Night" é um produto que, em 2019, quando a gente gravou, trouxe isso aí. Já está tendo, e tenho certeza que ele vai ter um retorno muito positivo dentro da história do cinema. E a gente está conseguindo isso, porque realmente foi uma uma escuta e uma prática muito grande.