Zapping - Cristina Padiglione

Relembre relato de João Marcello Bôscoli sobre perseguição a Elis na ditadura

40 anos sem Elis Regina: livro de primogênito narra convivência com a mãe

João Marcello Bôscoli com a mãe Elis Regina - Divulgação

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Campinas

No dia em que se completam 40 anos da morte de Elis Regina, aos 36 anos, a televisão também presta suas homenagens à cantora que marcou a história do Brasil. Além de especiais já apresentados sobre a gaúcha, o canal Bis exibe nesta quarta (19), às 23h, uma edição em que Illy canta sucessos, como "O Bêbado e a Equilibrista", "Alô, Alô Marciano", "Atrás da Porta" e "Fascinação".

O programa serviu como inspiração ao álbum "Te Adorando Pelo Avesso", no qual Illy apresenta grandes hits da Elis. O episódio estará disponível no ambiente Bis, dentro das plataformas Canais Globo e Globoplay + Canais.

RELATO

Nesta data, convém rememorar o livro "Elis e eu: 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe", escrito por João Marcello Bôscoli, 50, primogênito da cantora, lançado pela Editora Planeta em outubro de 2019. A obra apresenta a visão de um menino que conviveu por apenas 11 anos com sua mãe, mulher cheia de contradições e dilemas.

A coluna traz trecho do livro —disponível em versão digital no aplicativo Skeelo—, em que João relata as perseguições que ele e Elis sofreram durante a ditadura militar, quando a mãe o levava para a escola pública onde ele estudava.

"O único ponto assustador e causador de ansiedade eram os capangas, geralmente de óculos escuros, às vezes de camburão, às vezes de Dodge, parados quase todos os dias na esquina nos olhando de maneira ostensiva, seguindo-nos por algumas quadras e, depois, mudando o curso."

Segundo o autor, a inocência de criança o fez demorar para compreender o que acontecia. "Em determinado dia, sentado no banco traseiro, olhei para trás e ouvi dela: 'Tem boi na linha, filho'. Entendi e senti medo. Elis evitava comentar o assunto. Ir e voltar todo dia já continha muitos riscos e enfrentamentos".

Em meio à mistura de sentimentos, Elis resolveu reagir: "Paciência tinha limite e seu estoque parecia estar no fim quando baixou o vidro e falou: 'Covardes e desocupados! Ficam vigiando uma mãe e seu filho. Não têm mais nada para fazer?'", relembra seu filho.

Afetado pela vigília silenciosamente violenta, como descreve, ele relata não saber ao certo o porquê de serem alvos constantes. "Eu queria entender o porquê de sermos vigiados, de termos ficado anos sem telefone em casa por causa de gravações... Por que as cartas ameaçadoras? Por que éramos gravados, afinal?", questionava.

"Ela explicou, de forma geral, o momento vivido no país e ainda apresentou uma nova palavra, necessária de ser driblada a todo tempo por metáforas: a censura. Lembro ter emudecido enquanto minha Mãe explicava o significado de metáfora". A obra pode ser encontrada também em versão física.

Recentemente, Maria Rita, irmã de João Marcello, desabafou no Twitter sobre as comparações e os ataques que recebe desde o início de sua carreira musical. Segundo a cantora, ela não deve ser comparada com a mãe, artista "incomparável".

Elis morreu, no dia 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, em São Paulo. Depois de sua morte, João foi separado dos irmãos durante anos. Ele, o mais velho e criado em São Paulo, era filho de Ronaldo Bôscoli (1928-1994), que vivia no Rio. Já Maria Rita, 42, e Pedro Camargo Mariano, 44, foram morar com o pai, César Camargo Mariano.

Quem quiser rememorar a cantora ou conhecer mais sobre sua vida encontrará no GloboPlay a minissérie "Elis", protagonizada por Andréia Horta. Outra dica é a biografia "Nada Será Como Antes", do jornalista Júlio Maria.