Colo de Mãe

Dói reconhecer que a infância de um filho chega ao fim

A montanha-russa da maternidade me deixa atônita; ciclos se fecham

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Eu não sei ao certo quando a gente percebe que a infância de um filho chegou ao final. Não sei se devem ser os sinais dos primeiros pelos, o desenvolvimento das mamas, a formação da barba rala ou a mudança no tom de voz.

Sei apenas que a infância de um filho chega ao fim. Esse período em que a gente investe tempo para educar, brincar e dar o melhor à criança, tentando aproveitar o cérebro em ebulição que facilita o aprendizado, termina.

Não que o filho perca a capacidade de aprender. Mas ele perde, de fato, sua infância. Nas meninas, talvez a menarca (a primeira menstruação) faça com que esse marco fique mais claro, mas, para uma mãe, é difícil perceber que, assim, de uma hora para outra, a garotinha engraçada vira uma jovenzinha.

Sinto que os ciclos passam voando. Quando se vê, o filho já fez um ano. Quando se vê, já corre pelas ruas. De repente, anda de bicicleta sem rodinhas, caem os dentes e eles leem as primeiras palavras.

Mas nada se compara ao dia em que articulam pensamentos como se fossem adultos e, o mais doloroso, os diálogos incluem análises sobre os próprios sentimentos que nem o melhor dos psicanalistas é capaz de fazer.

De repente, os brinquedos espalhados pela casa perderam boa parte da graça para minha filha mais velha, de 14 anos.

Aos poucos, ela quer colocar piercings, pergunta-me sobre investimentos financeiros, avisa que quer fazer cinco ou seis faculdades e decide que pode ser divertido comemorar seus 15 anos com vestido de gala.

Ao mesmo tempo que ela vai despejando sonhos, desejos e projetos de uma vez só, a cada conversa, eu peço tempo para que eu consiga organizar as coisas. "Primeiro, os estudos e a saúde, depois, eu vou fazendo o resto. Tem que ir pela ordem de importância", digo a ela.

Mas, para minha menina-mulher, saber se eu a autorizo a colocar um piercing na boca, se um especialista pode moldar sua sobrancelha e quando vai poder pintar o cabelo é muito mais importante do que eu marcar o mais novo médico de que ela precisa, e que não é mais um pediatra.

Eu peço calma, peço a ela que me dê tempo. Esse tempo não é para agendar consultas ou conseguir o teste das lentes de contato. É um tempo para mim, para que eu possa processar a velocidade das mudanças.

E, por mais que eu tente, por mais tempo que ela me dê, é difícil processar o fim da infância e a entrada definitiva de minha menina no mundo adulto. Não, ela não será uma criança para sempre dentro do meu coração. Ela é o que é em cada fase de sua vida e respeito seu crescimento.

Mas, nas minhas mais profundas lembranças, a menininha de cinco anos usando meu sapato de salto e meu batom vermelho jamais sairá de minha memória.