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Colo de Mãe
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Qual o momento ideal para ser mãe?

Cada uma escolhe a sua hora, mas é importante saber que esse momento vai ser de entregar a vida

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Aos 17 anos, eu decidi que seria mãe. E, se eu tivesse uma condição social de conforto financeiro, talvez eu tivesse me tornado mãe ainda mais jovem do que eu realmente fui.

No entanto, eu vivia abaixo da linha da pobreza e minha mãe, sem instrução, mas com muita sabedoria, me orientava muito sobre qual o momento ideal para ter filhos.

Ela sempre me dizia que eu tinha que pensar bastante a respeito da maternidade. Deveria refletir. Para ela, ter filhos quando se é jovem, na adolescência, não era bom, porque você acaba tendo sua juventude comprometida com a vida de outro ser humano e isso faz com que você adie ainda mais sonhos e, no meu caso, a formação educacional que definiria toda a minha vida futura.

Decidi ouvir os conselhos de minha mãe. Nada de ter filhos tão nova. Segui com minha vida. Mamãe também defendia que eu não deveria esperar demais. Segundo ela, que usava sua sabedoria indígena milenar para me instruir, a natureza não espera, e eu deveria ter sempre isso em mente.

Então, na sua simplicidade, também me orientou a não esperar chegar no limite para tentar uma gravidez. Na época, eu achava os conselhos muito drásticos, principalmente no que diz respeito à maternidade tardia, já que a humanidade estava vivendo mais e a ciência teria todas as respostas para a vida.

De fato, a ciência evoluiu sim, vemos os bebês vindos pós-fertilização e outros tratamentos, fazendo com que homens e mulheres realizem o desejo da maternidade e da paternidade quando estão mais velhos do ponto de vista da reprodução biológica, mas ainda muito jovens do ponto de vista da humanidade.

Ocorre que essa escolha é muito válida para quem tem condições financeiras. Mulheres pobres, se adiarem a maternidade, talvez nunca sejam mães, pois não têm acesso fácil a tratamentos contra a infertilidade. Já quem tem o mínimo de condições socioeconômica consegue chegar lá, não sem sofrimentos.

Eu decidi seguir os conselhos de minha mãe e ter filhos quando, do ponto de vista da natureza reprodutiva, eu estivesse na idade do “meio”. Não porque planejei a idade exata para ter filhos, mas porque, ao me casar, o meu companheiro e pai das minhas filhas tinha uns bons anos a mais do que eu.

Achei que não deveríamos adiar a formação da nova família e acabei tendo a primeira filha aos 27 anos. A segunda, veio de surpresa, aos 33 anos.

Do ponto de vista corporativo, do mercado de trabalho, eu fui uma mãe “adolescente”. E perdi oportunidades profissionais por isso. As mulheres têm pouco espaço no mercado apenas porque são mulheres e acabam tendo menos espaço quando têm filhos.

Todos os estudos feitos no Brasil mostram que a maternidade é o pior marco para a mulher no mercado de trabalho, deixando-as, muitas vezes, sem emprego, sem reajustes salarial ao alcançarem postos de chefia ou sem que sejam cotadas para promoções.

Eu realmente acredito que o momento ideal para ter um filho é quando você, de fato, está preparada do ponto de vista psicológico. E estar preparada, neste caso, quer dizer estar disposta a entregar sua a vida a outro ser humano.

Em geral, a tranquilidade necessária para estar nesta posição chega com a maturidade. Por isso, precisamos falar muito sobre a maternidade tardia. Precisamos ensinar as meninas que, além do planejamento da carreira, do relacionamento, das finanças, é preciso fazer um planejamento familiar.

Filho não pode ser loteria. Algo como, “se der certo, deu”. Filho pode e deve ser pensado em toda a plenitude humana. Abrir mão de um desejo, de um sonho, de um projeto de vida para servir ao mundo capitalista é uma das coisas mais triste que podemos fazer.

É a forma mais cruel de darmos seguimento ao patriarcado. E o mais engraçado é que a maioria das mulheres que fazem a opção acreditam estar se rebelando totalmente. Por isso, a decisão de ter um filho é tão importante, mas a de não tê-lo precisa ser ainda mais consciente.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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