Nanda Costa faz estreia internacional em 'Monster Hunter': 'Me senti no jogo'
Atriz diz estar aberta a novos convites, mas descarta mudança para Hollywood
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O ano era 2018. Dias depois de encerrar sua participação na novela "Segundo Sol" (Globo), Nanda Costa, 34, embarcava em uma das maiores aventuras da vida. "Liguei para a minha mãe da sala de embarque e comecei a chorar", revela a atriz em entrevista ao F5. "Entrei no avião com aquela sensação de: 'Meu Deus, o que está acontecendo?'."
"Não tive medo de ser sequestrada como a Morena", diz a atriz, em tom de brincadeira, ao fazer referência à personagem que ela viveu em "Salve Jorge" (também da Globo, 2012-2013) e que era traficada após aceitar um convite de trabalho no exterior. "Tive medo de não dar conta. Aliás, acho que é isso que me faz conseguir as coisas. Eu me cobro muito —e isso às vezes atrapalha—, mas esse frio na barriga foi muito importante para que tudo saísse do jeito que foi."
Não era para menos. A atriz estava indo para a África do Sul, onde gravaria sua estreia no cinema internacional. Trata-se do filme "Monster Hunter", baseado no game de mesmo nome e que estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas brasileiros. Na trama, a tenente Artemis (Milla Jovovich) e sua equipe enfrentam uma tempestade de areia, após a qual são transportados para um mundo cheio de criaturas perigosas.
"Conhecia o jogo de ouvir falar. É um jogo muito famoso mundialmente", diz. "Meu sobrinho que mora na Suíça joga e é muito fã. Quando comentei com ele sobre o filme, ele disse que adora e não acreditou que eu ia fazer. Mas, além disso, não fazia parte do meu universo."
Poucas semanas antes, a atriz havia mandado para a produção de elenco um vídeo, editado por ela própria, com algumas cenas de seus trabalhos. Era um compilado de menos de três minutos e sem legendas, apenas para que pudessem conhecê-la. Deu certo, ela foi escolhida entre as diversas atrizes (inclusive algumas brasileiras) que disputavam o papel de Lea, uma caçadora de monstros que vive nessa realidade paralela à nossa.
"Só me tranquilizei quando cheguei lá e fiz a prova de figurino", lembra. "A caracterização ajuda muito, então quando coloquei o figurino da personagem já me senti no jogo. Você olha no espelho e se vê diferente, isso ajuda a contar as histórias. Eu amo mudar."
No filme, ela aparece em cenas de ação com muitas lutas e explosões, o que não chegou a ser um problema para ela. "Sempre fui muito de me jogar, de pular da pedra na cachoeira ...", afirma. "Hoje em dia não faço mais porque tenho um compromisso com as personagens em que estou trabalhando. Não posso chegar de braço quebrado, então fiquei mais cautelosa."
Por isso mesmo, Costa comemorou que no set do filme podia ficar à vontade. "Quando estou no trabalho sou muito mais corajosa do que na vida", diz, aos risos. "Lá eu podia me jogar, pular das coisas... Tinha um cabo de aço como proteção, então foi muito bom."
"Eu já pari sozinha numa caverna em 'Salve Jorge', fiz cenas tentando fugir da quadrilha do Russo (Adriano Garib) e da Irina (Vera Fischer), de briga com a Claudia Raia, que é muito maior que eu, mas não eram cenas de estar içada por um cabo de aço e matar um monstro no embate", compara. "Tem uma pequena coreografia, mas fica muito mais na mão do diretor, do posicionamento das câmeras. Estava tudo muito bem orquestrado por eles. Foi tranquilo."
Mais tenso que a ação em si era o frio no set. "A gente filmava de madrugada, no frio", diz. "Tem uma cena com uma tempestade que era gelada. Tínhamos uma roupa térmica e precisávamos nos esquentar entre uma tomada e outra. Tinha horas que começava a tremer, então tomávamos chá."
Para se preparar para o desafio, Nanda Conta apostou nos treinos físicos. Além dos treinos funcionais, que ela já fazia há bastante tempo, ela acrescentou o muay thai na rotina de exercícios um pouco antes do filme, justamente para viver a policial Maura em "Segundo Sol", o que foi de grande utilidade.
"Eu não sabia o que me esperava lá, mas entendi ser um filme que precisava de um preparo mais físico do que qualquer outra coisa", avalia. "Eu estava indo matar monstros, não contar uma história dramática nem fazer uma comédia. Então resolvi garantir no corpo."
Sobre os monstros em si, ela revela que eles foram inseridos depois, com efeitos especiais, na pós-produção do filme. "Eles eram parecidos com o que eu tinha imaginado porque são muito fiéis ao jogo", diz. "Eu já tinha pesquisado e entendido como eles eram gigantescos. Aí o diretor falava que ia chegar mais ou menos daqui, ou dava algum ponto de referência e você projetava ali na sua imaginação."
Outro desafio foram os diálogos da personagem, que fala em esperanto no filme. "Continuo não dominando o esperanto", entrega. "Eu só decorei e falei. No filme, eu contraceno com uma japonesa e com um alemão que falam esperanto, então a ideia era ter o sotaque de cada lugar."
"Confesso que fiquei até mais tranquila por não serem diálogos em inglês, porque tem uma cobrança muito grande e eu vejo que às vezes a pessoa fica inibida ou com vergonha de falar por causa do sotaque", diz. "No começo fiquei um pouco insegura porque não queria vacilar, imagina o diretor pedindo uma coisa para o elenco inteiro, aí eu levanto a mão e peço para repetir, sabe?"
Por isso, Costa diz que teve um tradutor que a ajudava quando necessário. "A gente gravava à noite, então à tarde eu ficava estudando com ele", diz. "Hoje meu inglês é até melhor do que na época." Isso, porém, não atrapalhou nem o trabalho com a equipe nem o entrosamento com os demais atores nos bastidores.
"O elenco é muito especial", elogia. "Fiquei muito próxima de Hirona [Yamazaki] e de Jannik [Schümann]. Era o primeiro filme internacional deles e a gente compartilhava este momento de deslumbramento no melhor dos sentidos, de falar: 'Caramba, estou tomando um chá com a Milla Jovovich, que acompanho desde 'O Quinto Elemento'."
A atriz não consegue dizer se foi mais difícil gravar o filme internacional ou a reta final de "Amor de Mãe", que volta ao ar no dia 1º de março na Globo após ser interrompida por causa da pandemia em 2020. Na trama, ela interpreta Érica, uma das filhas de dona Lurdes (Regina Casé). "O filme foi uma experiência muito nova, foi tudo mágico", compara, "mas gravar a novela no cenário de pandemia foi desafiador."
"É a primeira novela em duas temporadas da história", afirma. "Fiquei muito feliz de voltar porque ficamos seis meses parados, mas tinha muito medo de como seria essa retomada. O fato de a novela assumir a pandemia ajudou muito porque a gente podia se proteger e os personagens também atravessaram o que nós estamos vivendo. Ninguém volta igual."
Com um filme internacional no currículo, a pergunta agora é se a atriz pretende emplacar uma carreira fora do país. "Nunca foi a minha meta", afirma. "Foi um presente essa experiência. É claro que se tiver novos convites vou ficar feliz, vou amar o desafio, mas não me vejo fazendo mala para tentar carreira lá fora."
"Tem sorte e tem o resultado de um trabalho bem feito", avalia. "Meu trabalho aqui que me levou para lá, assim como meu trabalho na TV que me levou para o cinema e vice-versa. Eu acredito que papel tem endereço certo, o que é para ser tem muita força."
Casada com a percussionista Lan Lan desde 2019, Nanda afirma que passou muito tempo se podando para não falar sobre a própria sexualidade por medo de que a carreira fosse afetada. Hoje, ela tem certeza de que tomou a melhor decisão ao falar abertamente sobre o tema, que já é visto com mais naturalidade tanto no Brasil quanto em Hollywood.
"A gente está caminhando muito", avalia. "Eu lembro de Bruna Linzmeyer falando abertamente sobre isso e acho que foi a primeira vez, porque eu não tinha nenhuma referência, não sabia o que ia acontecer comigo quando eu pudesse falar abertamente quem eu sou de verdade."
"Isso me prejudicou muito, até como atriz", diz. "Tinha muito medo de ser descoberta e que isso pudesse prejudicar minha carreira. Porém, vi que essas portas começaram a se abrir mais. Cada vez que alguém fala sobre o assunto, mais natural ele fica, como deveria ser."
"A prova maior é que enquanto acabava a novela, veio o convite para o filme na sequência e tantos outros que vieram depois", diz. "E para quem é LGBTQ+ e tem medo, quando você vê alguém que te representa voando, trabalhando, isso é muito favorável. A tendência é que a gente cada vez mais tenha chances iguais."
Se uma dessas oportunidades será uma possível continuação de "Monster Hunter", ela ainda não sabe. "Espero muito que sim", afirma. "Vou torcer para isso porque é aquilo que eu disse, papel tem endereço certo. Se me chamarem, é claro que eu vou, então espero que tenha."