Celebridades

Claudia Mauro comemora 40 anos de carreira com retorno à Globo e projetos como autora

Atriz aproveitou a pandemia para transformar as inúmeras ideias em arte

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São Paulo

Claudia Mauro, 51, está fervilhando de ideias. A atriz, assim como boa parte da população mundial, precisou mudar os planos que tinha em 2020, mas não se deu ao luxo de ficar parada. "Não tive bloqueio criativo nenhum nessa pandemia", conta em entrevista ao F5. "Para me sentir melhor, comecei a transformar tudo em arte."

Escalada para "Um Lugar ao Sol", novela que sucederá "Amor de Mãe" na faixa das 21h da Globo, ela ainda aguarda o começo das gravações. "A novela vai ser bacana, vai falar de coisas importantes", adianta a atriz, que entra na segunda fase da trama. "Eu sou a ex-mulher do Otávio Müller. É uma ex-gorda que virou coach e tem uma filha com Síndrome de Down."

Trata-se de um reencontro com Lícia Manzo, que assina o texto. Aos 12 anos, quando estreou no teatro com o grupo Além da Lua, Claudia contracenou com a autora. "A Lícia era uma excelente atriz", garante. Embora nunca tenham perdido totalmente contato, a vida as levou para lados diferentes e elas nunca mais voltaram a trabalhar juntas.

Prestes a completar 40 anos de carreira, Claudia comemora o reencontro. "O passado está vindo com tudo e me trazendo coisas boas", avalia. "Estou colhendo os frutos de sementes plantadas lá atrás. Pode até demorar a vir, mas o retorno acaba vindo espontaneamente."

Pelo cronograma original, suspenso devido à pandemia, a atriz teria encerrado a participação na trama em outubro passado. Mesmo com a retomada dos trabalhos nos Estúdios Globo, ela ainda não tem ideia de quando começará a gravar. E é aí que entra o lado autora de Claudia. Ela tem aproveitado o tempo livre para desenvolver diversos projetos, sempre com diferentes parceiros.

"Eu era aquela pessoa que sempre fazia redação para todo mundo no colégio", lembra. "Fiz faculdade de letras, mas não terminei. No último ano comecei a ensaiar uma peça e larguei. Olha que burrice!". Em 2004, Ney Latorraca, 76, leu alguns de seus textos e a incentivou a escrever para teatro. O primeiro texto montado foi "Cabaré Melinda", quatro anos depois. A peça, inclusive, foi produzida pelo ator.

Claudia foi premiada pelo texto de "A Vida Passou Por Aqui", com a qual ficou em cartaz por quatro anos —ela só encerrou a temporada em 2020, por causa da pandemia. A trama mostra a amizade de uma mulher e de um homem, que perpassa a vida de ambos. "A partir da peça recebi convites para escrever", conta. "Abriu uma era de escrita na minha vida, em que tudo vira história."

Durante a pandemia, o texto foi adaptado e se transformou em dois roteiros: um de filme e outro de série. A ideia de Claudia é que eles possam ser produzidos "em combo", como foi o caso de "Hebe - A Estrela do Brasil", lançado nos cinemas em 2019 e depois como série na Globoplay.

Ela também começou a escrever o roteiro de uma série inspirada pela morte recente de Eduardo Galvão, aos 58 anos, por complicações geradas pela Covid-19. Com o título provisório de "As Mulheres Dele", a história mostra seis mulheres que acabam unidas após o falecimento de um amigo.

"Fiquei muito abalada com a morte do Eduardo", revela. "A gente se conhece desde os 10 anos de idade. Ele era meu amigo de infância e virou o meu melhor amigo da vida. Nesses 40 anos, a gente nunca se desconectou."

A ideia surgiu durante uma videoconferência com outras cinco amigas, também muito próximas do ator, entre as quais Helena Ranaldi, 54, Helena Fernandes, 52, e Flavia Monteiro, 48. "São seis mulheres unidas pela dor, que começam a se transformar a partir do encontro", diz.

Esse é um dos poucos projetos em que ela pretende estar também como atriz. "Não consigo escrever muito para mim", avalia. "A escrita toma conta, sempre escrevo com outra pessoa na cabeça. Acho que por isso muitas pessoas que migram para a escrita vão parando de atuar, mas eu quero continuar fazendo os dois!"

Além disso, ela também se dedica ao desenvolvimento de uma série sobre um grupo de amigos com mais de 60 anos que, após a pandemia, querem voltar a aproveitar a vida como quando eram adolescentes. E ainda há um filme sobre inteligência artificial com argumento do amigo Macello Novaes, 58,

Com outro Marcelo, o Serrado, ela está elaborando um texto sobre paternidade para o teatro. Também para os palcos ela escreveu "Na Próxima Estação", a ser estrelado pelo marido dela, Paulo Cesar Grande, 62, e pelo amigo Giuseppe Oristanio, 62.

"Os homens estão em baixa e, apesar de a mulherada merecer estar empoderada, estava nessa pilha de falar sobre o que eu chamo de testosterona sensível", explica. "É aquele homem que vem dessa geração que ainda tem esse lado forte, provedor, mas chora ouvindo música."

"É um homem que tem uma cabeça mais aberta", avisa. "O PC [Paulo Cesar] é assim. Aqui em casa quem cozinha e lava a roupa é ele."

E não para por aí. Ela também lançou recentemente uma websérie chamada "Em Casa Ela Dança", cujos episódios podem ser vistos nas redes sociais dela, e gravou participação em um curta musical, ainda sem nome título definitivo e em fase de edição. Fora uma série com histórias femininas, que está parada no momento, e os 12 curtas de cinco páginas que escreveu para participar de um concurso. Ufa!

Não é muito projeto para uma só pessoa? "Eu escrevo igual eu falo", ri, referindo-se à conversa sem freios por telefone. "Parece que veio uma onda nos meus 50 anos e eu desbloqueei. Até demais."

CARREIRA

Claudia ficou conhecida do grande público como a dona Capitu, que apagava o quadro negro de forma rebolativa na versão original da Escolinha do Professor Raimundo. "O Chico Anysio foi me assistir numa peça em que eu vivia uma crente que recebia um santo", lembra sobre como recebeu o convite.

"Para não ficar ruim com os evangélicos, criaram a coisa da gostosa burra", afirma. "Eu achava aquilo um saco. Eu tentava fazer aquilo não ficar muito vulgar, então acabou ficando uma coisa meio infantil."

Após cinco anos na atração, ela pediu para sair. "Se eu estou cansado da personagem, imagina você", diz ter ouvido do intérprete do Professor Raimundo. "Naquela época, trabalhar no humor era muito diferente, dava muita popularidade, mas credibilidade zero. Hoje em dia o pessoal tem maior moral."

Apesar de ter saído para se dedicar ao teatro, Claudia fez um teste para a novela "Olho por Olho" (Globo, 1993). Não foi aprovada, mas a fita foi vista por Manoel Carlos, que a convidou para estrear em novelas como a Valquíria de "História de Amor" (1995).

Sobre a personagem, que era casada com Assunção (Nuno Leal Maia) ela faz uma revelação. "Na sinopse, ela não segurava a onda quando ele virava cadeirante e o abandonava", diz. "Quem ia terminar com ele era a personagem da Lilia Cabral, que era da área médica."

Como a atuação dela convenceu e o casal foi bem quisto pelo público, a história mudou. Já Sheila, personagem de Lilia, acabou ficando obcecada pelo doutor Moretti (José Mayer).

Depois disso, ela continuou sendo chamada para quase todas as tramas de Maneco. Em "Por Amor" (Globo, 1997), viveu a babá Liza, após perder o papel de Flávia, amiga e depois rival de Helena (Regina Duarte), para Maria Zilda Bethlem por causa da idade. E ela conta mais uma bomba: na trama original, iria participar de um complô com Branca (Susana Vieira) e depois morrer.

Como os rumos da história mudaram, a personagem dela acabou perdendo o destaque. Porém, o autor deu um presente para compensá-la. "Acabou na mão dela a descoberta de que os bebês haviam sido trocados", lembra.

Já em "O Beijo do Vampiro" (Globo, 2002-2003), de Antônio Calmon, ela fez par romântico com Eduardo Galvão. "A gente parou o estúdio dando gargalhada", lembra. "Era um inferno ter que seduzir o Galvão."

Após diversas outras participações em novelas da Globo, ela fez a série "Sem Volta", exibida pela Record em 2017. Isso levou a um convite para participar de "O Rico e o Lázaro" e, posteriormente, para participar do teste para viver Maria na novela "Jesus" (2018), ambas da Record.

"Minha mãe, que é muito devota de Maria, tinha acabado de ter um AVC", lembra. "Quando entrei no estúdio, fiquei toda arrepiada, senti que o papel era meu."

"Foi a minha primeira personagem nesse lugar, com esse crédito tão importante", comemora. "É um personagem lindo e da maior responsabilidade. O que eu mais gostei foi que o texto trazia a coisa do feminino, a força dessas mulheres daquela época."