Sacrifício de crianças para ir à escola comove chineses
No vilarejo de Atuleer, na província de Sichuan, no sudoeste da China, crianças de seis anos arriscam suas vidas ao subir uma escada de bambu de 800 metros para atingir o topo de uma montanha apenas para voltar para casa depois da escola.
A escada de madeira é o único meio de acesso à comunidade remota, formada por 72 famílias. As 15 crianças têm que fazer a perigosa viagem, do internato para casa, duas vezes por semana.
Fotos dramáticas mostram as crianças carregando suas mochilas coloridas ao subir a escada precária presa a uma face íngreme do penhasco.
Chen Jie, um fotógrafo chinês premiado que viajou à aldeia para capturar as imagens, falou de suas impressões sobre os moradores em sua conta no Weibo, a plataforma chinesa equivalente ao Twitter.
"A virtude deles merece todo o nosso respeito. Eles arriscam suas vidas para buscar os hóspedes que vêm à vila, não importando o motivo da visita", escreve Chen.
O artigo original, publicado pelo jornal em língua chinesa "Beijing Times" na última semana, recebeu mais de 280 mil comentários de leitores chineses.
Muitos deles demonstraram simpatia pelas pequenas crianças e a comunidade. Outros culparam o governo por não colocar recursos suficientes no desenvolvimento da zona rural.
Críticas on-line contra o governo
Muitos leitores criticaram a grande soma de dinheiro que o governo chinês gasta em investimentos estrangeiros, especialmente em projetos de infraestrutura na África, ignorando os problemas internos.
"Crianças, o seu país não tem dinheiro porque todo ele está sendo usado para construir casas, organizar eventos esportivos e em caridade na África", disse um leitor.
"Se nós pudéssemos usar 1% do dinheiro gasto com a Venezuela, nós poderíamos construir uma estrada para eles", afirmou outro leitor.
Outras pessoas fizeram críticas à corrupção no setor público.
"Muito dinheiro tem ido para funcionários corruptos. Se pudéssemos pegar apenas uma parte dele, isso seria suficiente para construir uma escada mais segura", afirmou um leitor.
As fotos destacam a desigualdade na distribuição de riqueza na segunda maior economia do mundo e a grande disparidade de desenvolvimento entre as diferentes partes do país.
Mesmo cidadãos chineses estão intrigados com as condições em que os moradores vivem. Alguns leitores postaram perguntas cínicas e sarcásticas, afirmando que esta é a realidade do chamado "sonho chinês".
"Esta é a China. Por um lado, temos milionários e funcionários públicos corruptos. Por outro, temos cidadãos comuns vivendo na pobreza. Quando é que nós poderemos viver como as pessoas na Europa?", indagou outro leitor.
Resposta do governo
Parece que a atenção da mídia e as reações perante as fotos causaram impacto positivo. Na sexta-feira (27), a prefeitura de Liangshan, que governa a área, prometeu construir um conjunto de escadas como medida paliativa para garantir a segurança dos moradores.
"A questão mais importante é resolver o problema de transporte. Isso vai nos permitir fazer planos de maior escala sobre a abertura da economia e buscar oportunidades para o turismo", afirmou Jikejingsong, secretário-geral do Partido Comunista para o condado.
O jornal "The Global Times", que costuma atuar como porta-voz do governo chinês, também afirmou que na sexta-feira 50 funcionários dos departamentos de transporte, educação e proteção ambiental viajaram à região para avaliar alternativas mais seguras.
Mas um conjunto de escadas de aço seria uma solução viável? Muitos comentários no Weibo sugerem que, em vez disso, os moradores deveriam ser reassentados em uma área mais acessível e ter à disposição mais oportunidades de emprego.
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