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Marcelo Rezende atrapalha audiência de folhetins e é cobiçado por emissoras

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Comandante do programa policial "Cidade Alerta" (Record), Marcelo Rezende, 62, faz ao vivo quase 17 horas semanais. Segundo lugar no horário, o "Cidade Alerta" tem média de audiência de 11 pontos (cada um corresponde a 65 mil domicílios na Grande São Paulo). A marca atrapalha bastante o desempenho das novelas da Globo nas faixas das 18h e das 19h.

O programa é também um dos responsáveis pela vice-liderança mensal da Record. De olho nisso, Globo e SBT já assediaram o apresentador.

A Record, entretanto, renovou o contrato dele até 2020, com multa de R$ 25 milhões e a promessa de ainda mais horas no ar: o âncora pode ganhar um talk-show e migrar para o entretenimento.

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP
O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP

Ele tem dividido seu recorde diário no ar entre mundo-cão e brincadeiras. Mostra homicídios, sequestros e assaltos, mas também põe apelidos nos repórteres, debocha do figurino, faz graça com os câmeras. "Resolvi levar quem eu sou no dia a dia para dentro do programa. Amenizou o clima pesado", diz.

Em entrevista à Folha, Rezende fala sobre o assédio de espectadoras e decreta o fim do jornalismo de bancada.


Folha - Como você levou humor para o "Cidade Alerta"?

Marcelo Rezende - Não foi de caso pensado. Passo o dia brincando, não acredito em vida com seriedade. Um dia, fiz piada com o Percival [de Souza, comentarista]. A partir daí, ninguém mais viu o "Cidade Alerta" como policial, e sim como programa com entretenimento.

Não creio mais no jornalismo como é feito na TV. Noticiários com dois âncoras na bancada estão morrendo. Ninguém aguenta mais aquele formato engessado. Jornalismo é saber contar histórias. Todo repórter quer aparecer no vídeo, mas fala 20 segundos correndo e parece picolé no Alasca, de tão duro. Eu, minha avó e minha tia queremos ver contadores de história.

Mas o jornalismo na TV caminha para o coloquial, não?

Mas não é só fazer um âncora olhando para o outro dando risadinha. É muito mais que isso. Um dia chamei minhas repórteres e pedi que sentissem a história, que fossem mais humanas. Aí o "Cidade" passou a mostrar bons contadores de histórias.

As comissões de direitos humanos pegam no seu pé?

Não. Há comissões de direitos humanos fundamentais para a história do país, mas tem muita comissão fajuta. E há muita colher de chá para presos. Se eu não ficar indignado, para que servem as minhas 3h20min diárias na TV? Para dar cambalhota?

Você recebe ameaças de bandidos, de polícia, de autoridades? Não tem medo?

Estou vacinado. Minha pressão não sai de 12 por 8. Eu não acredito em ameaça. Quem vai fazer, faz e não fala.

Não ficou com medo da ameaça de um suposto integrante do PCC no "Domingo Legal" (SBT) até se descobrir que a entrevista era falsa?

Aquela história do Gugu era um somatório de bobagens. Fui criado na periferia, conheço bandido de berço. Aquele não era jeito de bandido falar nem de segurar uma arma. Matei na hora que era uma farsa. Eu estava na Rede TV! na época, abri o programa como a "Farsa do 'Domingo Legal'". O dono da emissora ligou dizendo que eu não podia fazer aquilo no ar, mas eu não estava nem aí.

Gugu trabalhou na Record. Nunca conversaram sobre?

Nunca o encontrei. Não sei se o Gugu é pigmeu ou gigante. Ele pediu desculpas no processo judicial que movi contra ele na época. Mas quando ele saiu da Record falei no ar que ele deveria seguir em paz. A vida não é para você carregar rancor.

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP
O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP

Você é campeão de cartas e e-mails com declarações de amor de telespectadoras?

Não respondo porque são muitas. Tem de tudo: convite para conhecer, para namorar, para casar, para sapecar, tem uns atrevidos... Quando eu soube, coloquei a foto do Rodrigo Faro [apresentador da Record] no ar e falei: "Mulher não gosta de homem igual a você, gosta de homem com cara de homem" (risos).

Você recebeu convites de trabalho da Globo e do SBT?

Não quero ser deselegante. Não vou falar sobre isso. Tenho um contrato em vigor até 2020. Até lá eu já morri. Tenho amigos na Globo, tento não ferir as pessoas.

Na renovação, a Record deu o aumento que te prometeu?

Não deram, me enganaram. Mas nunca vou com muita sede ao pote. É que nem mulher: você deixa claro o que pretende, mas não pode agarrar de cara. Outro dia fui jantar, e uma moça chegou com uma conversa comprida. Perguntei: "Essa conversa vai nos levar ao sexo?". Ela disse: "É capaz". Pensei: "Vou pular fora, é uma tarada".

Você tem rixa com o Datena [concorrente da Band]?

Não, adoro o Datenão. Ele às vezes me xinga, mas é maluco. No meu código penal ele entra no 13 (risos): maluco. Quando veio para a Record, eu disse: "Não vem que vai se estrepar!". Estava na cara, ele é rei na Band e faz o que quer. Não me ouviu e perdeu R$ 23 milhões (multa por quebra de contrato). Está pagando até hoje. [Procurado, Datena diz que Rezende é seu amigo e sempre o ajudou.]

O assédio do público aumentou muito?

Na época do "Linha Direta" (Globo), as pessoas tinham medo de mim. Era um programa tenso. Hoje não é mais assim. Outro dia fui jantar, veio um estilista pedir para tirar foto. Quando vi, tinha garçom, segurança, puta da rua, todo mundo na foto, virou uma zona. Hoje minha vida é bem mais divertida.

Você esconde sua família?

Não sou contra mostrar a vida, mas há coisas privadas, você não precisa abrir. Moro sozinho, sou separado, tenho cinco filhos. Não tenho muito para mostrar. Meu hobby é vinho, coleciono, não bebo tudo porque não dá vazão (risos). Não viajo muito. Só vou para Orlando com a minha caçula de 12 anos. Bati recorde de visitas à Disney. O Pato Donald quando me vê já toma Dramin, tá enjoado de mim.

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP
O apresentador Marcelo Rezende dá entrevista na sede da TV Record, em SP

O bordão "Corta pra mim" nasceu como?

Um diretor de TV não viu que eu estava fazendo sinal no ar para ele trazer a câmera para mim e gritei: "Corta para mim, porra!!!!!" O áudio estava aberto. As pessoas começaram a falar isso nas ruas. É uma boa para chamar, tanto que virou título do meu livro.

Tem pretensão de migrar para o entretenimento?

Não sou de fazer muitos planos. O Felipão fez um monte e olha só no que deu. Mas há, sim, na Record, uma ideia para que eu faça um programa de entretenimento, não sei ainda o que será.

Você fica incomodado com as imitações que fazem você?

Adoro. O [humorista] Pedro Manso me disse que a primeira casa que comprou foi às minhas custas e do Galvão [Bueno], por causa das imitações.

Na época da reportagem sobre a Favela Naval (1997) disseram que você conseguiu a fita com as imagens daquela blitz policial com um câmera e, depois, levou os louros sozinho. Foi assim mesmo?

A fita foi passada por uma pessoa com quem eu tinha feito uma reportagem. A pessoa estava se separando e, como ficamos alguns dias juntos, conversamos muito sobre separação. Eu já tinha me separado três vezes e contei os prós e contras. A pessoa ficou grata. Como trabalhava infiltrada no crime, obteve a fita e me ligou. Fui buscar. Eu e mais 12 companheiros da Globo, que escolhi, investigamos toda a história. Nunca soube do tal cinegrafista. Só soube quando ele apareceu. E por que falo "pessoa"? Jamais revelarei nem mesmo o sexo do informante. É a regra do jogo. Mas é uma pessoa importante no negócio dela.

A reportagem da Favela Naval foi a mais importante de sua carreira?

Sem dúvida nenhuma. Nós, meus companheiros e eu, atingimos o alvo certo: a reportagem mudou a lei da tortura. Tornou-se mais rigorosa. Vários PMs foram presos. Infelizmente, nesse mundo em que eles atuavam só se conhece uma lei: a lei do cão.

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