Dominada por mulheres nos últimos anos, a galeria de vilões da teledramaturgia brasileira já conta com um representante masculino de peso.

Malvado e sedutor, o policial Picasso (Vitor Hugo) tem movimentado diariamente a novela "Pecado Mortal" (Record).

"É uma figura que flertar com sentimentos vis, de uma credibilidade e uma loucura imensas, que quer matar por desejo, por amor e por ciúme", diz o intérprete sobre papel ao "F5".

Após uma sequência de papéis nas minisséries bíblicas da Record —"José do Egito", "Rei Davi" e "A História de Ester"—, Vitor foi convidado pelo autor Carlos Lombardi para integrar o folhetim.

Eles já haviam trabalhado juntos em "Perigosas Peruas" (Globo), de 1992.

"O convite é fruto de 26 anos de trabalho, lavrando minha terra, com meu desejo e suor. Alguma hora ia chegar", filosofa, que teve 45 dias para mergulhar no personagem.

Seu processo, diz, foi construído de fora para dentro. "Aboli o texto, tratei de me fazer mais bronco. Sou uma figura afeita à poesia, à música clássica. Sou muito diferente desse cara."

Sem consultar a rede do bispo Edir Macedo, ele intensificou a musculação, se matriculou em um curso de tiro e iniciou aulas de MMA.

No primeiro dia de luta, destroncou o pulso ao esmurrar um saco de areia. "São 37 anos escrevendo poesia, nunca usei a mão para isso", explica.

Também usou a figura do coringa do baralho como referência.

"O Picasso entra em todos os núcleos da novela, da delegacia aos clubes, luta contra os bicheiros. Construi um baralho de 14 cartas com imagens de coringas. O apelido dele não é à toa. Tem a questão do trocadilho de ele ser um cara bem dotado, mas também veio da tela "O Ator", de Pablo Picasso, que retrata um joker, um coringa."

OBSESSIVO

Sobre a obsessão de seu personagem pelo meio-irmão Carlão (Fernando Pavão), protagonista de "Pecador Mortal", Vitor Hugo tem uma teoria ousada.

"Às vezes falam que ele é bicha, que tem inveja. É um flerte entre tudo isso. Na minha cabeça, é uma questão vinculada ao afeto que ele não teve", diz.

Picasso descobriu ser filho do bicheiro Michelli (Luiz Guilherme), mas cresceu num orfanato, após a morte da mãe. "O que intriga o Picasso em relação ao Carlão é o fato de eles serem tão parecidos, ambos conseguirem tudo o que querem, mas um ser feliz e outro não."

AUDIÊNCIA E SUCESSO

O fato de "Pecado Mortal" estar bem abaixo das pretensões de audiência da Record, com médias entre 4 e 6 pontos no ibope —cada ponto equivale a 65 mil domicílios na Grande São Paulo—, não é uma preocupação, afirma "Vitor Hugo.

"É curioso. A grande audiência da novela é não receber nenhuma crítica negativa. Ou a imprensa se calando porque não pode falar bem. A repercussão da rua é sempre positiva", diz.

"É claro que a questão dos número traz um interesse comercial, traz o anunciante, mas não é critério para determinar o sucesso. Se colocar um filme com mulher pelada, a audiência vai para cima", argumenta.

Ele rechaça a ideia de um preconceito do público pelas tramas da Record.

"Não sei se é preconceito, é questão de hábito. Saio para jantar fora e todos os restaurantes estão ligados na Globo. É um trabalho empresarial construído há 40 anos."

Com contrato com a Record até 2017, afirma não ter recebido convites para mudar de emissora.

Também diz não vislumbrar um retorno à Globo, fizeram Gabriel Braga Nunes, Vanessa Gerbelli e muitos outros.

"Eu sou um ator e estou muito feliz de poder estar em uma casa que me concede o tipo de espaço que está tenho, que me desafia. Não sei se estão olhando em mim em outro lugar, mas fico mais feliz por estar sendo olhado onde estou."

Depois de "Pecado Mortal", pretende montar a peça "Otelo", de William Shakespeare. Será dirigido por Roberto Bomtempo, que foi seu primeiro diretor nos palcos, em "Capitães de Areia" (1992).

Vitor Hugo —que teve um namoro adolescente com Carolina Dieckmann— também se prepara para ser pai de seu terceiro filho.

A menina Valentina, prevista para junho, vai completar a família que conta com Sofia, 9, e Nicolau, 7, ao lado da mulher, Renata Graça Aranha, com quem está há 11 anos.