A série "Girls" começa com Hannah Horvath (Lena Dunham) tentando descobrir por quanto tempo mais pode continuar morando em Nova York agora que seus pais cortaram sua ajuda financeira. "Calculo que eu possa sobreviver... por mais três dias", ela pondera. "Talvez até sete, se eu não almoçar."

Melhor avisar, para não estragar a surpresa de quem ainda não assistiu: ela consegue se manter na cidade por um pouco mais que uma semana -o que é excelente, porque Nova York é parte tão importante da trama de "Girls" quanto o egocentrismo dos personagens e o sexo desajeitado.

O drama cômico sobre um grupo de jovens na casa dos 20 anos parece estar seguindo o caminho da sofisticada "Sex and the City". Uma agência de turismo astuta já está preparando um tour em ônibus aos locais mais importantes da série.

Mas enquanto Carrie e suas amigas se divertiam em Manhattan usando saltos altíssimos, Hannah vive em Greenpoint, Brooklyn, dividindo com colegas um apartamento de paredes finas e uma geladeira que já viveu dias melhores.

As meninas de "Girls" amam Nova York pelo que a cidade é: suja, cara e absurdamente divertida.

Estou em Greenpoint, na escadaria de um prédio em India Street que é usado como locação para as externas do apartamento de Hannah.

No primeiro episódio da segunda temporada, Hannah tranca o namorado de seu colega de apartamento do lado de fora do edifício, e eles sentam para conversar nesses mesmos degraus.

Livrarias e sebos
Greenpoint também abriga o Café Grumpy (cafegrumpy.com), o café no qual Hannah trabalha por um breve período. Fica a dois quarteirões do edifício, e, do lado de dentro, jovens na casa dos 20 anos, todos bem vestidos, digitam silenciosamente em seus MacBooks.

É fácil imaginar que eles também estejam enviando e-mails aos pais, pedindo dinheiro para que possam terminar um primeiro -e certamente brilhante- romance.

As obras-primas nascentes sem dúvida terminarão à venda em livrarias localizadas a alguns minutos ao sul de Greenpoint, em Williamsburg.

O bairro, que no passado recente era um epicentro "hipster", agora ostenta um hotel de luxo e uma loja da cadeia Duane Reed.

Mas nem tudo está perdido. Ainda há compras exóticas para fazer, e a Bedford Avenue e arredores merecem um dia de visita detalhada.

A personagem interpretada por Dunham escreve e, por isso, ela deve ter passado horas folheando os livros à venda por aqui. O Book Thug Nation (bookthugnation.com), um acolhedor sebo de grande porte, vende fanzines locais e oferece uma seleção impecável de livros de bolso amarelados.

Dobrando a esquina, fica a Spoonbill & Sugartown (spoonbillbooks.com), uma de minhas livrarias favoritas em todo o mundo, que aparece na segunda temporada da série quando Hannah e Sandy -seu ex-namorado, interpretado por Donald Glover- batem papo diante das estantes de revistas de arte.

É um refúgio para pessoas que odeiam a ideia de um Kindle. O gato da livraria dorme em cima dos livros. O vendedor é amistoso e conversa animadamente sobre obras favoritas e recomendações.

A alguns quarteirões, um anúncio da série "Girls" decora parte do edifício que abriga a Beacon's Closet (beaconscloset.com) com uma imagem gigante do rosto de Dunham. Uma das cenas da série foi gravada nesse famoso brechó, mas terminou cortada na edição final.

Cerveja e uísque
Começamos por Bushwick, onde fica o armazém da rave em que Shoshanna acidentalmente fica chapada com uma tragada de crack e sai correndo pela rua nua da cintura para baixo.

O jantar nos leva ao Roberta's (robertaspizza.com), pizzaria cuja entrada é protegida por uma discreta cortina preta. A comida é excelente e vale a espera inevitável por uma mesa, já que o lugar não aceita reservas.

Para o drinque final depois da comida, escolhemos o Bushwick Country Club (bushwickcountryclub.com), um bar tosco que ironiza as pretensões de seu nome, para experimentar o infame "pickleback", que consiste em uma dose de uísque puro, acompanhada por uma dose de suco de picles, tudo isso seguido por uma lata bem gelada de cerveja Pabst Blue Ribbon -e por uma inevitável dor de cabeça (não é bebida para os cautelosos.)

Já que não há lugar para dançar no bar, voltamos a Williamsburg e ao Brooklyn Bowl (brooklynbowl.com), uma mistura de armazém com casa de boliche, que também oferece DJs, DJs de vídeos (fenômeno completamente incompreensível) e música ao vivo e serve doses generosas até a madrugada. Apesar da vista embaçada, vou encontrando Jessas, Marnies, Adams e Charlies entre os presentes.

Tradução de PAULO MIGLIACCI