Artistas criticam britânico que perderá a virgindade em performance
"Quero ver como vai ser feito. Tem que ver se vai durar um minuto, um dia, se vai ter conversa, como vai ser o ritmo, se vai ter amor, se não vai ter, se vai ter um contrato", diz a artista Vivian Caccuri sobre a performance de Clayton Pettet, o estudante de arte britânico que anunciou que perderá a virgindade anal diante de uma plateia de cem pessoas em Londres no ano que vem. "Entre essa coisa do cara perder a virgindade e como isso vai acontecer tem uma grande distância."
É talvez a distância que separa uma obra de arte de mais um episódio "feito para ser meme de internet", nas palavras de Caccuri. Ela é uma das artistas que participa nesta semana da nona edição do já tradicional festival Verbo, que a galeria Vermelho dedica só à performance.
Gênero que teve seu auge nos anos 1970, com ações que chocaram ao testar os limites do corpo, como o tiro que o norte-americano Chris Burden mandou disparar contra o próprio braço, e a sérvia Marina Abramovic, que se automutilou numa série de ações, esse campo voltou a virar alvo de certa euforia midiática com anúncios como o de Pettet e um crescente flerte com a indústria do entretenimento.
Aquela Abramovic dos tempos áureos, por exemplo, vem se associando agora ao rapper Jay Z e à estrela pop Lady Gaga em atos promocionais, enquanto Hollywood tenta canibalizar o poder de choque dessa linguagem artística.
Felipe Bittencourt, outro artista escalado para a Verbo, prepara uma ação polêmica para a mostra --ele vai agredir um urso de pelúcia e repetir as mesmas agressões contra o próprio corpo, criando o que chama de "angústia antecipada" na plateia, já que ao longo da ação fica evidente que por mais violento que ele seja com o bicho de pelúcia, mais doída será sua espécie de autoflagelação.
Mesmo adepto da dor e da controvérsia, Bittencourt também tem dúvidas sobre a ação do estudante britânico. "A ideia é um pouco datada. Desde as ações sexuais de Marina Abramovic e Vito Acconci até atos do Greenpeace e shows com casais que fazem sexo no palco, isso já existe", diz o artista. "Só não estava inserido no campo da arte. Essa é uma proposta de inserção, mas tem grande potencial para ser uma coisa boa ou uma grande merda."
Outro performer da Verbo, Felipe Cidade, chama de "fraca" e "egoica" a proposta de Clayton Pettet. "É um trabalho que já é pobre no conceito", diz Cidade. "Ele poderia fazer muitos questionamentos com uma ação como essa, mas ele não faz. Ele não está só falando de sexo, mas de virgindade, desse mito em torno da virgindade. Mas o trabalho não aborda isso, é muito fraco."
Desde que seu anúncio bombou nas redes sociais, o jovem artista britânico vem recebendo ataques e alguns elogios no circuito artístico. Em seu Tumblr, ele postou um vídeo em que aparece dando uma entrevista sobre seu projeto de performance, dizendo que sua ideia é "destruir" sua virgindade. Quanto as consequências do ato, ele também disse que se sentirá "submerso" logo após a performance.
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