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Sem paternalismo, diretor investe em ator 'fora do padrão'

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"Só uma das mãos não faz o aplauso, só uma boca jamais fará o beijo. Todos juntos, sim, podem formar a imensa risada, que quando for realmente enorme, Deus vai ouvir e nunca mais vai se sentir sozinho."

É no espírito da poesia de Oswaldo Montenegro que o irmão caçula do cantor, Deto, dirige a diversidade na escola de teatro "Oficina dos Menestreis".

O espaço tem o mesmo número de turmas de alunos "convencionais" que de alunos "fora do padrão" comum.

Crédito: Gabo Morales/Folhapress O diretor e ator Deto Montenegro (de azul-claro) com alunos no teatro Dias Gomes, na zona sul
O diretor e ator Deto Montenegro (de azul-claro) com alunos no teatro Dias Gomes, na zona sul de São Paulo

São cadeirantes, cegos, pessoas com síndrome de Down, idosos e, há mais de um mês, iniciou-se um grupo com autistas. Todos com temporadas disputadas de apresentações no teatro Dias Gomes (zona sul de São Paulo).

"A história começou em 2003, quando vi uma moça cadeirante em meio ao Carnaval do Rio, linda, sorridente. Na hora propus a ela para fazermos uma turma só de cadeirantes, que deu muito certo", diz Deto Montenegro, 49.

O espaço artístico, afirma o diretor, não é campo de terapias ou assistencialismo.

"Não faço paternalismo. Para subir ao palco, as pessoas precisam ter o que oferecer. É delicado tratar com a diversidade, mas tenho de ter o controle. Tenho muito orgulho de dirigir cego, cadeirante, down, porém, não abro mão da qualidade artística."

Há 21 anos em São Paulo, Deto é carioca, pai de dois filhos e não teve história ligada a causas sociais.

"O segredo de dar certo é o respeito às diferenças entre as pessoas e encontrar o charme que elas possuem. É difícil ter em um aluno regular a espontaneidade de um aluno com down, a carinha de ternura dele. E por aí vai."

A formação do diretor veio do trabalho ao lado do irmão, desde os 18 anos, em shows teatrais. Estreou em Brasília, ao lado de Cássia Eller e Zélia Duncan. Mais tarde, começou a dar aulas, mas, de acordo com Deto, sem compromisso profissional.

"Faço condicionamento artístico das pessoas. Não tenho a pretensão de formar um ator, mas sim de dar as pessoas a chance de desenvolver seu instinto para o teatro", afirma Deto.

SOCIABILIZAÇÃO

A dona de casa Ana Araújo acorda cedo aos domingos. Sai de Itapevi (Grande São Paulo) e pega trem e metrô para levar o filho André, 12, que tem autismo moderado, para fazer parte do grupo de teatro de Deto Montenegro.

"A ideia é excelente. Trabalha com a estima das pessoas e faz com que elas sejam percebidas pelos outros. Usar a arte para sociabilizar é muito interessante. Meu filho está amando", diz a mãe.

O projeto ainda é incipiente e é acompanhado pela psicóloga Tatiane Cristina Ribeiro, que atua com o público autista na USP e na Unifesp.

"Eles estão fazendo um curso que treina suas habilidades como a improvisação, os olhares, as expressões faciais. Não é uma terapia. No final eles serão outras pessoas, em alguma intensidade."

Diretor do grupo, Deto adota a mesma técnica de ensinar da dos outros alunos.

"Procuro trazê-los para o meu mundo, com humildade. Não tenho de dominar o autismo, preciso enquadrá-los no meu método. Todo humano tem seu lado artístico."

Autismo é um transtorno que afeta a sociabilidade, a comunicação e provoca interesse restrito de atenção.

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